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Indicadores fora do padrão são estranhos, mas úteis para entender o mercado
Dados peculiares também mostram como anda a economia e para onde vão os investimentos.
Saber como anda a economia é importante para fazer investimentos. Para isso, indicadores são produzidos em nível global ou local, que apontam os aspectos relevantes da economia – dos números do Produto Interno Bruto (PIB) à taxa de desemprego, além da inflação, a atividade industrial, entre vários outros. Mas que tal o percentual de matches nos aplicativos de namoro?
É uma teoria surgida depois do estouro da bolha imobiliária americana, em 2008. O site Match.com, competidor do Tinder em popularidade entre os solteiros, divulgou na época que enquanto a economia mergulhava numa recessão, aumentava o número de usuários no serviço. Com menos dinheiro e mais tempo para ficar online, os americanos estariam mais dispostos também a encontrar alguém.
No ano passado, com as pessoas isoladas e a economia caindo no começo na pandemia, a plataforma aumentou em dez milhões o número de usuários e elevou o lucro em 13%. É um fenômeno que, segundo o “The New York Times”, ocorre desde 1994, quando surgiram os primeiros sites de namoro e se repete recessão após recessão. Não há, portanto, melhor momento para investir neste tipo de serviço do que quando a economia começa a cair.
Notícias sobre finanças nas manchetes
Mas o índice dos namoros não é o único indicador peculiar para lidar com investimentos. Dá também para observar a aparição de notícias sobre finanças em sites não dedicados à cobertura de economia. Criado pelo Bespoke, grupo americano de investimentos, o Drudge Report Headline Index compara as manchetes desde 2003 do Drudge Report, agregador de notícias popular nos Estados Unidos, e o S&P 500 para prever as viradas do mercado.
O Drudge Report não é um site de economia. Prefere as notícias sobre política e entretenimento. Se informações sobre finanças são publicadas com destaque na capa é porque há mais pessoas lendo a respeito nas publicações mais importantes do país. O que significa que pessoas que antes não prestavam atenção no mercado agora estão. E isso provavelmente está acontecendo porque a bolsa está caindo.
Mas também pode ser uma oportunidade para comprar ações. O pico de interesse sobre finanças costuma indicar o fundo do poço e a recuperação do S&P 500. Entre outubro de 2008 fevereiro de 2009, por exemplo, antecedeu o final de uma queda de 30% no índice das 500 maiores empresas, fenômeno que se repetiu em 2012 (-5,7%), 2015 (-10,1%) e 2018 (-19%) – os números de 2020 ainda não estão disponíveis.
Quando deixam a seção de economia, chegando ao público em geral, notícias, por mais assustadoras, já foram digeridas pelo mercado, abrindo espaço para um ajuste dos preços que caíram demais. Já se as notícias sobre finanças desaparecem da capa do Drudge Report ocorre o contrário. Poucas notícias indicam a bolsa subindo. As pessoas acompanham menos o mercado. É o momento que costuma anteceder as quedas.
Outros indicadores inusitados
Não são os únicos índices que fogem do padrão. O site Insider lista 54 deles. Vão do Índice Big Mac, que aponta o quanto a moeda está valorizada ou desvalorizada em relação ao dólar em cada país, à taxa de fatalidade de ciclistas, indicador de que a crise econômica se aprofundou e as pessoas não conseguem mais manter seus carros. Acabam optando pela bicicleta, aumentando o número de acidentes fatais.
E olhar o zodíaco chinês também pode ajudar os seus investimentos. Em todos os anos do dragão desde 1900, o índice Dow Jones, de Nova York, tem oferecido retorno de 7,7% ao ano. No último, 2012, a alta foi de 10%. E não é algo destituído de razão fundamentalista, por assim dizer. Segundo a “The Economist”, os chineses preferem o ano do dragão aos de outros animais do zodíaco para decisões como se casar ou comprar um imóvel, movimentando mais a economia.
É claro que ninguém deve basear as decisões de investimento só nestes índices. Mas a aparente estranheza não tira seu valor. Prevalece a regra: nunca deixe de levar em conta um bom indicador.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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