O lítio está muito barato e pode baratear ainda mais
Em vez de reduzir a produção de lítio para equilibrar a desaceleração da demanda, as mineradoras procuraram superar a situação cortando custos e adiando novos projetos
O preço do lítio atinge mínimas de vários anos em um mercado inundado com o metal para baterias, e é pouco provável que tenha chegado ao fundo do poço.
A corrida para abrir novas minas para a transição da energia limpa, que deve precisar de muito lítio, deixou a produção global fora de sintonia com a demanda do mercado pequeno, mas em rápido crescimento.
As baterias de íons de lítio são essenciais para alimentar veículos elétricos, entre outras coisas, mas os consumidores não estão mudando de carros movidos a gasolina tão rapidamente quanto previam muitos investidores e executivos do setor de automóveis.
Em vez de reduzir a produção de lítio para equilibrar a desaceleração da demanda, as mineradoras procuraram superar a situação cortando custos e adiando novos projetos.
Esta semana, o preço do lítio acompanhado de perto pela Benchmark Mineral Intelligence atingiu seu nível mais baixo desde que a empresa de dados de mercado começou a publicar preços semanais no início de 2023.
Esse preço spot, o do carbonato de lítio da Ásia, caiu para US$ 12.500 a tonelada, uma queda de 3,8% em relação à semana anterior. Um ano atrás, era de US$ 43 mil a tonelada — o que na época parecia uma pechincha para alguns em relação a janeiro de 2023, quando alcançou US$ 76 mil a tonelada.
Outros preços de referência mostram o mercado em uma baixa de três anos.
O agravamento da queda do lítio segue um boom de dois anos que levou a commodity pouco conhecida a preços recordes e alimentou novos investimentos em mineração.
A retração é uma vitória para consumidores e montadoras, reduzindo o custo das baterias. Para as mineradoras, nem tanto.
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“Está muito, muito difícil”, disse Tony Ottaviano, executivo-chefe da Liontown Resources, empresa australiana de lítio.
Para empresas como a Liontown, as coisas podem piorar antes de melhorar.
Os estoques de lítio na China, que domina o refino da commodity, além da fabricação de células de bateria, estão inchados e o excesso vai aumentando. Analistas do Citi preveem um aumento de 14% na demanda global de lítio este ano, mas um aumento de 18% na oferta.
Na província chinesa de Qinghai, onde os produtores extraem lítio de lagos salgados, a produção está experimentando um impulso sazonal, aumentando a pressão sobre os preços. As taxas de evaporação nos lagos salgados são mais favoráveis durante os meses mais quentes, explicou Daisy Jennings-Gray, chefe de preços da Benchmark Mineral Intelligence.
No oeste da Austrália, a nova mina da Liontown deve começar a produzir uma forma bruta de lítio, chamada espodumênio, até o final deste mês.
Os compradores querem diversas fontes de fornecimento, disse Ottaviano, da Liontown, já que a mineradora fechou um acordo no início desta semana com a fabricante de baterias LG Energy Solution para considerar o desenvolvimento conjunto de uma refinaria para a produção de lítio para baterias. A guerra, a pandemia e as tensões entre o Ocidente e a China expuseram a fragilidade das cadeias de suprimentos nos últimos anos.
Muitas empresas de lítio já têm acordos de fornecimento com produtores de baterias ou montadoras. A Liontown tem acordos de venda em vigor com a Tesla e a Ford, além da LG Energy Solution.
Ainda assim, a inflação, as taxas de juros mais altas e a hesitação em relação a certos aspectos de possuir um carro elétrico — como, por exemplo, o acesso a estações de carregamento — diminuíram as expectativas de venda desses veículos, principalmente nos EUA e na Europa, afirmam analistas. Os analistas do setor automobilístico do Citi rebaixaram suas previsões de adoção de veículos elétricos duas vezes nos últimos nove meses.
Algumas empresas de lítio estão começando a sentir o aperto, disse Jennings-Gray.
A Lake Resources, pequena mineradora na Austrália, disse na segunda-feira (1) que precisará reduzir significativamente os custos e tentar vender alguns de seus ativos nas províncias argentinas de Jujuy e Catamarca, ricas em lítio. Um plano para encontrar um parceiro para seu principal projeto de lítio provavelmente levará mais tempo do que o esperado por causa do mal-estar do mercado, disse a empresa.
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Várias outras empresas, incluindo a Albemarle, com sede em Charlotte, na Carolina do Norte, já anunciaram demissões e atrasos nos investimentos.
Os analistas estão apostando que um período de preços ainda mais baixos se aproxima — uma necessidade para reequilibrar o mercado, afirmam eles.
Os analistas do Citi estimam que os futuros do lítio podem cair mais 15% a 20%. O preço podem se recuperar já no ano que vem, especialmente se a confiança nos carros elétricos melhorar novamente, acrescentaram.
Uma nova baixa do preço do lítio certamente está mais próxima, disseram analistas do Morgan Stanley em nota aos clientes esta semana. “Mas ainda não chegamos lá.”
Escreva para Rhiannon Hoyle em [email protected]
traduzido do inglês por investnews