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A Copa do Mundo do mercado de carbono

Em ambiente competitivo por recursos financeiros verdes, os países vencedores serão os que se articularem melhor.

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A bola está rolando no Qatar, enquanto isso, a COP27 continua gerando saldos positivos para a salvação do nosso planeta. Como disse em minha última coluna especial do evento, apesar de todo o pessimismo, a Conferência climática da ONU alcançou um feito histórico: o acordo pela criação de um fundo de investimento global contra danos climáticos. Foi um golaço estilo Vini Jr. na seleção!

O principal meio de combate a esses danos é o investimento maciço em tecnologias e projetos verdes que combatam o aquecimento global, o crédito de carbono foi o principal mecanismo para financiar tais projetos.

Ou seja, temos que transformar o mercado de carbono em uma Copa do Mundo, maior evento do esporte mundial, em que os países se reúnem para concorrer ao prêmio máximo, a taça. No caso do mercado de carbono, a disputa é pela nossa sobrevivência e pela garantia do recebimento de muitos bilhões de dólares para cada nação investirem em seus projetos verdes.

E o Brasil tem que se aproveitar disso, porque assim como no futebol ele pode garantir um naco grande desses bilhões em investimentos sustentáveis nos próximos anos tanto advindos do fundo criado pela ONU quanto da Europa, Estados Unidos e China, que possuem as principais seleções nessa competição.

O fato novo dessa nova fase da Copa do Mundo, podemos chamar de quartas de finais, é que o Brasil e os países mais pobres, principais destinos dos recursos do fundo mundial, podem se beneficiar das relações congeladas entre Estados Unidos e China desde que os americanos levantaram restrições a exportação chinesa de produtos tecnológicos e a visita indesejada, em agosto desse ano, da ex-presidente da Câmara de Deputados Nancy Pelosi à Taiwan, ilha que a China considera parte de seu território.

Geopoliticamente esse congelamento de relações iniciou uma corrida estratégica de ambos os países para liderar os investimentos no desenvolvimento de tecnologias verdes no mundo, a mudança climática se tornou uma das principais áreas de competição entre eles.

Enquanto a China está reorientando seu cinturão global e seu programa de infraestrutura mundial para projetos cada vez mais sustentáveis e que combatam os efeitos negativos climáticos, os Estados Unidos anunciaram junto com o G7, composto por eles além de Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido, a mobilização de 600 bilhões de dólares para investimentos em infraestrutura ecologicamente correta.  

A estratégia dos Estados Unidos e da China é similar, canalizar bilhões de dólares para o desenvolvimento de tecnologia verde em casa e de projetos sustentáveis utilizando tais tecnologias no exterior, principalmente, nos países mais pobres.

O que a COP27 conseguiu de diferente nesse cenário de congelamento de relações diplomáticas e comerciais entre os dois países, graças aos assessores do clima americano e chinês, John Kerry e Xie Zenhua, foi recolocá-los na mesa de negociação para tratarem de 3 tópicos fundamentais da agenda climática mundial: (1) a redução da emissão de gás metano, mais fácil de ser combatido; (2) o fim da utilização do carvão como matriz energética, algo complexo, a China é o maior produtor e consumidor da energia originária da queima desse mineral; (3) o combate ao desmatamento ilegal das florestas. 

Dessa negociação, espera-se que mais recursos financeiros possam surgir para desenvolvimento de projetos sustentáveis. Até porque, sabemos que ambos os países vão priorizar estrategicamente o desenvolvimento de tecnologias verdes, como falado anteriormente, para se manterem como líderes econômicos mundiais.

Nesse ambiente supercompetitivo pelos recursos financeiros verdes ganharão aqueles países que se articularem melhor e demonstrarem maior capacidade de execução de projetos que combatam os efeitos negativos climáticos. Vamos aguardar, mas independente de quem ganhará as negociações, o grande vencedor dessa Copa do Mundo do Mercado de Carbono será o nosso planeta.

Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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