Economia
3 fatos para hoje: KPMG alertou Americanas sobre crise; Brics e IPC
China e Rússia querem aumentar membros dos Brics.
KPMG alertou Americanas sobre falta de controle financeiro em 2019, diz sócia à CPI
A administração da Americanas (AMER3) recebeu vários alertas sobre as deficiências contábeis da companhia e a necessidade de melhorar os controles internos, disse uma sócia da KPMG nesta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o caso.
A Americanas, que entrou com pedido de recuperação judicial em janeiro após revelar um escândalo atualmente calculado em mais de 25 bilhões de reais, estava ciente das deficiências e rescindiu o contrato com a KPMG depois que a empresa de contabilidade invejou uma carta de controles internos , disse Carla Bellangero, sócia da KPMG no Brasil.
Um relatório de meados de junho, elaborado com base em informações de um comitê independente e de assessores da Americanas e publicado pela varejista atribuiu uma fraude a ex-executivos.
Além disso, também em junho, o depoimento à CPI do atual presidente do varejista, Leonardo Coelho, que assumiu a carga após o início da crise, teve dúvidas sobre a potencial participação de bancos e empresas de auditoria no caso.
Bellangero disse nesta terça-feira que a KPMG, que auditou de 2016 a 2019 as contas da B2W e da Lojas Americanas não encontrou manifestações de fraude em nenhuma das empresas. Em 2021, as duas companhias se fundiram para formar a atual Americanas.
No entanto, a KPMG encontrou “deficiências” no controle de verba de propaganda cooperativa e instrumentos semelhantes, disse Bellangero. Esses contratos são fechados entre varejistas e fornecedores para divulgação de determinados produtos.
A KPMG sinalizou a necessidade de melhorias nas contas das empresas, inclusive no orçamento desses contratos de propaganda, chamados de VPCs, para os diretores financeiros da Lojas Americanas e da B2W em agosto de 2019, afirmou Bellangero.
“Como não obtivemos nenhuma resposta desse e-mail, emitiu uma carta de controles internos para chamar a atenção da administração sobre a necessidade de melhorias”, acrescentou ela.
Seis dias depois, a Americanas rescindiu seu contrato com a KPMG, disse Bellangero. Na época, a B2W e as Lojas Americanas citaram “circunstâncias comerciais” como justificativa.
Procurada pela Reuters, a Americanas disse em nota que “a substituição da auditoria externa KPMG pela PWC em 2019 conto com a anuência da própria empresa de auditoria, que posteriormente manteve relação contratual com a companhia”.
As irregularidades contábeis da Americanas totalizam cerca de 25 bilhões de reais, e foram realizadas ao menos desde 2016 até 2022 e envolvidas dezenas de funcionários, com falsificação de contratos de VPCs e contabilização de transações com bancos, conforme informações divulgadas pela própria empresa e por Coelho.
Fabio Cajazeira Mendes, líder de auditoria da PwC, empresa que auditava os balanços da Americanas desde 2019 até este ano, disse que tal fraude, se comprovada, teria sido sofisticada e com conluio de ex-diretores.
Em casos como esse, disse ele, “há, infelizmente, a possibilidade de que essa fraude não seja detectada”.
Essa foi a primeira vez que representantes de empresas que prestaram serviços de auditoria para Americanas deram declarações com detalhes sobre o caso, à medida que até então as companhias indicaram se posicionadas de modo mais alegando necessidade de sigilo das informações.
Bellangero e Mendes ainda alegaram que foram tiradas de contexto comunicações entre as auditorias e executivas da Americanas, divulgadas por Coelho em junho à CPI e que apontavam para a suposta modificação da redação de documentos contábeis após pedidos da loja.
Em sua nota, a Americanas reafirmou ainda em relação aos apresentados por Coelho à CPI sobre mudança, pela KPMG, da Carta de Controles Internos, “que tal alteração foi realizada para reclassificar a VPC de ‘recomendações que mereceram atenção da Administração’, para ‘Outras Recomendações’, fazendo com que tal item deixesse de ser considerado como deficiência significativa”.
A Americanas reiterou também que “o relatório apresentado à CPI é preliminar e foi entregue às autoridades competentes, que conduziram suas próprias investigações”.
O ex-presidente da Americanas Miguel Gutierrez, que deixou a empresa no final de 2022, também deveria depor nesta terça-feira, mas alegou problemas de saúde. Procurado, o empresário não se posicionou.
Fábio Abrate, ex-executivo da companhia e ex-diretor de relações com investidores da B2W, compareceu ao depoimento, mas se competiu a responder aos parlamentares.
- Confira a as ações da Via Varejo (VIIA3)
Em minoria, o Brasil vê com ressalvas estendidas do Brics defendido pela China e Rússia
A próxima cúpula do Brics, no final de agosto, em Joanesburgo, terá que resolver uma questão central para o futuro do bloco: a decisão de aceitar novos membros, em um movimento de forte pressão da China e apoiado pela Rússia , mas visto com ressalvas pelo Brasil, que admite estar em minoria na discussão, informou três fontes com conhecimento das discussões.
O tema vem dominando as conversas preparatórias para a cúpula entre os membros do grupo — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — desde que os chineses pediram que se cheguem a um acordo sobre critérios para admissão de mais membros durante a cúpula, que será a primeira presencial desde 2019, ocorrida no Brasil.
Atualmente, cerca de 30 países já declararam interesse em aderir, enquanto 22 apresentaram formalmente suas candidaturas. Entre os principais candidatos de hoje, e os que mais pressionaram pela entrada, estão Arábia Saudita, Emirados Árabes, Irã, Egito e Etiópia. A Argentina também está entre os candidatos, mas uma das fontes destacadas que a insistência do país pode não se manter depois das eleições deste ano, o que é algo a ser observado.
Enquanto a China e a Rússia se entusiasmaram como uma possibilidade de aumento de poder político no cenário global, o governo brasileiro teme uma diluição da influência do bloco.
“Uma extensão pode transformar o bloco em outra coisa. A posição do Brasil tem sido se preocupar com a coesão do grupo com alguma preservação do nosso espaço em um grupo de países importantes”, disse à Reuters uma das fontes envolvidas nessa negociação.
Outras duas fontes do governo que participaram das conversas, inclusive viajando para encontros preparatórios em Joanesburgo, corroboraram a mesma posição brasileira.
Não se espera que a cúpula termine com a decisão pela incorporação de novos países, apesar de nomes já estarem circulando. A decisão foi por uma discussão para estabelecer critérios e princípios, mas o governo brasileiro admite que está em uma posição minoritária.
A China sempre foi uma defensora ferrenha da extensão do bloco, e a pressão aumentou recentemente por questões geopolíticas, com o crescimento da disputa comercial entre os Estados Unidos e o país asiático, que terminou por envolver também os europeus.
Em uma resposta escrita à Reuters, o governo chinês afirmou que desde sua criação os Brics se transformou em uma “força positiva, estável e construtiva nos temas internacionais” e confirmou que defende novas adesões em breve.
“A China sempre advogou que o Brics é um mecanismo aberto e tolerante, e apoia a expansão de seus membros, e dá as boas-vindas a novos membros com os mesmos princípios para se unirem à ‘família Brics’ brevemente”, afirmou.
Já a Rússia, que era contrária à extensão, mudou de posição, também por uma necessidade de se contrapor ao G7 e ter mais aliados em meio à invasão da Ucrânia.
Nesta terça-feira, um porta-voz do governador russo confirmou que esse será o tema central da cúpula, da qual o presidente Vladimir Putin não participará, já que há pedidos internacionais de prisão contra ele.
“Esse é um tópico muito importante. Nós vemos mais e mais países declarando seu desejo de se unir aos Brics”, disse o porta-voz de Dmitry Peskov.
A Índia, que também era contrária, passou a defender novos membros no último mês, de acordo com diplomatas brasileiros, o que deixaria o Brasil em uma posição minoritária. No entanto, uma fonte do governo indiano afirmou à Reuters que o país ainda tem reservas em relação à expansão. “Se isso acontecer, tem que acontecer através de consenso”, disse, acrescentando que o país sempre defendeu uma política consistente para novos membros.
Decisão por consenso
O que se tenta agora é chegar em um acordo sobre critérios. O governo brasileiro defende que o processo seja gradual e com equilíbrio regional, e que se preserve de alguma forma o espaço dos membros originais.
A proposta é que novos membros sejam admitidos como países parceiros, e não membros plenos, como é feito em outras organizações. Os parceiros participariam das cúpulas, mas algumas ações do bloco, hoje em vigor, seriam limitadas. Seria uma forma de experimentar sem desfigurar o bloco e sem trazer o envolvimento que um grande aumento poderia causar.
Uma proposta da África do Sul aponta Arábia, Emirados, Egito e Indonésia como os primeiros candidatos, mas o Brasil vê aí também uma distração regional.
Representante da África do Sul no Brics, Anil Sooklal destacou que o princípio que guia os negócios no bloco é o consenso. “Se não tem consenso não tem acordo”, disse.
Com uma posição quase didática hoje, dificilmente o Brasil terá chance de sair vitorioso e os próximos anos devem ver uma introdução do bloco, criado formalmente em 2006 com uma reunião de chanceleres — na época, apenas como Bric, ainda sem a África do Sul , que ingressou em 2011.
Com a necessidade de consenso, o formato da tomada de decisões permitiria ao Brasil barrar algo que o desagrade, mas essa não é a tônica da diplomacia brasileira, diz uma das fontes.
“A gente vai ter que ceder em algum momento porque a gente é realista e o Brasil negocia, não é da nossa índole barrar. Mas provavelmente vai ser ruim e a gente vai ter que construir outros espaços internacionais”, disse a fonte.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu; reportagem adicional de Laurie Chen, em Pequim; Krishn Kaushik, em Nova Délhi; Tim Cooks, em Johanesburgo; e Gareth Jones, em Moscou)
IPC-Fipe cai 0,14% em julho e deixa inflação acumulada em 2023 em 1,92%
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação na cidade de São Paulo, caiu 0,14% em julho, aprofundando queda em relação ao declínio de 0,03% de junho e também frente ao recuo de 0,01% visto na terceira quadrissemana do mês passado, segundo dados publicados nesta quarta-feira, 2, pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
O resultado de julho ficou abaixo das estimativas de instituições de mercado consultadas pelo Projeções Broadcast, de baixa de 0,01% a acréscimo de 0,03%, com mediana de +0,02%.
Entre janeiro e julho, o IPC-Fipe acumulou inflação de 1,92%. No período de 12 meses até julho, o índice subiu 3,66%, vindo também abaixo das expectativas, que iam de 3,79% a 3,98%.
No sétimo mês de 2023, quatro dos sete componentes do IPC-Fipe desaceleraram ou caíram em ritmo mais forte: Habitação (de 0,25% em junho a 0,10% em julho), Alimentação (de -0,80% a -1,10%), Despesas Pessoais (de 0,51% a 0,07%) e Vestuário (de 0,32% a 0,11%).
Por outro lado, houve aceleração de junho para julho nas categorias Transportes (de -0,25% a 0,33%), Saúde (de 0,43% a 0,48%) e Educação (de 0,14% a 0,25%).
Veja abaixo como ficaram os componentes do IPC-Fipe em julho:
– Habitação: 0,10%
– Alimentação: -1,10%
– Transportes: 0,33%
– Despesas Pessoais: 0,07%
– Saúde: 0,48%
– Vestuário: 0,11%
– Educação: 0,25%
– Índice Geral: -0,14%
*Com Reuters e Estadão Conteúdo.
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