Colunistas
Lançamentos mostram que hatches compactos devem ser novas ‘vítimas’ dos SUVs
Mais baratos de produzir do que outros carros, os utilitários esportivos vendem mais e geram maior lucro para as montadoras.
Faz tempo que os utilitários esportivos (tradução livre para “Sport Utility Vehicles”, ou simplesmente SUV) dominam a parada de sucessos da indústria automotiva global. Aqui a história não é diferente, tanto que o segmento não para de fazer ‘vítimas’ no mercado. Agora são os hatches compactos que podem sofrer com o sucesso dos SUVs.
Pode ser difícil entender porque a indústria se rendeu tão rapidamente aos utilitários esportivos. Mas os motivos são óbvios. Em muitos casos, os SUVs derivam de segmentos mais baratos (os modelos compactos usam base de hatch), o que também barateia o custo de produção em relação a alguns modelos de categorias superiores. Diante da alta procura, as fabricantes podem cobrar preços mais altos e, com isso, aumentar sua margem de lucro. Simples, não?
Porém, antes de falar do que vem por aí, vale olhar para trás. Desde meados da década de 2010, o público vem migrando para os SUVs em detrimento de segmentos que até então pareciam inabaláveis.
Hatches médios e sedãs foram primeiras vítimas
Tudo começou com os hatches médios. Aos poucos, eles praticamente sumiram do mapa com a chegada de nomes como o VW T-Cross, que ‘matou’ o icônico Golf por aqui. Hoje, o Chevrolet Cruze Sport6 se vira como pode diante do avanço do Chevrolet Tracker, que vende muito mais, mesmo sendo um produto menor e menos refinado.
Quem também perdeu força foram os sedãs médios. Sem o prestígio de outrora, apenas Honda Civic e o líder absoluto Toyota Corolla ainda vendem bem. E até o venerado modelo da Toyota sofre com uma briga caseira, uma vez que o recém-lançado Corolla Cross já vende mais do que o sedã.
Agora os hatches compactos é que podem estar com os dias contados.
Algumas montadoras aproveitam a base de hatches para dar origem a novos SUVs. Foi o que fez (de forma muito competente) a Volkswagen com o Nivus. Por baixo das linhas sedutoras está a base do Polo, que compartilha componentes como teto, portas, painel de instrumentos e motorizações.
Esta fórmula será seguida pela Fiat com o Pulse, que desponta como principal rival do Nivus. Embora a marca italiana não goste de dizer, o novo modelo é uma versão repaginada do Argo.
Assim como o modelo da VW, o Pulse aproveita painéis externos e peças do hatch, ainda que o design tenha diferenças expressivas. A cabine, por sua vez, terá diversos elementos exclusivos. Para não atrapalhar as ótimas vendas do Jeep Renegade, o Pulse será posicionado abaixo do queridinho dos SUVs compactos.
Novo C3: de hatch para SUV
Entretanto, a prova mais forte de que os hatches compactos podem estar com os dias contados surgiu com outra marca do grupo Stellantis. O novo Citroën C3 deixou de ser um hatch para assumir a forma de um SUV em sua próxima geração, que deve estrear em meados de 2022.
Feito no Brasil, o modelo vai abastecer os principais mercados da Citroën na América do Sul (Argentina e Chile), mas pode ser vendido em todo o continente em um futuro próximo.
O projeto foi desenvolvido por profissionais da região com supervisão europeia, de forma que o C3 terá soluções pensadas para nossa realidade. Por isso entenda-se design moderno, bom pacote de equipamentos e soluções de baixo custo para baratear o projeto.
Durante a apresentação do produto, o COO do grupo Stellantis na América do Sul, Antonio Filosa, confirmou que o C3 será o primeiro de uma inédita gama chamada C-Cube, formada por três produtos pensados para o mercado sul-americano.
Em comum, todos abrem uma nova era dentro da Citroën, na qual a marca quer ser vista como mais acessível. Curiosamente, a ideia vai contra o posicionamento histórico da empresa no país, conhecida por ser uma marca vanguardista e até com uma proposta de sofisticação.
Nissan, Renault e até VW podem acelerar ‘fim’ dos hatches
Duas marcas também podem seguir a trilha dos SUVs em vez dos hatches. A Nissan deve trazer o Magnite, utilitario esportivo subcompacto desenvolvido na Índia em conjunto com a parceira Renault, que o vende como Kiger.
Com pequenas diferenças de estilo, Magnite e Kiger são construídos sobre a plataforma modificada do Renault Kwid, que hoje é produzido em São José dos Pinhais (PR). Isso facilitaria a produção dos novos modelos por aqui.
No caso da Nissan, o Magnite já é apontado pela imprensa especializada como o sucessor ideal do March. Lançado em 2009, o hatch saiu de cena 11 anos depois sem números expressivos. A história pode ser bem diferente com o Magnite.
Até a Volkswagen estaria desenvolvendo um SUV de dimensões compactas para ampliar sua gama de opções na categoria, que hoje tem Nivus, T-Cross, Taos e Tiguan.
A questão é que o modelo teria a enorme responsabilidade de substituir o Gol, simplesmente o líder de vendas da VW e o carro mais vendido da história da marca no Brasil. Nem precisa dizer que cada passo precisaria ser cuidadosamente estudado antes da decisão final, que pode ser anunciada a qualquer momento antes do fim do ano.
*Vitor Matsubara é jornalista automotivo e editor do Primeira Marcha. Tem passagens por Quatro Rodas, de 2008 a 2018, e UOL Carros, de 2018 a 2020. |
Veja também
- IPO da Bluefit será 100% focado em expansão; vale a pena investir?
- Com ABL de 800 mil m² e Americanas no portfólio, como o HGLG11 se diferencia?
- Ações, análises e balanços; como um dia de sol afeta as previsões de lucro?
- Evergrande: a chinesa que derrubou o mercado global