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Ricardo Schweitzer

Não, não é ‘hora de investir em ações’

A maioria dos investidores sobrevaloriza o timing em suas decisões.

Celular com gráfico ilustrando movimento de ações no ibovespa

Simplesmente não tem jeito.

Seja qual for o ambiente, o contexto… sempre que sou apresentado a alguém, a inescapável pergunta vem:

“E aí? Essa é uma boa hora para investir na bolsa?”

Pois bem. Já que esta é minha estreia aqui no InvestNews – ou seja, há boas chances de você estar me conhecendo agora -, resolvi me antecipar à pergunta que provavelmente você me faria se pudesse.

A resposta é não.  

Calma. Não precisa sair correndo para as montanhas. Ou para o Tesouro Direto. Ou, tanto pior, para a poupança… vem comigo que eu te explico.

Em sua grande maioria, os pequenos investidores são altamente sensíveis ao tal do timing. Isso tem muito a ver com a forma como investimentos em renda variável se fazem presentes no imaginário popular: aquela ideia de que você vai ficar rico comprando na baixa e vendendo na alta, pulando de ação em ação; tudo muito dinâmico e divertido.

A premissa é de que as decisões de quando comprar quando vender são de vital importância para o resultado final. Não por acaso, já ouvi de muitas pessoas que não investem porque não têm tempo de acompanhar o mercado.

Trago boas novas: não, não precisa ser assim.

Óbvio que determinadas estratégias são mais demandantes do que outras – e, diga-se de passagem, não necessariamente entregam melhores resultados. Mas a grande maioria dos investidores pode simplesmente abrir mão disso.

Recentemente tomei contato com um estudo que comparou o desempenho de duas estratégias distintas. Foi feito no mercado americano, mas dificilmente traria resultados diferentes em território tupiniquim.

A primeira carteira representa o estereótipo do investidor de bolsa; aquela idealização que só existe no nosso imaginário e nas redes sociais (já percebeu como nelas ninguém perde dinheiro nunca?): o sujeito compra mais ações a cada correção do mercado, exatamente no preço mínimo, acertando em cheio os fundilhos da mosca.

A segunda representa um perfil muito menos divertido: todos os meses, estivesse o mercado para cima ou para baixo, o sujeito fazia um novo aporte. Tudo perfeitamente linear ao longo do tempo.

O teste foi feito para diversas janelas de tempo, ao longo de décadas de dados de mercado. E o resultado não poderia ser mais reconfortante para quem tem mais o que fazer da própria vida: mesmo esse hipotético investidor super-homem, que sempre acerta o momento perfeito de comprar, acaba tendo um desempenho de longo prazo pior do que o investidor que tediosamente faz a mesma coisa todo santo mês. Na grande maioria das janelas de tempo analisadas.

E a razão de ser é simples: ao ficar esperando a hora certa de fazer alguma coisa, você corre o enorme risco de ficar de fora até a próxima queda – que, salvo leve o mercado para um nível inferior ao do ponto de partida, ainda assim representará comprar mais caro do que o colega que simplesmente fez seu aporte e foi cuidar da própria vida.

Essa hipersensibilidade ao timing do pequeno investidor típico transborda para outro aspecto, que é a sensação constante de que precisa fazer alguma coisa.

Recorro a mais um estudo gringo. A Fidelity é uma das maiores empresas de investimentos dos EUA (e, por conseguinte, desta bola azul que habitamos). Tempos atrás eles resolveram averiguar o que tinham em comum os clientes que tinham auferido os melhores retornos.

Seriam eles melhores em escolher quais investimentos fazer? Seriam eles mestres do market timing? Seriam eles mais agressivos? Mais conservadores?

Em comum havia o fato de estarem quase todos mortos.

Eram contas que, na maioria, pertenciam a pessoas que já haviam falecido. Em outros casos, se tratavam de planos de previdência que haviam ficado esquecidos pelos titulares em razão de mudanças de emprego. 

Em ambos os casos, o resultado era o mesmo: carteiras que haviam se mantido inalteradas ao longo do tempo, inabaladas diante da infinita torrente de notícias e factoides que tiram o meu e o seu sono.

Fica a reflexão. Da próxima vez que alguém perguntar a você – ou, ainda melhor, da próxima vez que você próprio(a) se perguntar – se essa é uma boa hora para comprar ações, questione(-se) primeiro se a pergunta faz sentido; se a premissa está correta.

Concentre-se mais em comprar boas empresas a bons preços. E use o tempo a seu favor.

Particularmente, acho os resultados desses estudos uma verdadeira dádiva. Democratiza o acesso aos investimentos, pois permite que qualquer um aufira bons resultados com uma estratégia simples de implementar, que prescinde da gestão frenética dos próprios investimentos – quase como se fosse um segundo emprego, como muito já vi por aí.

Nem vou entrar no mérito do ganho monstruoso de qualidade de vida que isso pode representar para muita gente. A ideia não é deixar o dinheiro trabalhar por você? Pois então: deixe-o trabalhar e vá viver sua vida.

E então? O que me diz? Será que você não poderia (e deveria!) soltar um pouco a mão da sua carteira?

* Ricardo Schweitzer é economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Acumula quase 15 anos de experiência no mercado de capitais, principalmente como analista de investimentos. Após anos de trabalho junto a investidores institucionais (Adviser Asset Management, Fundação CEEE de Seguridade Social, Sicredi Asset Management, Banco Votorantim e outros), voltou-se ao investidor de varejo: atuou na Empiricus Research, na Inversa Publicações e co-fundou a Nord Research. Atualmente é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional.
Twitter: @_rschweitzer, Instagram: @ricardoschweitzer

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