Colunistas

Compro crédito de carbono ou desenvolvo projetos que geram o crédito?

Colunista levanta pontos para essa equação considerando o impacto para o meio ambiente e maior retorno para as empresas.

Publicado

em

Tempo médio de leitura: 4 min

Há mais de dois anos venho respondendo à questão título dessa coluna para executivos de grandes empresas que possuem propósitos ambientais climáticos em sua estratégia ESG. No entanto, para respondê-la precisamos compreender alguns aspectos atuais do mercado de carbono e seus impactos futuros.

No final do ano passado participei de um estudo para uma empresa cliente em que os resultados mostraram que o preço do crédito de carbono em dezembro de 2022 capturados em área preservada de floresta, também conhecido como REDD++, estava acima de US$ 7 para cada crédito. Por outro lado, para desenvolver um projeto que gerasse créditos de carbono o investimento seria de cerca de US$ 4 o crédito de carbono. 

Ou seja, levando somente o fator investimento em conta na estratégia para descarbonizar a sua produção teríamos uma diferença de US$ 300 mil para cada lote de 100 mil créditos de carbono gerados ou comprados. O cálculo apresentado para o diretor financeiro da empresa foi simples: um lote de 100 mil créditos no mercado sai por US$ 700 mil e se a empresa desenvolve o projeto de geração dos créditos de carbono o investimento é de US$ 400 mil. Ou seja, só com a diferença de 300 mil dólares a empresa conseguiria comprar 75 mil créditos de carbono a mais. 

Se acrescentarmos a informação de que a empresa havia reservado US$ 150 milhões em um fundo próprio para descarbonizar sua produção, ela teria quase o dobro de créditos de carbono com o mesmo investimento ao desenvolver o projeto. Dessa forma, foi muito cristalino que a melhor estratégia é desenvolver projetos de descarbonização e não comprar créditos de carbono.

Outros pontos são acrescidos a essa equação, quando você desenvolve um projeto de geração de créditos de carbono ao invés de simplesmente comprá-los se acrescenta a ele diversos ativos intangíveis à sua estratégia, como por exemplo, será uma empresa que faz projetos que possuem alto impacto positivo no meio ambiente, na região e nas pessoas que trabalham nele ou são por ele afetados. Isso tudo é acrescido à marca da empresa. 

Outro movimento de mercado que temos que entender para saber qual a melhor estratégia para uma empresa descarbonizar é como o governo brasileiro está direcionando suas políticas de incentivo ao mercado de créditos de carbono. 

Existem dois fatores recentes diretos para que as empresas optem por desenvolver projetos de geração de carbono. O primeiro é a COP 30 – Conferência do Clima das Nações Unidas – a ser realizada no Brasil em 2025. Ela já começou a se tornar um alavancador de ações dos governos e de grupos empresariais a correrem para desenvolver projetos de geração de crédito de carbono que serão anunciados na COP de Belém. 

Isso porque, leva-se pelo menos 2 anos para se registrar um projeto novo na Verra, uma das maiores plataformas certificadoras de créditos de carbono do mundo, e mais 3 anos para conseguir o primeiro lote de créditos de carbono certificados pela instituição. Ou seja, começando o registro hoje, há tempo para ser anunciado até a COP 30 e espera-se, portanto, uma corrida pelo desenvolvimento de novos projetos por esse motivo.

O segundo fator recente para que as empresas decidam por optar pelo desenvolvimento de projetos de créditos de carbono e não pela compra do crédito para se descarbonizar foi o cancelamento da compra de créditos de carbono comunicada há duas semanas pelo BNDES para as empresas desenvolvedoras e ganhadoras da chamada pública realizada no ano passado.

O comunicado do BNDES publicado em seu site deixa bem claro que a instituição entendeu ser “necessário reestruturar a estratégia de apoio do banco” ao mercado voluntário de carbono. Esse é um movimento que demonstra que o banco não vai mais induzir o mercado de carbono através da injeção de recursos somente na compra dos créditos, ele quer participar de todas as decisões dos projetos para financiá-los.

Por fim, se você hoje quer investir no mercado de carbono deve-se ponderar muito bem qual a ponta e a estratégia que você escolherá como empresário, mas um último alerta: não deposite todas as fichas no mercado de carbono, ele ainda deve trazer muitas surpresas pela frente.

Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Mais Vistos