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Carreira nos Estados Unidos: como preparar o visto?

Tirar o documento previamente, sem depender de uma empresa patrocinadora, pode facilitar trajetória

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A engenheira civil Ayla Souza, de 37 anos, recebeu quatro propostas de trabalho de companhias dos EUA. A vaga de gerente de projetos para cuidar de uma estação de tratamento de água no Texas foi a que mais brilhou os olhos – e ela ocupa a posição desde março do ano passado.

Mas antes de ter o privilégio de escolher onde trabalhar por lá, a brasileira de Recife procurou – ainda morando no Brasil – algumas oportunidades pelo LinkedIn. Porém, sem um visto de trabalho americano, nada vingava. 

“Havia interesse por parte das empresas, mas quando passava para a fase seguinte, o processo não evoluía. Eles diziam que não tinham verba para patrocinar o meu visto naquele momento”, diz Ayla. 

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A engenheira Ayla Souza na obra onde trabalha nos EUA. Crédito: Arquivo pessoal

O patrocínio acontece quando a empresa se responsabiliza por bancar os custos de emissão do visto que vai garantir ao profissional o direito de trabalhar em solo americano.

Diante do que aconteceu com Ayla, que não conseguiu um patrocinador disposto a arcar com sua ida para os Estados Unidos, Alberto Buss, sócio e diretor comercial da SG Global Group, uma assessoria de imigração, explica: o profissional que não tiver um visto de trabalho vai mesmo se deparar com entraves.

“Em todo formulário de aplicação para uma vaga nos Estados Unidos, a primeira pergunta é se o candidato está legalmente habilitado para trabalhar no país”, diz. 

De acordo com o especialista, mesmo quando uma empresa resolve bancar a ida do profissional, é bem provável que ela tente “amarrá-lo” a um contrato que exija sua permanência na companhia por um tempo mínimo ou “desconte” os gastos da remuneração oferecida.

“Um enfermeiro nos Estados Unidos vai ganhar US$ 40 por hora trabalhada. Se uma instituição médica vai patrocinar o candidato, em vez de pagar US$ 40, ela vai pagar US$ 23”, diz.

Big techs

As big techs são conhecidas por bancar a ida de estrangeiros para os EUA. Essas empresas usam uma certificação trabalhista chamada de Perm. O documento permite ao empregador contratar um profissional estrangeiro para trabalhar permanentemente por lá, desde que comprove que não conseguiu encontrar mão de obra local para preencher uma determinada posição.

“Os Estados Unidos são agressivos em relação a esse controle. Eles entendem que a mão de obra americana só pode ser dispensada se não existir no mercado”, explica George Cunha, advogado do escritório George Cunha, focado em advocacia internacional.

Mas desde o ano passado, com a onda de demissões pelas empresas de tecnologia, os incentivos à obtenção de Perms têm diminuído. De acordo com informações do site de notícias Business Insider, Google e Amazon teriam interrompido processos de aplicação de vistos para estrangeiros. A Meta manteve os patrocínios, mas o processo teria ficado mais lento.

Logo da Amazon 06/10/2021 REUTERS/Pascal Rossignol

Os cortes de vagas retroalimentam o problema. Cunha explica: “O ministério do trabalho americano ficou mais rigoroso. Eles estão chamando aquelas pessoas que foram demitidas nos últimos seis meses. Se eventualmente entenderem que podem suprir a vaga, não vão conceder o certificado [para a empresa]”.

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Vistos

Existem 178 tipos de vistos para os Estados Unidos (pois é…). Para as empresas que vão contratar mão de obra estrangeira, o visto padrão é o H-1B.

Já para quem não quer depender de um patrocinador, um dos mais indicados é o EB2-NIW. Ele é concedido para pessoas que têm qualificação ou habilidades específicas que possam ser aproveitadas nos EUA, mesmo sem que haja uma oferta de trabalho. Ele pode ser solicitado para quem mais de cinco anos de experiência em sua área de atuação. E dá ao direito ao Green Card.

“Por ser um visto de trabalho, de residência permanente e sem a necessidade de um patrocinador, ele te dá toda a liberdade do mundo. Se decidir empreender, trabalhar para os outros, ou transitar de carreira, o visto te permite”, diz Alberto Buss, da SG Global.

Foi esse visto que Aya conseguiu. Ela iniciou o processo em janeiro de 2022, quando estava em Nova York para estudar inglês e viu de perto um mar de oportunidades na área da engenharia.

“Me deram seis meses de permanência e apliquei para o EB2-NIW dentro deste período. Uma vez que se aplica dentro da permanência concedida, você consegue uma extensão, enquanto o processo é analisado. Mas não pode sair dos EUA”, explica a engenheira. 

A experiencia profissional já seria suficiente para o pedido de visto, mas Ayla, que já tinha tido uma pequena empresa de engenharia e consultoria no Brasil, construiu, junto com uma consultoria especializada em imigração, um plano de negócios que pudesse levar para solo americano. “É preciso provar para os Estados Unidos que você merece ser aceito”.

Ayla, que teve o visto aprovado em julho de 2022 (um ano após sua chegada como turista), desembolsou US$ 22 mil em todo o processo – entre custos migratórios e assessoria.

O plano de negócios foi um “plus a mais” de Ayla para obter seu EB2-NIW. Não se tratava de uma exigência. Tampouco haverá cobrança das autoridades para que ela empreenda. Mas a engenheira não quer deixar sua ideia só no papel. “Os EUA oferecem um ambiente muito favorável ao empreendedor, tanto no quesito oportunidades quanto no aspecto fiscal. Atualmente estou analisando o mercado e fazendo networking”.

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