Economia

A Super Quarta Plus que promete mexer com os mercados do mundo todo

O jogo virou nos EUA, que mais hora menos hora começará os cortes. Mas talvez o Brasil ganhe pouco com isso

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A tão esperada Super Quarta, como se chama o dia em que as reuniões do Federal Reserve (Fed) e do Banco Central do Brasil coincidem, vai ganhar um ‘plus’ nesta semana. Além dos dois BCs, também vão tomar suas decisões de política monetária o Japão, a Colômbia e o Chile. E, para deixar o dia ainda mais animado, tudo indica que os cinco BCs vão caminhar para lados diferentes  – elemento perfeito para provocar muita movimentação nas moedas globais.

Enquanto o Fed deve ao menos trazer para a discussão a chance de cortar os juros nos Estados Unidos, espera-se do BC brasileiro um discurso muito mais preocupado com a inflação. De alguma forma, esse antagonismo decepciona. Afinal, uma das razões citadas pelo BC de Roberto Campos Neto para interromper o ciclo de corte de juros era o cenário internacional. Era um jeito de dizer que, enquanto o Fed não aliviar por lá, aqui também precisaremos manter a cautela.

Só que o jogo virou nos EUA. E, aparentemente, vamos ganhar pouco com isso. É que, nas últimas semanas, as condições da economia local pioraram de tal maneira que um corte de juros pelo Fed não será suficiente para trazer alívio. E isso significa que a Selic deve ficar estacionada em 10,50% por muito tempo. Mais que isso, coloca no radar o risco de alguma alta da taxa no futuro.

Bastam alguns números para explicar essa deterioração. A projeção para o IPCA, colhida pela pesquisa Focus, do Banco Central, subiu de 3,40%, na última reunião, para 3,90%, na última segunda–feira.

Parte dessa piora de expectativas tem a ver com a alta do dólar nas últimas semanas. Na última reunião do Copom a cotação estava perto de  R$ 5,46. Na última sexta-feira, já tinha ido a R$ 5,64 – uma alta de 3,3%.

Mais do que a variação em si, o que preocupa é o seguinte: a cotação está em um patamar mais alto por um período prolongado, o que aumenta muito a chance de impactar os preços ao consumidor. É como se uma inflação estivesse sendo gestada, com nascimento provável para o segundo semestre. Ainda mais em um momento em que o mercado de trabalho ainda está aquecido: a taxa de desemprego caiu abaixo de 7%, segundo dados do IBGE, o menor nível em dez anos.

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Não bastasse tudo isso, a inflação corrente – a do presente –, que vinha comportada até aqui, também começou a dar sinais de alta. O IPCA-15 de julho, divulgado nesta quinta-feira (25), subiu 0,3%. Com isso, a inflação em 12 meses saltou para  4,45%, acima da previsão dos analistas, de 4,37%.

Enquanto isso, no cenário americano, parece que o tempo começa a abrir. A começar pela inflação. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês)  divulgado na sexta-feira (26) subiu   0,1% em junho ante maio, depois de ficar estável no mês anterior. O  núcleo do PCE – que exclui itens mais voláteis como energia e alimentos – também subiu 0,2%. Embora a taxa acumulada em 12 meses tenha vindo em 2,6%, acima da previsões do mercado, que apontavam para 2,5%, o indicador mostra que a inflação por lá está perdendo força.

Motivo: em março, abril e maio, o núcleo do PCE ficou empacado em 2,8%. Agora julho repetiu os mesmos 2,6% de junho.

Os EUA têm dois índices de inflação: op PCE e o CPI (índice de preços ao consumidor, equivalente ao nosso IPCA). O PCE é o favorito do Fed, por ser teoricamente mais preciso. Por exemplo: se o preço da carne vermelha pesou e muita gente substituiu por frango, o PCE vai dar mais peso para o frango na composição do índice – uma sofisticação que o CPI não tem.

Por conta disso, o banco central dos EUA estimula sua meta, de 2%, para o PCE – mais precisamente, para o núcleo do PCE (menos volátil que o índice cheio). Mas a leituras do CPI também contam, claro. Ele vinha numa queda ao estilo devagar e sempre:

Março: 3,5%

Abril: 3,4%

Maio: 3,3%

E então veio um tombo mais firme:

Junho: 3,0%

O alívio da inflação estimulou apostas em corte de juros. Os títulos públicos americanos de curtíssimo prazo contemplam cerca de 70% de chance de haver um corte em setembro (na próxima reunião do Fed depois desta de quarta-feira). O Fed Watch, pesquisa diária da Bolsa Mercantil de Chicago, vai mais longe: mostra que essa é a expectativa de 100% dos investidores. E a divulgação do núcleo do PCE hoje, mesmo acima das previsões, não mudou essa convicção em uma palha sequer.

O corte pode vir já em julho? Pode ser, mas é muito improvável. A atividade econômica americana está desacelerando, mas lentamente. Não há motivos para o Fed tomar uma decisão mais enfática agora. Ele pode continuar tendo paciência – e manter os juros em 5,5%, patamar que se mantém há um ano, por mais um par de meses.

Para o  Banco Central do Japão (BoJ), que abrirá os trabalhos na quarta (25), a expectativa é de que venham sinais de alta para os juros nipônicos. Em março, o BC japonês decidiu sair do que se chama de política monetária ultrafrouxa: reverteu o juro negativo e fixou a taxa básica em uma banda entre zero e 0,1%. Foi a primeira alta de juros em 17 anos. Para a reunião desta semana, cerca de 50% do mercado acredita que pode vir uma alta de 0,15 ponto percentual.

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Nada, nada, essa aposta em mudança de juros do outro lado do mundo provocou muita movimentação do câmbio nos últimos dias. A possibilidade de haver uma alta de juros fortaleceu o iene. E isso provocou um rearranjo global de posições de grandes investidores que fazem o chamado carry-trade.

Nesse tipo de operação, o investidor capta dinheiro em moedas de países que têm juros baixos – como o Japão – e aplica em moedas de mercados  onde os juros são mais altos – caso de emergentes, como o Brasil. Essa aposta em alta de juros no Japão levou muita gente a zerar essas posições. Consequência: moedas latino-americanas voltaram a subir.

Para os vizinhos Colômbia e Chile, a expectativa é de corte de juros: de 0,5 ponto e de 0,25, respectivamente.

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