Colunistas
Oportunidade ou risco: como o ESG deve ser encarado?
Sob as duas perspectivas, há vantagens e desvantagens para os investidores.
A letra G de governança do ESG foi a primeira a ser utilizada pelas empresas. Na época e até hoje, as práticas adotadas pelas organizações são olhadas pelos investidores sob a perspectiva de redução dos riscos de negócio.
No entanto, apesar de ter sido continuamente empregada para reduzi-los, passou a ser encarada pelo investidor também como uma oportunidade: empresas com boa governança trazem melhores retornos de investimento.
Ou seja, existem duas perspectivas para a estratégia empresarial hoje e para a frente: ou as empresas investem em ESG pensando em oportunidade ou sob a ótica do risco. Sob as duas perspectivas há vantagens e desvantagens para os investidores.
Na minha última coluna, escrevi sobre as duas novas normas mundiais de divulgação das informações de sustentabilidade das empresas publicadas pela Fundação IFRS, o ponto central que ambas trazem é que os problemas ambientais ou sociais devem ser encarados ou sob a égide de risco ou sob a de oportunidade.
Não se excluindo uma ou outra, na verdade, o risco continua sendo o início de qualquer pensamento sobre a estratégia sustentável da empresa.
O ponto central do debate é como gerar oportunidades em questões que em princípio são tratadas como um risco. Isso é o grande aprendizado de gestão para os executivos principais das empresas. Diretoria e conselhos de administração deveriam focar nisso nesse momento do ano que começam a ser elaborados os planejamentos estratégicos e orçamentos para 2024.
Em pesquisa publicada pela consultoria Spencer Stuart e o Instituto Diligent, foi perguntado para 992 conselheiros de empresas listadas na Bolsa ou em fase de abertura de capital dos Estados Unidos e da Europa se eles viam o ESG estrategicamente na empresa como oportunidade ou como risco.
Para 56% dos executivos europeus o ESG é encarado como oportunidade e para 13% como risco. Em contraste a 34% de americanos que optaram por serem mais conservadores adotando o risco como o caminho a ser pensado em relação às decisões de sustentabilidade.
Por outro lado, 30% dos conselheiros americanos optaram por buscar oportunidades através do ESG. Ou seja, o caminho da oportunidade começa a se tornar mais visível para as empresas americanas e pode ser que em 1 ou 2 anos tenha-se algo igualável à visão dos participantes europeus da pesquisa.
Invariavelmente, a decisão tomada sempre levará em conta as duas perspectivas.
De qualquer forma, a pressão dos investidores para que as empresas invistam em ESG está cada vez maior. No que diz respeito a empresas grandes brasileiras que possuem muitos investidores estrangeiros, ainda maior.
Se uma empresa deseja receber financiamento para um projeto ou decide abrir capital em bolsa de valores esse grau aumenta ainda mais. Não há caminho estratégico hoje sem o ESG em sua trajetória, seja ela apontada para o risco ou para a oportunidade.
Decidir se vai tratar o ESG como risco ou como oportunidade é algo que tem que estar na mesa de qualquer diretoria ou conselho de administração. É um rumo que precisa ser definido no curtíssimo curto prazo. Essa decisão pode ser determinante para a decisão do investidor em investir em uma ou outra empresa.
*Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.
*As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
Veja também
- BB Asset busca parcerias para alcançar R$ 2 trilhões em ativos
- Imóveis mundiais perderão 9% do seu valor por conta de tragédias climáticas
- A boiada passa, chega a conta e fica a pergunta: quem vai pagar?
- Desastres climáticos: a função social das empresas e o novo papel do investidor
- Cadeia produtiva é pilar para estabelecer círculo virtuoso da agenda ESG