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Brasil perde espaço no cenário mundial de produção e venda de veículos
Associação das fabricantes diz que somos pouco competitivos na comparação com outros países.
O Brasil chegou a ser o quarto maior mercado de veículos do mundo e o sétimo maior fabricante. Porém, desde 2015, o país tem perdido protagonismo no cenário mundial.
Em 2020, nosso mercado foi apenas o sétimo mais importante, enquanto amargamos a nona colocação entre os maiores produtores de veículos no mundo – atrás de países menores em área e população, como México, Espanha e Coreia do Sul.
Essas informações foram divulgadas pela Anfavea, a associação das fabricantes de veículos, no início de maio, como um alerta para a situação atual da indústria automotiva brasileira.
Exportamos pouco
Além da queda na produção e venda, o Brasil também sofre por não ser um país acostumado a exportar veículos, mesmo tendo em seu território 61 fábricas, espalhadas em 42 cidades de 10 estados.
Isso quer dizer que sempre que há uma crise interna, não temos como escoar a produção excedente das nossas muitas fábricas.
Os dados de 2020 mostram quão dependentes somos do nosso mercado local. Foram 2,05 milhões de unidades produzidas. Dessas, 2,01 milhões foram vendidas dentro do Brasil. Ou seja, cerca de 400 mil unidades foram exportadas no último ano – 20% do total.
“Produzimos para nós mesmos. Isso não é nenhuma novidade, sempre tentamos aumentar as exportações, mas não conseguimos aumentar de forma substancial”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
Como comparação, o México comercializou 1 milhão de veículos em 2020, mas produziu mais de 3 vezes esse volume, com 3,2 milhões de exemplares nesse mesmo período.
Ao considerarmos os valores negociados com as exportações, o Brasil aparece como o 26º maior mercado, bem abaixo de países que sequer figuram entre os grandes fabricantes de veículos.
Foram US$ 5,8 bilhões negociados. Isso é menos que os US$ 5,9 bilhões de Portugal, US$ 10,9 bilhões da Holanda, US$ 13 bilhões da Hungria, US$ 23,6 bilhões da República Tcheca e US$ 24,1 bilhões da Eslováquia.
Somados, esses países citados têm aproximadamente 53,5 milhões de habitantes, cerca de um quarto da população brasileira.
Considerando a venda de veículos em 2020, as 5 nações, somadas, emplacaram pouco mais de 1 milhão de unidades – metade dos resultados do Brasil.
“As indústrias têm muita dificuldade de exportar. Nós competimos contra as matrizes, contras as fábricas em outros países”, falou Moraes.
Brasil não é competitivo
A conclusão da Anfavea (e provavelmente de qualquer pessoa que entenda do assunto) é que o Brasil não é competitivo, mesmo entre economias menores, como as citadas acima.
Em um ranking produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgado pela Anfavea, o Brasil é apenas o 17º país mais competitivo em um comparativo de 18 nações consideradas “em desenvolvimento”.
De acordo com esse estudo, ficamos a frente apenas dos nossos vizinhos argentinos, e bem atrás de países como Tailândia, Polônia, Chile, Rússia, África do Sul, Turquia e México, que aparecem, respectivamente, entre sexto e 12º lugar.
Entre os “calcanhares de Aquiles” do Brasil, estão quesitos como acesso a financiamento, infraestrutura e logística, tributação e ambiente de negócios. Em todos esses aspectos, ficamos entre os 3 piores países do estudo.
Em outro ranking de competitividade, desta vez elaborado em 2019 pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil é apenas o 71º colocado entre 141 nações. Novamente ficamos abaixo de México (48º) e Índia (68º).
“Defendemos as exportações, mas às vezes parece que estamos falando sozinhos, porque ninguém valoriza. O Brasil precisa se tornar um país competitivo para que a gente possa atender o mercado interno, mas ter uma indústria de transformação capaz de exportar. E não continuar exportando apenas minério de ferro e petróleo”, ressaltou o presidente da Anfavea.
Enquanto isso não acontece, assistimos indústrias fechando as portas e levando seu dinheiro para outros países. A Ford é o maior exemplo.
Entre dezembro de fevereiro, a companhia norte-americana anunciou investimentos de quase US$ 1,6 bilhão em duas fábricas: US$ 1 bilhão na unidade de Silverton, na África do Sul e outros US$ 580 milhões em General Pacheco, na Argentina.
Nesse mesmo período, a montadora anunciou que estava encerrando a produção no Brasil depois de mais de 1 século.