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A fumaça dos incêndios em Los Angeles traz um custo oculto para a saúde

Estruturas queimam durante o incêndio de Eaton em Altadena, Califórnia, EUA. Foto: Jill Connelly/Bloomberg

Los Angeles teve uma das piores qualidades de ar do mundo esta semana, uma vez que a fumaça dos grandes incêndios florestais cobre a região e ameaça a saúde de muito mais pessoas do que os afetados diretamente pelos próprios incêndios. E isso acabará aumentando o custo econômico.

Quase 180 mil pessoas foram forçadas a abandonar suas casas e pelo menos 10 mil estruturas foram destruídas ou danificadas. Prevê-se que os incêndios causem perdas seguradas de US$ 20 bilhões, segundo analistas do JPMorgan Chase. Essa projeção de danos não leva em conta nem mesmo os prováveis altos impactos da fumaça sobre a saúde, que causam anualmente bilhões de dólares em custos ocultos relacionados à saúde nos EUA.

É difícil exagerar o quanto a fumaça dos incêndios florestais é perigosa. “Há muitos poluentes preocupantes na fumaça de incêndios florestais”, incluindo ozônio, monóxido de carbono e outros gases tóxicos, diz Debra Hendrickson, pediatra de Reno que escreveu o livro The Air They Breathe (O Ar que Eles Respiram, em tradução livre) sobre como a mudança climática ameaça a saúde das crianças. Pequenas partículas na fumaça, chamadas de material particulado 2,5 ou PM2,5 – e partículas ultrafinas ainda menores, conhecidas como PM0,1 – também representam uma ameaça, em grande parte porque podem penetrar profundamente nos pulmões, “entrar na corrente sanguínea e atingir todos os órgãos do corpo”, diz Hendrickson.

A maior parte da pesquisa sobre os perigos da exposição humana ao PM2.5 baseia-se na poluição liberada pela queima de combustíveis fósseis. Mas pesquisas mais recentes sugerem que as partículas de fumaça de incêndios florestais são igualmente perigosas, se não mais.

O que é certo é que a exposição à fumaça de incêndios florestais pode causar inúmeros problemas respiratórios, de acordo com Catharine Giudice, médica emergencista e pesquisadora de mudanças climáticas e saúde humana do Centro FXB da Universidade de Harvard. Ela também pode aumentar a suscetibilidade a doenças respiratórias, como Covid-19, gripe, VSR e pneumonia.

Há também uma série de possíveis impactos de longo prazo, desde o aumento do risco de demência até complicações na gravidez. “Vemos que as crianças que foram expostas à fumaça de incêndios florestais no útero nascem prematuras em taxas mais altas. Elas têm pesos menores ao nascer”, diz Carlos Gould, cientista de saúde ambiental da Universidade da Califórnia, em San Diego.

Ele acrescenta que a fumaça pode até matar. Os níveis mais altos de poluição observados em partes de Los Angeles, por exemplo, podem aumentar a mortalidade em 5% a 15% no dia em que as pessoas são expostas, e “isso não leva em conta os efeitos defasados”, diz Gould.

Em outras palavras, devido a toda a fumaça, “veremos uma piora na saúde respiratória [e] maior mortalidade nos próximos dias e semanas”, diz ele. “Essa é uma preocupação especial para pessoas com problemas respiratórios subjacentes, problemas cardiovasculares subjacentes, idosos, crianças e mulheres grávidas.”

Esses impactos na saúde são um custo oculto dos incêndios florestais que se manifestam em salas de emergência, dias de trabalho perdidos e cuidados de longo prazo. Um estudo de 2023 publicado na revista Science of The Total Environment projeta que o PM2,5 proveniente apenas da fumaça pode causar 4.000 mortes prematuras por ano, o que corresponde a US$ 36 bilhões em perdas relacionadas à saúde nos EUA. Outro estudo na mesma revista, que analisou a fumaça de incêndios florestais nos EUA entre 2008 e 2012, estimou os custos de longo prazo entre US$ 76 bilhões e US$ 130 bilhões em dólares de 2010. Um dos motivos pelos quais a fumaça de incêndios florestais tem um impacto tão grande é que ela se espalha muito além da vizinhança imediata das chamas.

“O grande desafio da fumaça é que ela é levada pelo vento”, diz Gould. Isso significa que as pessoas próximas a um incêndio podem não sentir muita fumaça, enquanto as que estão longe das chamas podem ser as mais afetadas. Isso foi demonstrado em 2023, quando a fumaça de incêndios florestais viajou do Canadá e desceu sobre Nova York e outras partes da Costa Leste.

A fumaça generalizada durante a temporada de incêndios florestais de 2019 a 2020 na Austrália causou quase A$ 2 bilhões (US$ 1,2 bilhão) em custos de saúde, de acordo com um estudo da Nature Sustainability. Grande parte desse valor foi causado por visitas a hospitais devido a doenças respiratórias e problemas cardiovasculares, além de um número estimado de 429 mortes prematuras relacionadas à fumaça.

Gould recomenda que as pessoas monitorem regularmente a qualidade do ar local para reduzir o risco de inalação de fumaça. O site AirNow usa um índice oficial dos EUA codificado por cores para identificar se a qualidade do ar é saudável (verde) ou não (vermelho e roxo). O iPhone também inclui informações sobre a qualidade do ar no aplicativo de clima da Apple.

Quando for inevitável sair com fumaça, Hendrickson recomenda o uso de uma máscara de alta qualidade, como uma N95. Para bebês pequenos que não podem usar máscaras, ela aconselha colocar um cobertor úmido sobre o assento do carro enquanto um adulto estiver por perto para garantir que o cobertor não fique diretamente sobre o rosto da criança. Além disso, ela sugere ter um purificador de ar autônomo ou um sistema HVAC equipado com filtro de ar para ajudar a manter a qualidade do ar interno em níveis saudáveis.

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