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Nem US$ 20 bilhões salvam: Aposta dos EUA na Argentina tem caminho estreito ao sucesso

Presidente da Argentina prometeu deixar toda essa história ruim para trás, mas poucos acreditam

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Para que a aposta de US$ 20 bilhões do secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, na Argentina dê certo, muitas coisas precisam sair como o planejado — situações que, no passado, tendiam a dar errado no país.

Bessent anunciou na quinta-feira (10) uma medida emergencial para tirar os mercados financeiros do país da turbulência cada vez mais profunda e um aliado político estratégico, da crise.

Os Estados Unidos estão oferecendo acordos de swap para sustentar o peso — e já intervieram diretamente para comprar a moeda, uma iniciativa com poucos precedentes nas últimas décadas.

“Não é um resgate financeiro”, disse Bessent. Para muitos observadores, que ainda aguardam os detalhes, certamente parece ser, sim. A ajuda foi entregue por um governo que prometeu colocar os Estados Unidos em primeiro lugar, a um país com um histórico de esbanjar o dinheiro dos outros e deixar de pagar as suas dívidas.

O presidente da Argentina, Javier Milei — talvez o maior apoiador do governo Trump na América Latina, onde a rivalidade entre superpotências e a China está se intensificando — prometeu deixar toda essa história ruim para trás.

Ele diz que finalmente está colocando as finanças públicas do país em ordem e controlando a inflação galopante, mesmo que isso signifique cortar o orçamento de forma drástica.

Os mercados financeiros acreditaram nele até há algumas semanas, quando o partido de Milei sofreu uma derrota dolorosa em uma importante votação provincial. Então, a confiança começou a se esvair repentinamente.

O peso entrou em uma queda vertiginosa que ameaçava fazer a inflação disparar novamente – logo antes de um teste eleitoral ainda maior, com as eleições legislativas de meio de mandato daqui a duas semanas.

A essência da aposta de Bessent é que, com o apoio da força financeira dos EUA, Milei pode vencer. E então, com um Congresso favorável, colocar seu programa econômico nos trilhos e os investidores a seu favor novamente. Analistas dizem que isso não é impossível, apenas difícil.

Argentina queima US$ 1,8 bi

“É uma aposta que todos os problemas que a Argentina enfrenta agora sejam uma função política, que Milei possa tirar um coelho da cartola e se sair melhor do que o esperado nas eleições de outubro”, diz Brad Setser, ex-funcionário do Tesouro que agora trabalha no Conselho de Relações Exteriores.

Mas Setser vê problemas no programa econômico do país que não desaparecerão mesmo que isso aconteça – adicionando mais níveis de risco à intervenção dos EUA. “É uma aposta de que o peso não está estruturalmente sobrevalorizado”, diz. “É uma aposta de que a banda pode se manter.”

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Nos útlimos dias, o Tesouro da Argentina queimou US$ 1,8 bilhão para sustentar a moeda e mantê-la dentro da faixa em que deveria ser negociada — e foi considerado que estava com poucos fundos antes de Bessent intervir.

A intervenção dos EUA desencadeou uma recuperação do peso, bem como uma alta nos títulos de dívida do governo.

O argumento a favor de Milei, que gerou retornos saudáveis no mercado durante a maior parte dos últimos dois anos, é que seus cortes no orçamento deu resultado. A Argentina registrou seus primeiros superávits orçamentários desde 2009, e a inflação caiu cerca de 30% em relação a picos quase 10 vezes maiores. Essa conquista é fundamental para sua campanha aos eleitores.

Mas isso é sustentado pela gestão cuidadosa do peso, que manteve os preços das importações sob controle, ao mesmo tempo em que acumulava tensões.

Ainda não está claro qual será a forma exata da intervenção. Mais detalhes poderão surgir quando Milei visitar o presidente Donald Trump na Casa Branca na próxima semana.

Bessent sinalizou que o Fundo de Estabilização Cambial do Tesouro será mobilizado, talvez incluindo seus Direito Especial de Saque – uma forma de reserva global de caixa emitida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

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