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Regras são criadas e o cerco começa a se fechar no mundo da sustentabilidade

Empresas que não têm estratégias no seguimento podem perder espaço entre os investidores.

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Para aqueles que ainda não levam a sério a sustentabilidade, um aviso: o cerco está se fechando. Se até pouco tempo a falta de regras claras dificultava a fiscalização de iniciativas empresariais e financeiras propagandeadas como sendo baseadas no conceito Environmental, Social and Governance (ESG), a cada ano surgem regras e regulações que têm ajudado a definir, com maior precisão, quem é sustentável e quem é apenas marqueteiro.

Com a popularização do tema nos últimos anos, principalmente quando a BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, anunciou em 2019 que começaria a dar preferência para empresas cuja gestão era voltada à sustentabilidade, houve crescimento do número de companhias e de fundos de investimentos se dizendo sustentáveis. Mas cada uma adotava o critério que lhe convinha. Grande parte não passava – e ainda não passa – de marketing para conquistar o público.

No ano passado, porém, a União Europeia estabeleceu regras a fim de regular o crescimento da “sustentabilidade” no setor financeiro. Gerentes de fundos que investem em linha com os conceitos ESG têm de seguir, dentro do bloco, a regra estabelecida chamada de Regulação de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR, na sigla em inglês).

Aqui no Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) seguiu o mesmo caminho. Desde o início deste ano, as companhias de capital aberto são obrigadas a preencher um formulário de referência com dados sobre inventário de CO2, disparidade salarial, diversidade, entre outros temas diretamente ligados aos conceitos ESG.

Acompanhando a CVM, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), entidade que defende os interesses do mercado e regula as atividades dos profissionais da área, instituiu em seu  Código de Administração de Recursos de Terceiros, critérios para identificação de fundos sustentáveis. O prazo para adequação terminou em 4 de julho. 

Fundos que têm a sustentabilidade como propósito poderão usar o sufixo IS (Investimento Sustentável). Os fundos que não têm a sustentabilidade como propósito, mas que em suas composições incluem alguma coisa ESG, não poderão usar o sufixo, apenas informar sobre essa condição. E os fundos que não comprovem serem sustentáveis deverão excluir qualquer termo que remete a isso no nome, como ESG, ASG, verde, impacto, entre outros.

Está cada vez mais difícil “fazer de conta que é sustentável”. Hoje, as regras pressionam principalmente gestores de fundos e empresas de capital aberto. Se o gestor corre o risco de ser punido, ele tende a ser criterioso na montagem e gestão de seus fundos. Com isso, as empresas interessadas em receber investimentos se veem obrigadas a desenvolverem e implantarem uma política ESG séria. Nada mais correto considerando que, segundo levantamento do Bank of America, em 2021, para cada US$ 3 investidos em fundos em todo o mundo, US$ 1 foi destinado aos chamados fundos ESG.

Da mesma forma que a procura por ativos sustentáveis tendem a aumentar ano a ano, as regras igualmente tendem a ser amplificadas, atingindo a todos os setores econômicos. É um processo lento, que se consolida através do tempo. E é bom ter regras claras e abrangentes. Segurança na hora de escolher um investimento ou produto verdadeiramente sustentável é tudo o que precisamos.

*Marcos Rodrigues é sócio da BR Rating e da MRD Consulting. C-Level e membro de Conselhos nas áreas de tecnologia, serviços, indústria, saúde, varejo, educação e transporte no Brasil e exterior.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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