Economia

3 fatos para hoje: Japão evita recessão; pandemia tirou renda da classe média

E mais: PT quer esclarecimentos de Campos Neto, presidente do BC, sobre política monetária.

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1 – Japão evita recessão mas recuperação no 4º tri é fraca

A economia do Japão evitou a recessão mas se recuperou muito menos do que o esperado no quarto trimestre uma vez que o investimento empresarial caiu, um sinal do desafio que o banco central enfrenta na eliminação gradual de seu programa de estímulo.

Embora o consumo privado esteja resistindo aos obstáculos do aumento do custo de vida, as incertezas sobre as perspectivas econômicas globais pesarão sobre a recuperação tardia do Japão em relação às cicatrizes da pandemia da Covid-19, dizem analistas.

A terceira maior economia do mundo expandiu uma taxa anualizada de 0,6% no último trimestre do ano passado, depois de ter caído 1,0% entre julho e setembro, mostraram dados do governo nesta terça-feira.

O aumento do Produto Interno Bruto (PIB) foi muito menor do que a expectativa do mercado de um crescimento de 2,0%, devido a uma queda nos gastos de capital e nos estoques.

“A partir de um crescimento negativo em julho-setembro, a recuperação não é muito impressionante”, disse Toru Suehiro, economista-chefe da Daiwa Securities.

“Podemos esperar que o consumo aumente à medida que os gastos com serviços se estabilizem. Mas é difícil projetar uma forte recuperação em parte devido à pressão da inflação crescente”, disse ele.

Os dados fracos destacam a delicada tarefa nas mãos de Kazuo Ueda, indicado pelo governo para se tornar o próximo presidente do Banco do Japão, conforme ele traça um caminho para normalizar a política ultrafrouxa do banco sem afetar a frágil recuperação econômica.

2 – Diretório Nacional do PT decide apoiar convocação de presidente do BC ao Congresso

Em mais uma investida contra a taxa de juros, o Diretório Nacional do PT decidiu apoiar uma convocação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao Congresso para prestar esclarecimentos sobre a política monetária, informou a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

Segundo Gleisi, o posicionamento do partido será formalizado em resolução do diretório, e pode ser convertido para um convite a Campos Neto, desde que ele se disponha a ir ao Parlamento.

“Tiramos o posicionamento do PT de chamar o presidente do Banco Central, convocar o presidente do Banco Central para fazer explicações ao Congresso Nacional”, disse Gleisi, argumentando que se Campos Neto tem se disponibilizado a entrevistas, pode também falar com os parlamentares.

“É importante que ele vá também ao Congresso Nacional, que é a Casa representativa do povo brasileiro. Então essa foi a nossa posição hoje no Diretório Nacional.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe para o centro do debate a taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, e questiona a razoabilidade do patamar em comparação a outros países.

Segundo Gleisi, no debate interno do PT “todos” concordaram com a posição de Lula.

“Achamos exagerado os juros que tem. Achamos importante rediscutir a meta da inflação”, afirmou a presidente do partido.

Mais tarde, em ato em comemoração de 43 anos da legenda, Gleisi defendeu que o debate econômico ocorra “sem medo”, seja sobre a política monetária, fiscal ou cambial.

“Está na hora de enfrentarmos esse discurso mercadocrata dos ricos desse país, que temos risco fiscal. Qual risco? De não pagar a dívida? Mentira. Nossa dívida é toda em reais, numa proporção razoável do PIB”, argumentou a presidente do PT, em discurso no ato partidário.

“Eles mentem, e o Banco Central, uma autarquia do Estado brasileiro, corrobora com a mentira, impondo um arrocho de juros elevados ao Brasil. Isso tem que mudar. Temos um mercado antiquado, atrasado que não percebeu ainda as mudanças internacionais.”

O Diretório Nacional do PT reuniu-se na segunda-feira pela primeira vez desde a eleição de Lula para discutir a atual conjuntura, assuntos internos e informes.

SINAIS

Já tramita, na Câmara dos Deputados, um requerimento apresentado pelo aliado PSOL para que Campos Neto tenha que explicar pessoalmente a condução da política monetária. O líder do PT na Casa, deputado Zeca Dirceu (PT-PR), já havia se antecipado e anunciado no Twitter ter assinado o pedido.

“Assinei o requerimento convidando o presidente do Banco Central, como qualquer autoridade, para vir à Câmara explicar, dar satisfação. Para mim, ele vai ter de explicar o inexplicável”, publicou o líder petista.

O requerimento precisa ser votado pelo plenário. Não há convocação, no sistema da Câmara, de sessões deliberativas para esta semana.

Na reunião do diretório desta segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também criticou a taxa de juros, informou uma fonte, embora tenha admitido que não esperava qualquer mudança na política monetária na última reunião do Copom que decidiu não alterar a Selic. Haddad teria manifestado ainda a expectativa de que o BC sinalize uma redução das taxas até o fim do ano.

A autonomia do Banco Central também entrou no debate, mas ministros de Lula e lideranças aliadas têm, em diversas declarações, negado qualquer intenção de mexer nesse quesito.

O PSOL, no entanto, apresentou à Câmara um projeto que altera as regras de autonomia do Banco Central, que determinam, entre outros pontos, a não coincidência dos mandatos do presidente do BC e do presidente na República.

A lei da autonomia também prevê que o presidente do BC deve apresentar semestralmente, no Senado, relatórios de inflação e de estabilidade financeira explicando as decisões tomadas no período anterior.

3 – Pandemia tirou renda da classe média e aumentou desigualdade no Brasil, mostra FGV

Homem faz teste de Covid-19 em Porto Alegre 20/01/2022 REUTERS/Diego Vara

A desigualdade de renda no Brasil aumentou no Brasil durante a pandemia, mesmo com o pagamento do auxílio emergencial, por causa da perda de renda da classe média, mostra o estudo Mapa da Riqueza, preparado pela Fundação Getúlio Vargas.

Com base em dados do Imposto de Renda, os pesquisadores Marcelo Neri e Marcos Hecksher mostram que a desigualdade de renda no país é maior do que a calculada com os dados de renda do IBGE, coletados nas Pesquisas por Amostra de Domicílio (Pnad). Usando os dados da Pnad e do IR, o índice de gini – que mede a desigualdade de renda – chega a 0,7068 em 2020, contra 0,7066, bem acima dos 0,6013 calculado apenas com a Pnad, quando mostrava uma queda ante 0,6117 do ano anterior.

“Se a fotografia da distribuição de renda é péssima, o filme da pandemia também é. Neri e Hecksher (2023) mostram que, mesmo com o Auxílio Emergencial que preservou a renda dos mais pobres, a desigualdade não caiu em 2020, como se acreditava. Isso porque o ganho da classe média tupiniquim teve desempenho muito pior que o dos mais ricos”, aponta o estudo. “As perdas dos mais ricos (dos 1%+ foi -1,5%) foram menos da metade das da classe média tupiniquim (-4,2%), a grande perdedora da pandemia.”

O Mapa da Riqueza mostra, ainda, que o Distrito Federal continua sendo a unidade da federação com maior renda per capita do país – 3.148 reais – e patrimônio declarado – 94.684 reais -, enquanto Maranhão, com respectivamente 409 reais e 6.329, se mantém como o mais pobre.

Os dados do estudo mostram, no entanto, que uma grande parte da população não chega nem mesmo a alcançar renda suficiente para declarar o imposto de renda. Em 24 das 27 unidades da federação e 16 das capitais brasileiras, 80% ou mais da população não fez a declaração, mostrando que tem renda menor do que 2 mil reais.

Ao mesmo tempo, o estudo mostra bolsões de riqueza pelo país. No Distrito Federal, os moradores do bairro Lago Sul tem renda média próxima dos 40 mil reais, e o patrimônio em torno de 1,4 milhão de reais – maior do que a renda de qualquer município brasileiro.

Entre os 20 municípios mais ricos do país com população acima de 50 mil habitantes, todos são nas regiões Sul e Sudeste – Nova Lima (MG), com renda média de 8.897 está em primeiro lugar – enquanto os 10 mais pobres, também com população acima de 50 mil pessoas, ficam nas regiões Norte e Nordeste. Brejo da Madre de Deus (PE) tem a menor renda per capita, 659 reais.

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