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Ações de empresas cíclicas: o investidor deve ter medo?

Ações de empresas cíclicas se tornam extremamente voláteis, flutuando intensamente em pequenos espaços de tempo; entenda.

Tiago Reis

Muitas empresas são intrinsecamente cíclicas, isto é, têm seus resultados afetados periodicamente em virtude de acontecimentos na economia real.

Empresas de commodities, como petróleo, gás natural e mineração, são um ótimo exemplo disso. Seus faturamentos e rentabilidades variam conforme os preços de mercado das mercadorias que produzem. Esses preços, por sua vez, são resultados das interações entre oferta e demanda dos produtores e consumidores da commodity.

A ciclicidade das empresas, porém, não deveria assustar investidores de longo prazo. Um value investor se preocupa com os resultados de seus investimentos ao longo de vários anos e não de apenas um. Nesse sentido, não lhe interessa que o preço do ferro esteja relativamente baixo em determinado período se ele acredita que a tendência secular do mercado é de aumentar a demanda por ferro nas próximas décadas.

O mercado, entretanto, muitas vezes reage de forma radical aos resultados das empresas cíclicas. Quando elas se encontram em partes inferiores do ciclo – isto é, suas receitas e margens estão relativamente baixas –, os preços de suas ações despencam. Por outro lado, quando se encontram em topos de ciclo – com altas margens e faturamentos –, os preços de seus papéis sobem a níveis injustificáveis.

Isso acontece, pois o mercado não é racional no curto prazo. Quando empresas se encontram em topos de ciclo, investidores costumam projetar estes bons resultados para sempre e o mesmo acontece nos momentos de baixa. A consequência é que as ações de empresas cíclicas se tornam extremamente voláteis, flutuando intensamente em pequenos espaços de tempo.

Tome o exemplo da indústria de DRAM (Dynamic Random Access Memory).

A DRAM é um tipo de componente eletrônico que chamamos de semicondutor. Semicondutores são considerados commodities high-tech, isto é, produtos tecnológicos com características de commodities. Isso acontece, pois, tipicamente, a demanda e o preço dos semicondutores respeitam um ciclo de vida pré-definido e com alta volatilidade.

Quando uma nova geração de memória é introduzida no mercado, por exemplo, os preços médios de venda iniciam muito altos, pois a oferta do produto está baixa. Nessa ocasião, as margens das produtoras são relativamente altas. Ao longo do tempo, porém, a competição entre as fabricantes cresce e, com ela, a oferta do produto, o que faz com que os preços médios de venda caiam. O resultado é uma queda progressiva na margem das empresas do setor. Esse ciclo se reinicia sempre que uma nova geração é lançada no mercado.

No gráfico abaixo, é possível observar a disposição cronológica das diferentes fases do ciclo de vida típico dos semicondutores.

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Fonte: Golding, 1972 / Freeman & Soete, 1997 / Kang, 2010

O resultado desta dinâmica sobre o faturamento de suas fabricantes é notável, como pode ser visto no gráfico abaixo.

Fonte: IHS, DRAMeXchange, TrendForce. Elaboração: Suno Research

Vale destacar, entretanto, que, apesar da alta volatilidade dos resultados das produtoras de memória, o faturamento e as margens médias do setor têm sido notadamente crescentes nas últimas décadas. Isso acontece porque as tendências seculares do segmento são muito positivas. Na medida em que a economia digital se desenvolve, mais dados são criados e a necessidade de produtos de memória para guardá-los e processá-los cresce exponencialmente. Com uma demanda crescente, os fabricantes podem aproveitar de maiores economias de escala e, portanto, suas margens e rentabilidades médias crescem.

O mercado, porém, nem sempre é capaz de observar essa indústria com uma visão de longo prazo. Quando os preços médios de venda da DRAM estão altos, as ações das produtoras de memória na bolsa sobem significativamente e o inverso acontece quando os preços estão baixos.

Para demonstrar isso, trouxemos o gráfico da cotação histórica da Micron, terceira maior fabricante de DRAM do mundo, entre 2010 e 2021. 

Fonte: Refinitiv Eikon. Elaboração: Suno Research

Vale destacar que, durante esse período, o faturamento e as margens médias da Micron cresceram consideravelmente. O mercado, entretanto, como de costume, reagiu de maneira radical às diferentes fases do ciclo de vida da DRAM, causando intensas flutuações nos preços de suas ações no curto prazo.

Investidores de longo prazo que não se deixaram assustar pela volatilidade das ações da Micron, porém, foram capazes de multiplicar seu capital por aproximadamente 10x no período.

Em suma, o que queremos demonstrar nessa edição é que a ciclicidade das empresas não é um problema contanto que suas tendências seculares sejam positivas. A volatilidade de suas ações, na verdade, pode até ser um ponto positivo, pois abre diferentes oportunidades de compra a preços injustificavelmente baixos, o que aumenta o potencial de retorno do investimento.

*A Suno é uma casa de análise especializada em conteúdo sobre investimentos e educação financeira para o pequeno investidor pessoa física.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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