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Reuniões na praia, decisões na nuvem: Inteligência Artificial como co-CEO*
Pesquisa mostra que quase metade de executivos C-Level considera que seu trabalho pode ser substituído por IA. E isso é muito bom
Eric Yuan, fundador e CEO da Zoom, disse em uma entrevista recente que está cansado de gastar seus dias em reuniões e respondendo e-mails. Sim, até quem comanda a empresa que virou sinônimo de videoconferência não vê necessidade de participar de tantas delas. Yuan prevê — e diz que sua companhia está trabalhando para realizar essa visão — que, em um futuro próximo, não precisará entrar na maior parte das reuniões. “Vou poder mandar uma versão digital minha e ir à praia”, disse.
Sua visão de “gêmeo digital” não serviria só para reuniões. Ele acredita que uma Inteligência Artificial bem treinada leria e responderia a maioria dos e-mails — passando para ele responder apenas dois ou três por dia que realmente merecessem uma decisão mais complexa ou input cuidadoso.
A ideia de uma versão digital – controlada por inteligência artificial e capaz de assumir as atribuições de um chefe – não é nova. Jack Ma, fundador da Alibaba, previu em 2017 que em 30 anos “um robô estaria na capa da Time como CEO do ano”.
Com o avanço de ferramentas como o ChatGPT, a ideia que parecia absurda começa a ser compartilhada por muitos líderes. Uma pesquisa da plataforma de educação EdX feita com 800 executivos C-Level mostrou que quase metade (47%) considera que “a maior parte” ou “todo” o trabalho de um CEO pode ser completamente automatizado ou substituído por IA. Entre os CEOs consultados, o nível de concordância é ainda maior (49%).
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Substituindo um CEO na prática
Mas como seria, na prática, usar a IA para substituir um CEO? Podemos ter pistas disso em exemplos pontuais mundo afora. A Nail Communications, uma agência de Relações Públicas nos EUA, tinha um problema de ter um cliente com um CEO microgerenciador. Era um daqueles gestores que precisam olhar qualquer peça ou comunicado, o que travava a aprovação e entregas. Para evitar atrasos, a empresa criou o que chamou de “versão sintética” do CEO — uma espécie de GPT customizado, treinado com dados reais, incluindo questionários, entrevistas e histórico de aprovações. As novas peças começaram a ser “pré-aprovadas” pela versão artificial do chefe, que gostou da ideia.
“O resultado foi um modelo que tem sua perspectiva única, permitindo testar ideias, antecipar feedbacks e verificar se estamos muito fora do caminho. Tudo isso enquanto dá ao cliente uma presença e influência no processo criativo que nunca tiveram antes”, contaram os executivos da empresa.
Em um sentido mais amplo, pensando em aprendizado de máquina, o CEO pode ser visto como um “algoritmo de decisão”. O trabalho que envolve analisar dados e relatórios para fazer uma escolha pode ser executado por uma IA bem treinada no domínio específico da companhia, com histórico e exemplos anteriores, prioridades etc. Os grandes modelos de linguagem (LLMs), como ChatGPT e Copilot, podem auxiliar a transformar dados não-estruturados — apresentações, entrevistas, gravação de reuniões — em informações legíveis por esses algoritmos.
Faça você mesmo um teste
Soa técnico demais? Se você ainda não fez, pode ter uma amostra de como isso funciona no próprio ChatGPT. Experimente subir uma apresentação em PowerPoint na janela de chat com os resultados trimestrais da sua empresa e peça para ele assumir o papel de CEO ou CFO. Comece a fazer perguntas estratégicas, pedindo o racional para cada sugestão. Veja o quanto as decisões batem com o que está sendo decidido na sala de reuniões principal. De repente, a ideia não parece tão absurda.
Para alguns, como o CEO da Zoom, o prospecto de um avatar decisor pode ser animadora. Para outros, pode significar uma diminuição da importância — e potencialmente do status e rendimento. Afinal, se o ChatGPT pode dizer qual caminho maximiza o lucro e a sua versão “sintética” pode aprovar a campanha mais aderente à nova estratégia, o que sobra para o executivo de carne e osso?
Muito ainda. De acordo com estudo publicado na Harvard Business Review, privilegia-se cada vez mais as soft skills na hora de contratar para cargos de liderança em grandes empresas. Comunicação eficaz, empatia, capacidade de resolução de conflitos, adaptabilidade e liderança inspiradora são atributos que são difíceis de visualizar em uma IA. Focar nelas – e menos na habilidade em ler planilhas e relatórios para tomar decisões – pode ser um raro ganha-ganha. Ao menos por enquanto.
*Este título foi sugerido pelo ChatGPT depois de ler o texto.
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