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Bancos centrais aos tropeços
Embora 2023 indique recessões mais brandas e inflação em queda, ainda é difícil reduzi-la às metas.
Depois do ocorrido no início de fevereiro, tudo indica que os principais bancos centrais estão entrando em uma nova fase de suas políticas monetárias aos tropeços. Os preços mais baixos da energia – e, em geral, dos bens – estão reduzindo a inflação geral. No entanto, os mercados de trabalho apertados estão pressionando os salários e, com isso, a inflação nos serviços, impedindo que a inflação subjacente a eles caia para níveis que atendam as metas dos bancos centrais.
Em 2022, os principais bancos centrais adotaram uma postura de “faça o que for preciso” em relação à inflação, o que constituiu uma primeira fase de resposta da política monetária. Era de se esperar que, uma vez que os danos econômicos causados por taxas de juros mais altas se tornassem mais evidentes, eles as interrompessem e passassem a mensagens com mais nuances, entrando em uma segunda fase.
No entanto, as mensagens contraditórias do início de fevereiro apontam para uma chegada um tanto atrapalhada a essa nova etapa, antes do esperado e sem sinais claros de que a atividade econômica esteja se ajustando o suficiente para reduzir a inflação. Embora venha diminuindo, ainda há um longo caminho a percorrer para atingir a meta. Ainda que algumas interrupções na oferta que alimentaram a alta estejam sendo resolvidas e a queda dos preços de muitos bens esteja reduzindo a inflação geral, ainda são necessários muitos avanços na inflação de serviços.
Portanto, a evolução dos mercados de trabalho e dos salários será fundamental na fase dois. A escassez de mão de obra nos Estados Unidos e na Europa manterá as pressões salariais, fazendo com que a inflação permaneça persistentemente acima das metas almejadas. Dados recentes de emprego têm enviado sinais mistos. Por um lado, alguns apontam para um mercado de trabalho ainda apertado, o que pode manter as pressões salariais. Outros, por outro lado, apontam para ajustes, como um número crescente de anúncios de demissões, principalmente em empresas de serviços financeiros e de tecnologia.
As habilidades de comunicação dos bancos centrais também serão essenciais nesta etapa. A recente desconexão entre as declarações escritas do Fed e as respostas subsequentes de seu presidente em uma coletiva de imprensa enviaram mensagens contraditórias. Isso pode ter causado reações nos mercados que foram diferentes daquelas pretendidas inicialmente, dando a entender que poderiam estar mais próximos de uma pausa do que realmente tinham considerado. Outros bancos centrais, tanto em países desenvolvidos quanto em emergentes, enfrentam desafios semelhantes, tendo que equilibrar uma dura mensagem anti-inflacionária com outra que cuida dos efeitos sobre a atividade econômica e os riscos de recessão.
No entanto, embora 2023 indique recessões mais brandas e inflação em queda, ainda é difícil reduzi-la às metas dos bancos centrais, o que torna altamente improvável que as taxas sejam cortadas como os mercados esperam cada vez mais. A possibilidade de que eles reajam negativamente à decepção deve fazer com que mantenhamos a cautela. A renda fixa, especialmente títulos corporativos de alta qualidade de crédito, bem como títulos governamentais de prazo mais curto, constituem uma boa alternativa enquanto não houver maior clareza, tanto quanto à evolução dos mercados de trabalho quanto à capacidade de comunicação dos bancos centrais, para desencadear uma preferência mais convicta pelas ações.
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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