Lucinda Pinto – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Tue, 03 Dec 2024 20:42:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico Lucinda Pinto – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 Na solução para Braskem, pressa fala mais alto e bancos já aceitam manter Novonor no negócio, dizem fontes https://investnews.com.br/negocios/na-solucao-para-braskem-pressa-fala-mais-alto-e-bancos-ja-aceitam-manter-novonor-no-negocio-dizem-fontes/ Tue, 03 Dec 2024 20:42:19 +0000 https://investnews.com.br/?p=635584 A solução para o impasse envolvendo a venda da Braskem pode estar perto de ser concretizada. Segundo fontes próximas às negociações ouvidas pelo InvestNews, todos os envolvidos  – NovonorPetrobras (controladores da companhia) e os cinco bancos credores – estão de acordo com a proposta que está sobre a mesa: a conversão da dívida da Novonor com os bancos em ações, e a transferência desses papéis para um fundo.

Como antecipou o InvestNews, a ideia é transformar os bancos credores – ItaúBradescoSantanderBanco do Brasil BNDES – em co-controladores da Braskem. Ou seja, eles passariam a ser os donos das ações da Braskem que pertencem à Novonor e que foram dadas aos bancos como garantia de uma dívida estimada em R$ 15 bilhões, contraída entre 2014 e 2019. As ações dos cinco bancos, então, seriam transferidas para um fundo, que terá um gestor independente.

A Novonor ficaria com uma participação pequena, inferior a 5%, em uma espécie de concessão por parte dos bancos para que a empresa da família Odebrecht assine o contrato. Segundo fontes que acompanham as negociações, as instituições financeiras estavam bastante relutantes em aceitar a Novonor na sociedade. Mas, agora, parece que a pressa falou mais alto. “Ninguém aguenta mais falar de Braskem”, define um interlocutor.

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A solução em negociação foi proposta pelos próprios bancos, exatamente para agilizar o processo. Isso porque, nesse formato, não será preciso encontrar um comprador para a fatia que hoje pertence à Novonor. Assim, os bancos poderão se desfazer de sua participação de forma pulverizada. E escolher o melhor momento para vender os papéis.

A estrutura negociada é semelhante à adotada para a reestruturação da companhia de saneamento Iguá. Em 2017, o Grupo Galvão Participações transferiu suas ações na companhia para um fundo que passou a ser gerido pela IG4 Capital. Na ocasião, os sócios da gestora injetaram recursos para o FIP comprar uma dívida do Bradesco no valor de R$ 186 milhões, convertida em equity pelo valor de face.

Para que a estratégia funcione, será preciso definir regras de lockup (bloqueio), como um prazo mínimo para que os cotistas desse fundo possam vender as ações no mercado. E esse é um dos aspectos que estão sendo analisados.

Ainda segundo as fontes, por causa do acordo de acionistas da Braskem, a Petrobras precisa aprovar a operação. E a petroleira já teria sinalizado estar de acordo. O desafio agora, além das regras de lockup, é definir o “valor justo” das ações que serão colocadas no fundo – que não necessariamente equivale ao preço praticado pelo mercado.

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A Petrobras é dona de 36,1% do capital total da Braskem. Outros 25,6% estão pulverizados no mercado. Já a Novonor é a acionista majoritária, com uma fatia de 38,3% do capital total. Só que, em meio à crise  deflagrada pela Operação Lava Jato, a ex-Odebrecht deixou todas essas ações nas mãos dos cinco bancos, como garantia de sua dívida. É essa fatia que está, há anos, em discussão.

Disputa de longa data

Grandes companhias, tanto brasileiras como estrangeiras, já manifestaram interesse em comprar o controle da Braskem. Somente em 2023, a companhia recebeu ofertas da petroquímica Unipar, do grupo J&F e da Adnoc, estatal do setor de petróleo dos Emirados Árabes. O que inviabilizou o avanço das conversas foi, segundo fontes, uma certa intransigência por parte dos bancos em relação ao preço oferecido.

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A questão é que a dívida da Novonor com os bancos é de cerca de R$ 15 bilhões, mais do que o valor de mercado (número de ações da companhia multiplicado pelo valor negociado hoje na bolsa) da Braskem, de pouco mais de R$ 12 bilhões. Além da demora na venda, o que vem prejudicando a companhia é o momento negativo que o setor petroquímico enfrenta globalmente.

Mas o que mais pesa hoje sobre a empresa é a pressão por parte do governo de Alagoas por causa do desastre ambiental em Maceió. A empresa já desembolsou cerca de R$ 4,4 bilhões em indenizações, e existe o risco de novas cobranças.

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Em encontro com Galípolo, empresários criticam fiscal e juros: “Estamos ferrados” https://investnews.com.br/economia/em-encontro-com-galipolo-empresarios-criticam-fiscal-e-juros-estamos-ferrados/ Fri, 29 Nov 2024 01:53:46 +0000 https://investnews.com.br/?p=634360
O diretor do BC, Gabriel Galípolo, fala durante evento da Esfera Brasil, promovido por João Camargo

No dia em que o pacote de medidas fiscais fez os mercados financeiros tremerem, o futuro presidente do Banco Central e atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, se reuniu com um grupo de empresários de peso em São Paulo. E, como não podia deixar de ser, ouviu críticas – e uma espécie de desabafo – dos representantes de algumas das maiores corporações do país.

“Estamos ferrados”, disse Rubens Ometto, do grupo Cosan. O empresário já havia assumido no começo deste ano um tom bastante crítico à política fiscal – especialmente ao esforço arrecadatório do governo. E nesta quinta-feira (28), ele repetiu a dose. Disse que o aumento dos juros, provocado pelo nó fiscal, vai desencorajar os investimentos, inclusive os voltados para a infraestrutura – amplamente aguardados pelo governo.

“O empresário que investir dinheiro com esses juros vai quebrar. Isso vai gerar uma inflação de demanda, porque não vai ter produto.”

Rubens Ometto

O encontro com Galípolo foi promovido pela Esfera Brasil, e reuniu aproximadamente 50 empresários na casa de João Camargo, presidente da organização. Além de Ometto, compareceram nomes como Joesley Batista (J&F), Fabio Ermínio de Moraes (Votorantim Cimentos), Eugênio Mattar (Localiza), Carlos Jereissati (Iguatemi), Rui Chammas (ISA Energia) e André Esteves (BTG).

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A data para o jantar na casa de João Camargo já estava reservada há algumas semanas. Mas só foi confirmada na agenda do BC na quarta-feira, o dia do anúncio do pacote. E, dada a reação do mercado às medidas, o comparecimento de Galípolo foi quase um ato de coragem. Além da chuva torrencial que tornou ainda mais complicado o acesso ao bairro do Morumbi, local do evento, o diretor do BC, um dos quatro indicados pelo presidente Lula, teve de enfrentar uma plateia bastante descontente com as medidas anunciadas pelo governo. E, principalmente, com a reação dos ativos financeiros ao pacote. 

Foram muitas as reclamações sobre o nível dos juros. Uma delas veio de Rubens Menin, presidente da MRV, uma das líderes do mercado de construção de moradias populares. “As empresas têm um limite para aguentar [o juro alto]”, disse.

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O diretor do BC também foi instado a dar sua opinião sobre as medidas do governo e a reação do mercado. E também questionado sobre o grau de liberdade, ou autonomia, que o BC terá para responder a tudo isso – uma verdadeira saia justa para quem foi recém indicado para comandar o BC pelo presidente Lula.

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Galípolo não saiu do script. Bem humorado e recorrendo a algumas das metáforas que já viraram sua marca registrada, o diretor afirmou repetidamente que seu compromisso é cumprir a meta de inflação. Disse que o papel do BC é administrar o remédio amargo ao paciente, mas que é preciso simultaneamente identificar as causas da doença (inflação).

“A gente quer conviver com doses cavalares por décadas? Ou devemos tratar dos causadores da doença?”, afirmou. Mas em nenhum momento ele citou a política fiscal como sendo uma dessas causas

Galípolo se ateve ao discurso  que já vem sendo dito há semanas por ele e por outros integrantes do BC: a economia está  aquecida, e o mercado de trabalho, aquecido. A atividade cresce acima do equilíbrio. Com tudo isso, “é lógico supor que você vai precisar de uma taxa de juros mais contracionista para o mesmo impulso fiscal”, afirmou.

Mas o diretor do BC fez uma pequena concessão. Sem mencionar diretamente o pacote anunciado na quarta-feira (27) ou o impacto dele sobre o mercado, fez uma rápida defesa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Eu tenho convicção do empenho do meu amigo Fernando Haddad em endereçar esses temas. E se o Fernando se convence de que aquilo é certo para a sociedade, ele compra a briga e vai até o fim.”

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Profecia autorrealizável: como o anúncio do pacote fiscal já começou a afetar a sua vida https://investnews.com.br/economia/profecia-autorrealizavel-como-o-anuncio-pacote-fiscal-ja-comecou-a-afetar-a-sua-vida/ Thu, 28 Nov 2024 20:16:39 +0000 https://investnews.com.br/?p=634124 Os alunos do personal trainer Rodrigo Julião (nome fictício) foram surpreendidos com uma mensagem que chegou via WhatsApp na manhã desta quinta-feira (28):  a partir de janeiro, fazer os treinos personalizados vai custar de 8% a 10% mais caro. O que embasou esse cálculo de reajuste, segundo Julião, foi o nível atual da taxa Selic e a inflação acumulada no período (só pra não deixar dúvida: o IPCA, o índice oficial de inflação do país, sobe 3,88% no ano até outubro, e 4,72% no acumulado nos últimos 12 meses.)

A decisão de Julião de subir seu preço – e, sobretudo, a forma como ele fez o cálculo, com base na Selic, que não representa um custo direto na sua atividade – ilustra muito bem algo que o Banco Central vem repetindo há muito tempo: a piora das expectativas pode provocar mais inflação. E é exatamente o que explica a reação do mercado financeiro ao pacote fiscal anunciado pelo governo.

Um smartphone está sendo segurado por uma mão, exibindo um comunicado de reajuste de preços da RJ Personal Trainer na tela.
Imagem de aviso recebido no celular sobre reajuste nos preços de serviços de personal trainer.

Quando os agentes econômicos – que nada mais são do que os empresários, empregados, prestadores de serviço, consumidores e investidores – começam a ver uma piora do cenário econômico, eles vão reagir subindo os preços, deixando de comprar ou adiando investimentos. E aquilo que era apenas um risco acaba virando um problema concreto: mais inflação e menos crescimento econômico. Tipo profecia autorrealizável.

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Quer ver outro exemplo? O motorista de aplicativo João Ribeiro (nome fictício), ficou assustado quando viu a cotação do dólar bater os R$ 6,00 no day after ao anúncio das medidas fiscais anunciadas pelo governo. E decidiu postergar a decisão de comprar um celular novo para a esposa como presente de Natal. Sua intenção era importar o aparelho. E, bem na semana da Black Friday, ele achou mais prudente guardar o dinheiro.

O poder das expectativas

São as pequenas decisões que pessoas físicas e empresas tomam no dia a dia que definem o rumo da economia do país. E essas escolhas nem sempre são objetivas, calculadas em cima de números. Elas resultam também do nível de confiança – ou de insegurança – naquilo que elas enxergam para o futuro.

O potencial do problema fica ainda maior se a gente pensar que as empresas – as pequenas e as grandes – também reagem em cima de expectativas. A IDB do Brasil, trading que trabalha com importação de insumos para as indústrias química, de metal-mecânica e construção civil, viu seus clientes entrarem em uma postura de “compasso de espera” e adiarem fechamentos de contratos nas últimas semanas. Isso por causa da expectativa pelo anúncio do pacote fiscal do governo.

O CEO da IDB, Erick Isoppo, explica que a alta do dólar prejudica o importador. Portanto, quem conseguiu empurrou pra frente a decisão de comprar produtos do exterior, à espera de alguma boa notícia que melhorasse o câmbio.

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“Vimos os importadores jogarem os negócios pra frente, na esperança de que as coisas poderiam melhorar. Mas chega um momento em que eles têm de fechar o contrato. Mas eles vão continuar importando, caro ou não, porque esse custo mais alto do dólar acaba sendo repassado para o consumidor”, explica Isoppo. A IDB do Brasil, com sede em Criciúma, tem uma carteira de cerca de 150 clientes, localizados nos estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Nebulosidade

Mas por que as expectativas estão piorando, se o desemprego está baixo e os números mostram que a economia está crescendo? Porque muito desse crescimento está sendo sustentado por gasto do governo. E, para isso, o governo tem que arrecadar mais. Essa opção por aumentar a receita, em vez de conter os gastos, castiga as empresas e grande parte da população. E pode levar a um descontrole das contas públicas. Ingredientes perfeitos para baixo crescimento e inflação mais alta.

É isso que explica o fato do dólar ter chegado a R$ 6,00 nesta quinta-feira. E também a alta dos juros futuros, que passaram a projetar uma taxa Selic de 14,90% em 2025. O que está piorando as expectativas é que, na visão dos investidores, a forma como o governo apresentou seu pacote fiscal mostra um certo descompromisso em colocar as contas públicas em ordem. Mais gasto público pode virar inflação e, consequentemente, vai fazer a Selic subir no futuro. E aí, é aquela história: como ninguém quer pagar para ver, a ordem é comprar dólar e apostar em uma alta do juro, como forma de se proteger.

E, mais uma vez, o risco aqui é da tal profecia autorrealizável. Se o mercado enxerga que a Selic pode estar perto de 15% no ano que vem, o investidor que financia o governo vai querer receber um juro mais alto para comprar os títulos emitidos pelo Tesouro Nacional. E a conta é simples de entender: se você vê o seu credor gastando mais do que pode, vai ficar com receio de voltar a emprestar pra ele. E um jeito de dizer “não empresto mais” é subindo o juro que você vai cobrar. É mais ou menos isso que está acontecendo.

Para conseguir rolar a dívida mobiliária do governo – que hoje está em cerca R$ 7 trilhões –, o Tesouro tem dois caminhos: ou ele aceita pagar juros prefixados mais altos, ou ele vende títulos pós-fixados, que oscilam de acordo com a Selic. Nas duas situações, ele vai pagar mais caro.

E aqui tem um detalhe muito importante: se o juro realmente subir do jeito que o mercado está projetando, o custo da dívida vai disparar. É que hoje, a fatia de títulos pós-fixados está em R$ 3,2 trilhões. E a cada um ponto percentual a mais nessa conta, o custo anual dessa dívida sobe R$ 32 bilhões. Praticamente a metade do que o governo diz que deve economizar com o pacote anunciado.

Imagine com a Selic a 14%.

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Mais cosméticos e menos loja âncora: o CEO da Allos mostra o que é tendência nos shoppings https://investnews.com.br/negocios/passeio-no-shopping-ainda-e-bom-negocio/ Mon, 25 Nov 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=632629 Uma plataforma de entretenimento, lifestyle, serviços e compras. Essa é a maneira como a Allos, dona de shoppings como Eldorado, Villa-Lobos e Leblon, se apresenta. Mas também parece ser um bom jeito de definir como o setor, que movimenta R$ 125 bilhões no Brasil, se transformou nos últimos quatro anos. E ajuda a explicar o fato de que, mesmo com o crescimento do comércio eletrônico, o brasileiro continua frequentando as lojas dos shoppings.

“Lazer e conveniência passaram a ser a principal função do shopping. A compra é consequência”, explica Rafael Sales, CEO da Allos, empresa tem participação em 57 empreendimentos em todo o país, sendo onze administrados por ela, e é hoje a maior no setor em toda a América Latina. Mas não é só isso. O mix de lojas também está mudando – e muito. Quer um exemplo? As lojas de eletroeletrônicos, que já responderam por 15% das vendas totais dos shoppings da Allos, estão bem menores. E o que tem acontecido com as lojas-âncora, aquelas gigantes que eram anunciadas sempre que um novo shopping começava a ser construído?

As grandes lojas de eletrodomésticos, produtos para lar ou variedades estão dando lugar para lojas menores. Em parte, isso aconteceu de forma quase compulsória: grandes varejistas encolheram nesse período. Sales evita citar nomes, mas é sabido que varejistas com forte presença em shoppings, como Americanas e Casas Bahia, fecharam muitas lojas nos últimos dois anos.

Rafael Sales, CEO da Allos

A figura da “loja âncora” – aquela que costuma ficar em uma localização nobre, e que acaba garantindo maior movimento para o shopping – vai, portanto, perdendo espaço. Um caso recente, conta Sales, aconteceu em Belo Horizonte. Uma grande loja de eletroeletrônicos do Boulevard Shopping deu lugar para outros seis estabelecimentos. E, nessa renegociação, o aluguel total que a Allos vai receber será 50% maior do que se o espaço ficasse dedicado a uma única empresa.

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“O que está crescendo é o consumo de bens de menor valor individual, que não depende de crédito. Os produtos em que precisa haver um financiamento mais pesado vendem menos”, diz Sales.

Com essa transformação, as lojas de produtos eletroeletrônicos representam hoje cerca de 6% das vendas totais dos shoppings da Allos – em comparação com aquela fatia de cerca de 15% alguns anos atrás. Além do efeito do juro, que encarece as vendas a prazo, o e-commerce ganhou espaço nesse segmento. Manter lojas grandes – e caras – em shopping não parece um bom negócio. “As operações não precisam mais de áreas tão grandes como no passado”, diz.

Nessa troca, lojas de roupas e cosméticos vêm ganhando presença, juntamente com os restaurantes e os serviços, especialmente voltados para estética. Assim como faziam as lojas âncora no passado, esse tipo de serviço atrai os frequentadores, explica Sales. E contribui, assim, para aumentar a receita dos empreendimentos.

Um shopping, vários públicos

A Allos tem expandido para fora de São Paulo sua estratégia de atender públicos de diferentes perfis econômicos em um mesmo empreendimento. A ideia é criar clusters que reúnam lojas mais sofisticadas ou mais populares. Um exemplo clássico de onde esse tipo de organização já funciona é o shopping Eldorado, em São Paulo. Lá, funciona uma ampla praça de alimentação, com várias marcas de fast food. Mas também há uma área reservada com restaurantes para um público mais exigente.

Esse conceito, que funciona também para as lojas, está sendo replicado nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, que são diretamente beneficiadas pelo crescimento da riqueza vinda do agronegócio. E também dos programas de renda mínima – que acabam irrigando a economia local. São públicos diferentes e, portanto, é fundamental oferecer o “produto certo” para cada consumidor, diz Sales.

“A arte é ter dados, recursos de tecnologia, que nos permitem entender quem é o consumidor que estamos atendendo, e quais marcas se encaixam nos empreendimentos”, diz.

O desafio, nesse caso, é atrair marcas nacionais de alto padrão ou até mesmo as internacionais para cidades mais distantes do eixo Rio-São Paulo. Um caso bem-sucedido foi a inauguração das lojas da francesa Sephora, de cosméticos, nos shoppings de Belém, Cuiabá e Uberlândia. “A gente faz um trabalho de curadoria, mostra para os parceiros alguns mercados que eles não conhecem”, afirma.

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Em expansão

A Allos é fruto da integração de duas concorrentes – a Aliansce Sonae e a BR Malls –, em uma operação concretizada em 2023. Desse casamento, surgiu a maior empresa do setor de shoppings na América Latina: são 50 empreendimentos próprios no Brasil. A receita líquida da companhia em 2023 ficou em R$ 2,7 bilhões, 10,1% acima do ano anterior. Desse total 25% vêm dos shoppings de São Paulo, 25% do Rio e o restante está espalhado pelo país.

Contrariando previsões que foram feitas no auge da pandemia, o movimento nas mais de 15 mil lojas abrigadas por esses empreendimentos é crescente: no terceiro trimestre, as vendas totais dos shoppings da Allos avançaram 8% em relação ao mesmo período de 2023. E a venda por metro quadrado, que é uma métrica de produtividade do shopping, avançou 9%.

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Os planos da Allos para 2025 incluem a expansão das áreas de alguns shoppings, entre eles o Villa-Lobos, em São Paulo, o Dom Pedro, em Campinas (SP) e o Leblon, no Rio. Mas aquisições também continuam no radar. “A gente valoriza muito essa alternativa”, afirma.

Este ano, o noticiário sobre M&A no setor de shoppings ficou aquecido. A canadense Brookfield colocou à venda sua participação nos shoppings Pátio Higienópolis e Pátio Paulista, de 50,1% e 55,9%, respectivamente. A Allos não está no páreo para adquirir as participações. O Iguatemi assinou contrato de exclusividade para negociar a compra dos ativos. Segundo fontes ouvidos pelo InvestNews, a oferta foi de R$ 1,4 bilhão pela fatia do Paulista e de R$ 1,2 bilhão pelo Higienópolis.

Embora esteja preparando expansões e não descarte novas aquisições, a Allos também tem feito desinvestimentos. Este ano, foram duas transações: um pacote de posição minoritária em três shoppings (20% do Carioca Shopping, 10% do Shopping Tijuca, ambos no Rio, além de 9,9% do Plaza Sul Shopping, em São Paulo) e 50% do shopping Rio Anil, em São Luís (MA).

Essas operações ajudam a compor a geração de caixa da Allos, de cerca de R$ 2 bilhões por ano. Uma parte desses recursos é usada para pagamento de financiamentos assumidos, e o restante é reinvestido. Com o momento de mercado de ações mais fraco, a companhia destinou ainda cerca de R$ 800 milhões desses recursos para recomprar parte de suas ações. “O fato de termos um caixa elevado e estarmos conseguindo vender ativos a um valution melhor do que o preço que nossas ações são negociadas abre uma oportunidade de recompra”, explica.

Risco macro

Embora os negócios de shopping estejam indo bem, Sales é um dos executivos que fazem coro às críticas à política fiscal. “O governo não está dando uma visão clara sobre a priorização dos recursos públicos. E se o gasto público não for eficiente, vai gerar inflação”, diz. “Sou a favor do programa de renda mínima, mas a gente não pode ter um estado tão pesado assim.”

Outro ponto de atenção para os shoppings neste momento é o debate sobre o fim da escala de trabalho 6×1. Na visão de Sales, caso a proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP) de redução da jornada de trabalho seja aprovada, haverá “inflação na veia”. “É uma proposta que vai na contramão do que está acontecendo no resto do mundo”, diz. “O Brasil está longe de ser uma Dinamarca.”

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O que a CSN vê na InterCement para renovar (mais uma vez) acordo para compra da companhia https://investnews.com.br/negocios/o-que-a-csn-ve-na-intercement-para-renovar-mais-uma-vez-acordo-para-compra-da-companhia/ Thu, 21 Nov 2024 15:29:02 +0000 https://investnews.com.br/?p=631983 A CSN confirmou, em fato relevante, que renovou mais uma vez o acordo de exclusividade de negociação para a compra da InterCement, empresa do grupo Mover (ex-Camargo Correa). As conversas entre as duas companhias acontecem desde maio, mas estão travadas em um ponto específico: a definição do valor da dívida da cimenteira variável que determinará o tamanho do negócio. E, segundo fontes, o fechamento do negócio não deverá ocorrer tão brevemente quanto se imagina.

Conforme o InvestNews informou em julho, a CSN não tem pressa. Está disposta a esperar a negociação junto aos credores: Bradesco, Itaú e Banco do Brasil. Estima-se que a dívida da cimenteira junto aos três bancos some cerca de R$ 4,7 bilhões.

Na teleconferência para falar sobre o resultado da companhia, realizada na semana passada, o CEO da CSN, Benjamin Steinbruch, disse que a CSN Cimentos opera hoje praticamente com a capacidade de produção plena. E que o crescimento do segmento de construção de moradias populares tem tudo a ver com isso. A expectativa para 2025, segundo a CSN, é de que o PIB da construção civil cresça, pelo menos.

Ao mesmo tempo, são aguardados vários projetos de infraestrutura – como saneamento, estradas e transmissão de energia –  para o próximo ano. Até 2033, estão previstos pelo governo projetos que somam investimentos de R$ 1,6 trilhão. Tudo isso vai exigir muito cimento.

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“O cimento tem futuro certo no Brasil”, disse Steinbruch durante a apresentação dos resultados da companhia. “É um produto que está faltando, e só não vendemos mais porque falta capacidade de produção.”

No fato relevante enviado ao mercado, a CSN afirmou que o prazo de exclusividade será encerrado se, a qualquer momento, o plano de recuperação extrajudicial, executado em 16 de setembro de 2024 pela InterCement e certos credores, não estiver mais válido.

A CSN Cimentos fez uma oferta de R$ 10 bilhões pela InterCement, já assumindo uma dívida que a Mover tem com o Bradesco. Mas a InterCement quer um valor mais alto pelo seu portfólio de 15 fábricas no Brasil e outras nove na Argentina.

Outras ofertas

A companhia de Steinbruch tornou-se favorita para a aquisição pelo fato de poder absorver todos os ativos da InterCement sem a necessidade de recorrer a “remédios” mais fortes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segunda maior companhia do setor, com 20% do mercado, a CSN provavelmente não teria de se desfazer de ativos para integrar a concorrente. Isso tornaria o fechamento do negócio mais rápido.

Essa é a dificuldade vivida pela Votorantim Cimentos, que também chegou a namorar a InterCement. Líder do setor, com participação superior a 30% do mercado, segundo estimativas de analistas, a VC poderia ter a compra de 100% da InterCement barrada pelo Cade ou ser obrigada a abrir mão de alguns ativos para ficar com ela.

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Por causa dessa limitação, a Votorantim apresentou uma proposta pela InterCement em meados de fevereiro, mas somente por parte do portfólio. A oferta excluía, por exemplo, a compra de unidades de produção na Argentina. Isso esfriou o interesse inicial da Mover, que prefere vender todos os ativos em conjunto. 

No início deste ano, especulou-se no mercado outros interessados para além de Votorantim Cimentos e CSN. A italiana Buzzi Unicem, dona da Brennand, o grupo Polimix, dona da Cimento Mizu, e as chinesas Sinoma e Huaxin Cement – essa última comprou ativos da InterCement na África no ano passado – teriam buscado mais informações sobre o ativo. Nesses casos, a operação também poderia ocorrer de maneira mais célere.

Corrida pela bolsa

A compra da InterCement seria um movimento estratégico para as duas maiores cimenteiras do país, que medem forças pelo acesso à bolsa. As companhias já manifestaram o desejo de buscar uma listagem assim que as condições de mercado se tornem favoráveis.

No pitch aos investidores, soará muito melhor – e, consequentemente,  abrirá caminho para uma melhor avaliação de mercado (“valuation”) – aquela que se apresentar como líder de mercado em cimentos, posto hoje pertencente à Votorantim Cimentos. Para a fonte ouvida pelo InvestNews, ter a liderança pode até ajudar, mas não será o único item a ser considerado pelos investidores.

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200 x 0: seca de IPOs no Brasil leva empresas brasileiras a olhar bolsas americanas https://investnews.com.br/negocios/200-x-0-seca-de-ipos-no-brasil-leva-empresas-brasileiras-a-olhar-bolsas-americanas/ Thu, 21 Nov 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=631100 Um homem de terno e óculos salta entre uma bandeira brasileira e uma bandeira americana, simbolizando uma transição entre elas, com fundo cinza claro texturizado.
Ilustração: João Brito

Na próxima semana, o mercado americano vai atingir a marca de 200 novas empresas que abriram seu capital nas bolsas de lá em 2024 – o volume de IPOs nos Estados Unidos até o fim de novembro é 30% maior do que o registrado no ano passado. Uma dessas 200 é a Brazil Potash, sediada no Canadá e que vai explorar uma mina de potássio no Amazonas. A empresa estreia hoje (21) na Bolsa de Nova York.

Abundância por lá, escassez por aqui. Em 2024 tivemos zero IPO no Brasil. Em 2023? Zero. E 2022? Adivinhem? Zero também.

Com a seca de IPOs no Brasil e sem perspectiva de melhora do mercado no horizonte, empresas brasileiras que tinham se preparado para levantar recursos no mercado de ações local atingiram o limite de espera. E estão mudando os planos. Algumas estão aumentando seu endividamento. Outras fazem operações privadas de venda de ações. Para as que atendem certos requisitos, um dos caminhos estudados é o mercado de ações americano, onde, como se vê, o apetite do investidor segue bastante aquecido.

Compass, braço de gás e energia da Cosan, e Votorantim Cimentos aguardam há alguns anos o melhor momento para abrir o capital no Brasil e são vistas por especialistas consultados pelo InvestNews como duas fortes candidatas à listagem nos Estados Unidos. A Votorantim Cimentos nega que esteja se preparando para fazer o IPO na bolsa dos EUA, mas fontes ligadas a bancos de investimentos afirmam que a companhia monitora o mercado com atenção.

As duas atendem ao principal critério para a listagem nos Estados Unidos: tamanho. É que, no mercado americano, as ofertas costumam ser maiores do que no Brasil. Este ano, o volume médio das ofertas foi de US$ 380 milhões, o equivalente a R$ 1,2 bilhão. Ou seja, a empresa precisa ter um valor de mercado bem mais alto do que isso para chegar lá. Até porque, fazer uma oferta de ações em uma bolsa dos Estados Unidos é mais caro. E o chamado liability – exigências regulatórias – é mais rigoroso do que no Brasil.

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Porte para isso, tanto Votorantim Cimentos quanto Compass têm. A questão, dizem especialistas, é que as duas empresas são consideradas as “joias da coroa” de seus conglomerados.

Isso significa que seus controladores serão muito exigentes em relação ao preço – ou valuation – para a venda dessas ações. Por isso, os controladores tendem a ser muito rigorosos na decisão: só irão a mercado quando tiverem certeza de ter encontrado o melhor momento. Especialmente no caso da Compass, da Cosan de Rubens Ometto, depois de o IPO (nos EUA) de outra empresa do grupo, a Moove, de lubrificantes, ter fracassado no início do mês passado.

A Compass tem um incentivo adicional para fazer o movimento em direção ao mercado acionário americano. Depois de alguns meses tentando, sem sucesso, fazer um IPO na B3, a companhia optou em setembro por uma operação privada de venda de participação no capital para um grupo liderado pelo Bradesco Seguros. Foi possível levantar R$ 1,44 bilhão – a empresa já havia feito uma outra operação privada de R$ 810 milhões em maio deste ano.

A entrada de R$ 2,25 bilhões deu fôlego à empresa de energia da Cosan. Mas as duas operações têm prazo determinado e, em algum momento, será preciso dar saída para os investidores.

Apetite americano

O que especialistas dizem é que, neste momento no mercado americano, há apetite por empresas vindas de outras praças, mesmo que elas não tenham receita em moeda forte. “Existe uma demanda grande por small caps [empresas de menor valor de mercado], de diferentes setores, não apenas de tecnologia”, afirma Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners.

Até aqui, as empresas brasileiras que se lançaram no mercado americano tinham como característica comum terem um forte apelo para o investidor do setor de tecnologia – caso da Embraer ou do Nubank, por exemplo – ou então terem atividade globalizada – caso da Gerdau. “Agora, o que a gente vê é uma janela muito boa para empresas do setor industrial, mesmo as que não têm operação direta relevante no mercado americano”, diz Teodora Barone, head de equity capital markets do UBS BB.

Série do InvestNews explica a razão de empresas brasileiras optarem pela listagem de ações na Bolsa de Nova York

Ainda que haja muitos argumentos a favor, ser aquela empresa a colocar o pé na água para testar a temperatura do mercado é sempre mais desafiador. Foi o que a Moove, empresa da Cosan, tentou fazer. Mas especialistas afirmam que a experiência negativa da fabricante de lubrificantes teve mais a ver com uma estratégia errada na definição do preço do ativo do que com as condições de mercado. E defendem que existe espaço para que alguma delas faça esse movimento.

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Enquanto isso, outros caminhos têm sido adotados. Depois de contratar bancos em janeiro para fazer seu IPO, a Oceânica, empresa que oferece soluções para exploração submarina de óleo e gás, estreou no mercado de bonds e emitiu em agosto US$ 375 milhões em títulos de dívida com prazo de cinco anos no mercado internacional. Com o IPO, a companhia pretendia captar R$ 1 bilhão.

Já a BRK Ambiental, outra candidata a uma oferta primária de ações, colocou alguns ativos à venda, entre elas algumas concessões no Estado de São Paulo e em Cachoeiro (ES). (Colaborou Raquel Balarin)

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O que Trump e Lula têm em comum: a queda de braço com o Banco Central https://investnews.com.br/economia/o-que-trump-e-lula-tem-em-comum-a-queda-de-braco-com-o-banco-central/ Wed, 13 Nov 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=629780 O Banco Central começou a cortar os juros, mas pode ter que voltar a subir a taxa a qualquer momento porque está preocupado com os efeitos dos gastos públicos sobre a inflação. O presidente da República, é claro, não está nada satisfeito com isso. E começa a fazer pressão sobre o Banco Central – o que inclui até mesmo ameaças de demissão.

Quem lê esse roteiro desavisadamente pode achar que ele se refere ao Brasil. Mas, na verdade, o Banco Central em questão não é o brasileiro: é o Federal Reserve (Fed), dirigido por Jerome Powell. Sim, o Fed, referência quando o assunto é banco central independente, já começou a se proteger de tentativas do presidente eleito Donald Trump de exercer mais influência sobre a política monetária na maior economia do mundo.

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Não seria a primeira vez. Em 2018, no primeiro mandato do republicano, Trump criticou Powell publicamente em diversas ocasiões – tanto para subir quanto para cortar os juros. E fez ameaças de destituí-lo do cargo para o qual foi escolhido… por quem? Pelo próprio Trump.

Só que, agora, a batalha pode ser ainda mais dura. Afinal, os planos de Trump para gerar crescimento da economia americana são muito mais ousados do que no mandato anterior. E isso deve resultar em mais inflação e também em piora do quadro fiscal: os analistas esperam um aumento do déficit público da ordem de US$ 7,5 trilhões ao longo de uma década.

Alguns correligionários de Trump já partiram para o ataque ao Fed. Um dos “inimigos” do BC americano é o senador Mike Lee, republicano do Utah, que apresentou em junho um projeto de lei para abolir o Banco Central, acusando-o de ser um “manipulador econômico que contribuiu diretamente para a instabilidade financeira que muitos americanos enfrentam hoje”. Lee disse no X (ex-Twitter) que deseja ver o Fed sob o controle do presidente. A posição do parlamentar contou com o apoio do empresário Elon Musk, que promete ter importante participação no novo governo.

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Trump não tem poderes legais para demitir Powell. E o presidente do Fed, em uma entrevista coletiva na semana passada, desconcertado após uma pergunta, disse que não renunciaria ainda que o presidente da República pedisse. Esse “climão” deixa investidores desconfortáveis. Eles temem que uma cruzada de ataques contra o Fed acabe desestabilizando a confiança dos investidores nos mercados, tanto de ações quanto de títulos públicos.

Eu sou você amanhã

O Brasil já conhece essa história. Os ataques de Lula contra o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto geraram muita incerteza sobre a capacidade de o BC agir para conter a inflação. Tanto é que, a cada manifestação do presidente, o dólar e os juros subiram.

O quadro piorou ainda mais em maio, quando os quatro diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) indicados pelo novo governo votaram por um corte de 0,5 ponto percentual da Selic, contra a maioria, que defendeu uma redução de 0,25 ponto. Esse evento mudou a dinâmica dos mercados: o dólar se consolidou acima dos R$ 5,50 e o juro real das NTN-Bs superou os 6% ao ano. E não retrocederam mais.

O que os especialistas dizem é que apenas com a independência do Banco Central totalmente assegurada é que a política monetária é eficaz na luta para reduzir a inflação e abrir caminho para o crescimento econômico. Só que nem Trump, nem Lula parecem dar crédito a essa máxima. Mesmo com orientações ideológicas completamente opostas, ambos tentaram influenciar as decisões de seus bancos centrais, achando que os juros mais baixos poderiam dar suporte a seus planos de governo.

O que pode explicar esse ponto comum dos dois governantes são “características mais populistas”, diz o ex-diretor do Banco Central, José Julio Senna, pesquisador do Chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) e consultor associado da MCM Consultores.

Trump tem dito que quer acabar com a inflação e manter os juros baixos. Mas também quer subir tarifas, conter a imigração e cortar impostos, receita perfeita para gerar muita inflação.  “Prevejo um cabo de guerra desconfortável, com comentários agressivos e pressões de todo o tipo”, diz Senna.

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Ainda assim, o especialista não acredita que a pressão vinda da Casa Branca conseguirá, de fato, arranhar a independência do Fed. Isso só aconteceria com a anuência do Congresso. “Não acredito que as instituições americanas concordem com essa ideia, ela não vai progredir”,diz.  “Mas haverá um ruído desnecessário.

Aqui, em comum com o que se vê em terras americanas, o gasto público é um elemento importante para impulsionar o crescimento da economia Ao mesmo tempo, tem ajudado a pressionar a inflação. Mas o pior efeito colateral é a perspectiva de um descontrole da dívida pública no Brasil: especialistas acreditam que a relação dívida líquida x PIB pode superar os 90% em dois ou três anos, o que é um sinal amarelo avermelhado para a política fiscal do país.

Reduzir os juros, portanto, facilitaria a vida do governo no curto prazo. Mas o ponto central dos embates de Lula com Roberto Campos pode ter outra natureza: o presidente do BC foi indicado pelo antecessor de Lula, Jair Bolsonaro. Foi uma espécie de choque de realidade para o petista, que está em seu terceiro mandato, ter de lidar com as regras de um BC independente pela primeira vez – a autonomia da autoridade monetária passou a existir somente em 2021.

Outra diferença importante em relação ao cenário americano é que, aqui, a autonomia do BC, ainda que seja definida por lei, ainda está em um processo de consolidação. E isso amplia a insegurança nos momentos de ataque ao BC.

Fábio Akira
Fábio Akira

Fabio Akira, sócio e economista-chefe da BlueLine Asset Management, afirma que um ponto de atenção neste momento é que Gabriel Galipolo, o futuro presidente do BC, deverá ter uma participação ativa no governo. Galipolo participou de uma reunião convocada por Lula com a equipe econômica para discutir as medidas fiscais que devem ser adotadas. “Você não vai ver o Powell discutir corte de impostos com o novo secretário do Tesouro americano”, compara.

Outra diferença é que, aqui, é o Conselho Monetário Nacional (CMN) que determina qual é a meta de inflação que o BC deve perseguir. E o CMN é composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, e pelo presidente do BC. Nos Estados Unidos, a discussão é liderada apenas pelo Fed.

Fiscal x juros

Nos Estados Unidos, analistas já começam a antever um aumento do juro dos títulos de 10 anos, os chamados T-notes, como reação aos riscos fiscais que Trump representa. Fala-se em uma taxa perto de 5% ao ano, o que, historicamente, tem potencial para gerar instabilidade nos mercados globalmente.

Ricardo Lacerda, da BR Partners. Crédito: Divulgação.

No Brasil, o mercado vem expressando grande preocupação com a evolução dos gastos e teme que o pacote que deve ser anunciado pelo governo seja insuficiente para colocar as contas em ordem. Segundo o CEO da BR Partners, Ricardo Lacerda, a dinâmica atual de aumento de gastos coloca em questão a eficácia do aumento de juros que está em curso. “A partir de um determinado nível de juros, o efeito fica muito reduzido. Subir mais a taxa vai castigar consumidores e empresas, e não vai controlar a inflação. Agora, é preciso cortar gastos”, defende.

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Nem tudo é remédio: a receita da Panvel para crescer 50% em quatro anos https://investnews.com.br/negocios/na-onda-de-multiplicacao-das-farmacias-o-que-fazem-as-empresas-para-se-destacar-na-multidao/ Mon, 11 Nov 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=629050

Um hub de saúde, onde você consegue comprar um medicamento, encontrar produtos de higiene e beleza, fazer algum teste rápido, e ainda tirar dúvidas sobre formas de prevenir doenças. É esse mais ou menos o desenho do que pode ser a farmácia do futuro. E é o caminho que a Panvel tem perseguido para dar sequência aos planos de deixar de ser uma empresa regional e ganhar proporções nacionais.

A Panvel, empresa “genuinamente gaúcha”, como define seu CEO, Julio Mottin Neto, é uma das redes de farmácia que vêm capitaneando o crescimento do setor no Brasil. O número de lojas da empresa cresceu cerca de 50% nos últimos quatro anos. Hoje, são 660 unidades, o que representa um crescimento de 10% em relação a 2023. Em termos de faturamento, a empresa cresceu 12% em 2023, acima do avanço geral do setor, de 9%.

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Assim como outros segmentos do setor de saúde, as farmácias se beneficiam da crescente onda de auto-cuidados, que tem como pano de fundo a perspectiva de longevidade da população. A lógica é que, como as pessoas vivem mais, naturalmente elas vão precisar de mais medicamentos. E há cada vez mais novidades que interessam ao público que trabalha com uma expectativa de vida maior: o grande destaque, sem dúvida, é o Ozempic, usado para emagracer, que hoje é o líder em termos de venda em todas as farmácias.

Mas não só isso: elas querem viver com mais qualidade de vida. Gastam muito mais em vitaminas e suplementos, por exemplo. E precisam, naturalmente, de alguma consultoria para buscar esses produtos. É isso que a farmácia tem de oferecer, na visão de Mottin.

Hoje, existem cerca de 96 mil farmácias no país. A líder do setor é a Raia Drogasil, com 16% do mercado. A companhia é fruto da principal fusão do setor – entre Droga Raia e Drogasil – concretizada em 2011. Quase 60% do mercado está pulverizado entre pequenas empresas independentes.

E como é possível se diferenciar no meio dessa multidão de lojas? Na visão de Mottin, o primeiro passo é não errar no básico: garantir um estoque de medicamentos capaz de atender qualquer receita que chegue no balcão. “Nada mais frustrante para o cliente do que não achar os remédios pedidos”, diz.

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Os medicamentos ainda são o carro-chefe de qualquer farmácia. Na Panvel, 66% do faturamento vêm da venda de remédios. E os chamados medicamentos de marca continuam tendo uma participação majoritária. Do faturamento total das lojas, 12% vêm dos genéricos. Olhando só para a fatia das vendas de remédios, eles respondem por 20%.

É necessário também pensar na conveniência: as lojas precisam estar em um bom ponto, dispor de um local adequado para estacionamento. E um atendimento rápido e tecnicamente preciso. “O consumidor tem cada vez menos tempo, e ser ágil é fundamental”, diz.

Mas o pulo do gato para o varejo de saúde é ampliar seu escopo. Para Harold Takahashi, sócio da Fortezza Partners, ter a disposição de caminhar para outros elos da cadeia é outra característica que aumenta a competitividade das empresas. Isso pode englobar, por exemplo, a possibilidade de realizar de exames de saúde – como os de Covid –, em parceria com laboratórios em algumas farmácias.

A Panvel aposta na venda de produtos de higiene e beleza como um diferencial. A empresa tem, inclusive, uma marca própria, produzida na fábrica da Panvel, que engloba maquiagens. A marca Panvel é responsável por 70% de todo o faturamento com a venda dos itens de higiene e beleza.

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“Se todas as farmácias fossem iguais, a gente não estaria abrindo [novas unidades]”, afirma Mottin. “A briga no setor passa pelo melhor estoque, o melhor ponto, e um mix complementar de produtos.”

Regional x nacional

A Panvel é fruto da fusão de duas redes de farmácia, a Panitz e Velgos. Essa consolidação, que tornou sócias as famílias Mottin, Pizzato e Weber, aconteceu em 1973. O mesmo ano em que nasceu o atual CEO, Julio Mottin Neto, terceira geração de uma das famílias fundadoras.

O executivo ingressou na empresa há 28 anos. E assumiu o comando da Panvel há 12 como CEO. As três famílias fundadoras têm representantes no conselho de administração. Mas Julio é o único dentre eles a ocupar uma cadeira de gestão. As demais posições estão nas mãos de profissionais de mercado.

Foi na sua gestão que a Panvel realizou o follow-on em 2020 para financiar a expansão da companhia. Até então, a rede inaugurava cerca de 35 lojas por ano. A partir daí, esse número saltou para 60 -– marca que deve se repetir em 2025.

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Com o avanço, a Panvel cruzou as fronteiras gaúchas e avançou para Santa Catarina e Paraná, onde hoje tem 7,5% do mercado. E chegou também a São Paulo, onde tem 12 lojas, e 1% do mercado. Em seu Estado de origem, a companhia tem 22% de share.

A presença na capital paulista é estratégica: a venda médias por loja chega a R$ 1,4 bilhão, o dobro do que alcança nas lojas situadas no Rio Grande do Sul. Por isso, São Paulo vai ganhar mais uma loja Panvel este ano, e outras cinco no ano que vem. O plano de expansão, entretanto, é priorizar a região Sul: a ideia é dobrar a participação no Paraná e em Santa Catarina, para então reforçar a presença em outras regiões.

Em um primeiro momento, a ideia é que o crescimento da Panvel se dê de forma orgânica – apenas com a abertura de novas lojas. Isso porque, segundo Mottin, o retorno sobre o capital investido que a empresa obtém com a abertura de lojas é ainda melhor do que sob o modelo de aquisição. Cada vez que a rede abre uma loja, ela leva de três a quatro anos para ter retorno do seu investimento – o chamado payback. “Mas estamos abertos para algum processo [de aquisição] que possa acontecer. Hoje não tem nada sobre a mesa”, afirma.

O desafio da consolidação, afirma, passa pela cultura. “Qualquer movimento que a gente vá fazer, vamos levar muito isso em conta. E as pessoas subestimam essa variável”, diz.

Tamanho pode ser documento

O setor de farmácias se diferencia de outros segmentos de varejo, porque é muito menos suscetível às questões macroeconômicas. Afinal, medicamentos são um bem de primeira necessidade, e portanto as vendas são muito menos afetadas em tempos de juros altos ou renda apertada. Ao mesmo tempo, há uma grande pulverização de fornecedores. Para se ter uma ideia, no caso da Panvel, a empresa realiza uma espécie de leilão entre fabricantes de genéricos para escolher seus fornecedores.

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Ainda assim, as farmácias não têm como escapar do desafio de ampliar a escala, diz Takahashi, da Fortezza Partners. Quanto maior o número de lojas, maior será o poder de barganha com fornecedores e prestadores de serviços, e mais diluído o custo fixo. Estratégia fundamental para um segmento que opera com uma margem mais apertada do que o restante da cadeia de saúde. Segundo Takahashi, enquanto a margem Ebitda das grandes redes, como Raia Drogasil, costuma ficar abaixo de 8%, os hospitais alcançam margens acima de 20%.

Por conta disso, a aposta para o setor é de que haja ainda uma grande onda de consolidação. Para Jonas Marques, CEO da Pague Menos, a segunda maior rede do país, é provável que esse movimento alcance principalmente as farmácias independentes. “Você vê um movimento normal que aconteceu em todos os outros mercados: o de as redes ganharem mais participação sobre os independentes.”

O CFO da Pague Menos, Luiz Novais, lembra que as farmácias independentes, com sua menor capacidade de compra e investimento, tornam-se alvos potenciais para as grandes redes que buscam expandir sua presença no mercado. 

Estima-se hoje que as maiores já detenham 50% do faturamento do mercado, muito por causa da diferença na venda média entre as lojas de rede, com receita em torno de R$ 700 mil por mês, enquanto as independentes faturam algo próximo de R$ 50 mil mensais – uma amostra do poderio financeiros dos grandes players para ampliar o movimento de consolidação.

(Colaborou Rikardy Tooge)

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Para Gerdau, eleição de Trump pode reforçar ‘invasão’ do aço chinês no Brasil https://investnews.com.br/negocios/para-gerdau-eleicao-de-trump-pode-reforcar-invasao-do-aco-chines-no-brasil/ Wed, 06 Nov 2024 16:21:18 +0000 https://investnews.com.br/?p=628347 A vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana pode intensificar a “invasão” do aço chinês no Brasil, fenômeno que tem castigado a vida das siderúrgicas nos últimos anos. Para o presidente global da Gerdau, Gustavo Werneck, se os Estados Unidos subirem as tarifas de importação – como prometeu o republicano durante a campanha –, o excedente de aço chinês vai buscar outros endereços. E o Brasil será, com certeza, um deles.

O executivo é, há tempos, bastante vocal em relação aos efeitos da concorrência com o aço chinês – que ele classifica como “desleal”. Agora, ele reforça a crítica. “É urgente que o sistema de cota tarifa seja aprimorado”, afirma.

Ele se refere à política adotada este ano pelo governo, de taxar o volume que exceder um determinado volume importado em 25%. A regra vale apenas para 15 tipos de aço. Para o restante, a alíquota varia entre 10,8% e 12%.

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Segundo dados levantados pelo Instituto do Aço, o Brasil importou um volume de 451,1 mil toneladas durante todo o ano de 2023. Em apenas nove meses neste ano, o volume já está em 450,7 mil – mesmo com a taxação. A tarifa, na visão de Werneck, deveria ser de 35%, e atingir todos os produtos da indústria siderúrgica.

“À medida que outros países coloquem mais proteção, o aço da China vai buscar os países que estiverem sem proteção”, disse Werneck, durante entrevista para comentar o resultado da companhia no terceiro trimestre. “É uma escolha sobre onde vai estar o emprego: no Brasil ou na China.”

A Gerdau, globalmente, pode até se beneficiar desse cenário Trump. A companhia tem operações nos Estados Unidos e o México. E as políticas a serem adotadas pelo republicano devem estimular o investimento em produção na América do Norte – algo que já se viu no primeiro governo de Trump, entre 2017 e 2021. “A política de Trump deve puxar a demanda por aço, e isso pode beneficiar nossas operações”, diz.

Entretanto, o executivo vê riscos para a dinâmica do mercado brasileiro. Werneck diz que, dada a relevância da China no mercado de aço, a Gerdau faz um acompanhamento minucioso da economia e das medidas adotadas pelo país. E a leitura é que as medidas de estímulo econômico adotadas pela China este ano não serão capazes de reverter o excesso de produção de aço. E isso significa que o produto deve continuar sendo vendida para outros mercados – a preços muito baixos.

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Essa afirmação se baseia em números: o Brasil consome 4 milhões de toneladas de vergalhão por ano, enquanto a China consumia 400 milhões de toneladas nos anos em que teve seu crescimento sustentado por investimentos em infraestrutura e construção civil. Só que a dinâmica econômica do país mudou. Os projetos foram concluídos, o que significa que esse aço todo está “sobrando”. “Esse excedente está indo mundo afora com preços muito baixos, muitas vezes abaixo até do que é o preço da matéria-prima, que é o minério de ferro”, explica Werneck.

A gente tem muita segurança de que o aço chinês vai continuar transitando no mundo, não só no curto prazo, mas nos próximos anos.

Gustavo Werneck

Outro problema enfrentado pelo setor, segundo Werneck, é o aumento da importação de aço vindo de Manaus – que não paga a cota tarifa. “Não temos as informações para avaliar o que está acontecendo, mas é necessário que o governo investigue por que cresceu tanto”, defende Werneck.

Câmbio

A vitória de Trump deve provocar outro efeito colateral: a alta do dólar. E isso, segundo o CFO da Gerdau, Rafael Japur, pode beneficiar a companhia, que, por causa das operações fora do país, tem também receita em dólares. Além disso, o câmbio desvalorizado pode viabilizar mais exportações a partir do Brasil.

O planejamento da Gerdau para o ano, em geral, prevê uma cotação do dólar próxima da estimativa trazida pela pesquisa Focus, do Banco Central. Atualmente, essa projeção está em 5,50%. Mas Japur acredita que a eleição de Trump, que deve justificar uma elevação dessa projeção.

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Resultados

A Gerdau registrou no terceiro trimestre lucro líquido de R$ 1,432 bilhão, 10% abaixo do registrado em igual período de 2023. O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado totalizou R$ 3,016 bilhões, também uma queda de 10% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado.

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Braskem tem terceiro Roberto em quatro anos e esfria chances de venda https://investnews.com.br/negocios/braskem-tem-terceiro-roberto-em-quatro-anos-e-esfria-chances-de-venda/ Mon, 04 Nov 2024 20:34:38 +0000 https://investnews.com.br/?p=627933 A mudança de CEO da petroquímica Braskem, anunciada na manhã desta segunda-feira (4), pegou o mercado de surpresa. E foi entendida como um sinal de que Emílio Odebrecht – controlador da Novonor, principal acionista da Braskem – quer aumentar sua ingerência sobre o rumo da petroquímica. Como consequência, reforça a ideia de que a venda da Braskem não deve acontecer tão cedo.

A Novonor é a acionista majoritária da Braskem, com uma fatia de 38,3% do capital total. Já Petrobras é dona de 36,1% e outros 25,6% estão pulverizados no mercado. Só qu a então ex-Odebrecht deu esse lote de ações como garantia de uma dívida contraída junto a cinco bancos – Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES – entre 2014 e 2019. Há anos os bancos tentam vender essa participação como forma de reaver os recursos, estimados hoje em R$ 15 bilhões. O valor da mercado da Braskem, entretanto, está em cerca de R$ 13 bilhões.

Em fato relevante, a Braskem informou nesta manhã a troca de Roberto Bischoff, no cargo há menos de dois anos (ele assumiu a cadeira em janeiro do ano passado), por Roberto Paraiso Ramos, que foi vice-presidente da petroquímica em 2002. Trata-se do terceiro Roberto na função de CEO em um período de quase quatro anos: em 2020, Roberto Simões assumiu o cargo, e foi substituído por Bischoff três anos depois. Antes de Simões, o CEO era Fernando Musa, que permaneceu no cargo durante dez anos.

Na visão de fontes próximas à companhia, ouvidas pelo InvestNews, Ramos é um executivo com um perfil “odebrecheriano” – com uma trajetória longa junto a Emílio. E que, portanto, teria muito mais disposição em seguir as orientações do empresário para lidar com os diferentes desafios da empresa. É por isso que o movimento sugere que o esforço para a venda da Braskem pode ter mesmo voltado à estaca zero.

Ramos, que hoje tem perto de 75 anos, foi vice-presidente da Braskem entre 2002 e 2010, período em que foi implantado o Projeto Etileno XXI no México. Ele também ocupou a cadeira de presidente da Ocyan, antiga Odebrecht Óleo e Gás, vendida em dezembro de 2023 para a americana EIG.

Planta da Braskem em La Porte, Texas
Planta da Braskem em La Porte, Texas (Divulgação)

Assim como Emílio, Ramos foi investigado pela Operação Lava-Jato. O executivo foi preso em 2016, na 26ª fase da operação, conhecida como “fase Xepa”, que investigava uma divisão na Odebrecht destinada ao controle de pagamentos de propinas. Ele não chegou a sofrer acusação formal.

Troca-troca

As recentes trocas de comando são atribuídas por interlocutores próximos da companhia à piora do desempenho financeiro da companhia. O permanente estado de “à venda” e o ciclo negativo do setor petroquímico global vêm há vários trimestres afetando a empresa.

No segundo trimestre deste ano, a companhia registrou um prejuízo de R$ 3,736 bilhões, 385% maior ante as perdas de R$ 771 milhões no mesmo período de 2023. O resultado foi pior na comparação com os três meses imediatamente anteriores, quando havia apurado prejuízo de R$ 1,345 bilhão, de acordo com o balanço trimestral divulgado pela empresa.

Ao mesmo tempo, a Braskem vem sofrendo com os efeitos do colapso de uma mina de sal-gema em Maceió, em dezembro de 2023, provocando o afundamento de cinco bairros e obrigando mais de 50 mil pessoas a deixarem suas casas. A empresa já pagou mais de R$ 9 bilhões em indenizações.

Venda suspensa?

A troca do comando da Braskem, na visão dos especialistas que acompanham a companhia, é um sintoma dos efeitos negativos provocados pela demora na definição da venda do seu controle. Mas também pode ser um indício de que o negócio não deve sair tão cedo.

Grandes companhias, tanto brasileiras como estrangeiras, já manifestaram interesse em comprar o controle da Braskem. Somente em 2023, a companhia recebeu ofertas da petroquímica Unipar, do grupo J&F e da Adnoc, estatal do setor de petróleo dos Emirados Árabes. O que inviabilizou o avanço das conversas foi, segundo fontes, uma certa intransigência por parte dos bancos em relação ao preço oferecido. Mais recentemente, a perspectiva de uma sociedade com a Petrobras – que sinalizou a intenção de permanecer no negócio após a venda do controle – também teria inviabilizado a operação.

Em agosto, conforme o InvestNews noticiou, a Novonor encaminhou um plano para tentar acabar com o imbróglio. A ideia era transformar os bancos credores em co-controladores da Braskem. Ou seja, eles passariam a ser os donos das ações da Braskem que pertencem à Novonor e que foram dadas aos bancos como garantia da dívida.

O problema é que, hoje, a empresa vale menos do que a dívida. Além disso, no plano apresentado, a ideia é que a Novonor permanecesse com uma pequena fatia da Braskem, algo que vem sendo rejeitado pelos bancos. As negociações não avançaram.

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