Economia

André Esteves, do BTG, está otimista com o Brasil, mas pessimista com o mundo

Em evento nesta sexta (23), banqueiro mencionou ver uma resiliência maior do que se imagina da inflação na Europa e nos EUA.

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O banqueiro André Esteves, co-fundador do banco BTG Pactual (BPAC3) e que hoje faz parte do conselho da instituição, afirmou estar “otimista” com o Brasil. O executivo participou na manhã desta sexta-feira (23) da 5ª edição do Fórum CEO do Experience Club, plataforma de conhecimento e networking corporativo.

“Nesta semana, tivemos o privilégio de encerrar o ciclo de alta de juros no Brasil e, lá fora, o ‘pau’ ainda está comendo e vai continuar assim por muito tempo”.

André Esteves, do BTG, durante o Fórum CEO de 2022. (Crédito: Marcos Mesquita/Divulgação)

Na avaliação dele, o país vive um “ótimo momento”, mas que não tem especificamente relação com o desempenho do governo atual.

“Esse momento tem a ver com um acumulado de mais acertos do que erros, notadamente nos últimos seis anos que foram reformistas”, falou Esteves ao mencionar as reformas da Previdência, trabalhista e do BNDEs, além da criação do teto de gastos e do andamento das privatizações, como a da Eletrobras (ELET3; ELET6), “Você vai fazendo essa transformação estrutural e se chega nessa fotografia que a gente tem hoje”.

O banqueiro pontuou que, mesmo com tantas incertezas globais e internas, o país deve crescer 3% este ano e registrar uma inflação inferior à dos Estados Unidos – cenário cada vez mais próximo da realidade.

Enquanto o CPI, índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos, subiu 8,3% nos últimos 12 meses até agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que mede a inflação oficial do Brasil, acumulou alta de 8,73% no período. 

Para Esteves, o resultado das eleições de outubro deve alterar pouco esse cenário. Ele disse acreditar que será possível manter a taxa real de juros em um dígito – entre 6% e 8% ao ano.

Cenário global

Em contrapartida, o executivo ponderou que não dá para olhar o Brasil sem analisar o contexto global. “Já sobre o mundo, não estou com uma visão muito otimista. Estou achando que vamos ter muito desafio ao longo dos próximos meses e talvez dos próximos anos”.

Esteves mencionou especialmente a inflação dos Estados Unidos, que na última quarta-feira (21) elevou a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual – para um intervalo entre 3% e 3,25%.

O país, acrescentou o banqueiro, viveu 15 anos praticamente com um juro real negativo, mas a pandemia e a guerra criaram uma disrupção da cadeia de produtos, o que consequentemente contribuiu para a elevação dos preços.

“Essa combinação criou uma coisa que para o mundo desenvolvido é muito pouco familiar que é a inflação”, disse o executivo, ao reiterar que enxerga uma resiliência maior da inflação na Europa e nos Estados Unidos do que se imagina atualmente.

Para Esteves, as autoridades monetárias de fora demoraram para agir contra a guinada dos preços. “A inflação foi na frente e o Banco Central foi depois”.

Desafio chinês

André Esteves listou ainda os percalços vividos pela China. Em sua avaliação, o gigante asiático vive um momento “Lehman Brothers” no segmento imobiliário, ao fazer referencia ao banco norte-americano que faliu durante a crise de 2008.

“Só que, lá na China, como a economia é centralizada e tudo é controlado, a crise cresce em slow motion (devagar), não tem a mesma ansiedade, angústia e medo que as crises que a gente passa, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, com a gravidade de que entre os países do G-20, a China é a mais dependente do setor imobiliário em relação ao PIB”, explicou.

A combinação de cenário atual de inflação elevada e expansão fiscal, na visão de Esteves, vai ter consequências.

“Talvez a principal delas seja algum nível de desglobalização, porque de repente no meio da pandemia os Estados Unidos se viu sem capacidade industrial estratégica e que foi muito longe no alongamento de produção global”.

De acordo com ele, a globalização teve impactos profundos em países muito pobres que se tornaram países de renda média, como a própria China e o Vietnã, mas que agora as cadeias de produção global devem passar por uma “diversificação maior”.

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