O Banco Central do Brasil informou que manterá uma postura cautelosa em relação à política monetária, enquanto trabalha para conter a inflação acima da meta, alertando para o aumento da incerteza causada pelas tarifas comerciais do presidente dos EUA, Donald Trump.
“O aumento das tarifas comerciais pelos EUA para o Brasil tem impactos setoriais significativos e efeitos agregados ainda incertos que dependem do desenrolar dos próximos passos das negociações e da percepção de risco”, escreveram os membros do conselho na ata da reunião de política monetária de 29 e 30 de julho, quando mantiveram a taxa básica de juros, a Selic, em 15%.
A avaliação predominante no conselho é de que há “aumento da incerteza quanto ao cenário global e, portanto, o Copom deve manter uma postura cautelosa”, afirmaram no documento publicado nesta terça-feira (5).
O diretores do Banco Central, liderados por Gabriel Galipolo, elevaram os custos dos empréstimos em 4,5 pontos percentuais entre setembro e junho do ano passado, em um esforço para esfriar a demanda e conter a inflação.
De acordo com as estimativas dos próprios formuladores de políticas, os aumentos de preços ao consumidor ficarão acima da meta de 3% pelo menos até o início de 2027. As tensões entre a maior economia da América Latina e os EUA — com as tarifas comerciais de Trump previstas para entrar em vigor esta semana — estão aumentando as dúvidas sobre as perspectivas.
Banco Central mantém Selic alta
A Selic está agora no nível mais alto em quase duas décadas. Em contraste, países da região, como México, Chile e Peru, cortaram as taxas nos últimos meses.
A perspectiva de inflação é adversa devido à resiliência da atividade econômica e ao dinamismo do mercado de trabalho, escreveram as autoridades. As expectativas de preços ao consumidor permanecem instáveis, o que significa que “uma maior restrição monetária é necessária por um período mais longo do que seria apropriado de outra forma”, de acordo com a ata.
Embora as tarifas adicionem alguma preocupação às expectativas de inflação, por enquanto, os diretores do Banco Central estão confortáveis com as taxas mantidas “por pelo menos mais alguns trimestres”, disse Brendan McKenna, economista de mercados emergentes da Wells Fargo Securities LLC. Para haver outro aumento, “precisaríamos ver as tarifas gerarem expectativas de inflação mais altas, e novos estímulos fiscais teriam que ser implementados para também gerar inflação”, disse ele.
Os membros do conselho querem ver se o nível atual dos custos de empréstimos — se mantido por um período prolongado — será suficiente para finalmente romper os níveis de inflação que permaneceram acima de 5% durante a maior parte deste ano.
A atividade econômica e o mercado de crédito estão respondendo à política monetária restritiva, mas o mercado de trabalho tem apoiado significativamente o consumo e a renda, escreveram os diretores do Banco Central.
“O Comitê continuará monitorando o ritmo da atividade econômica, que é um fator fundamental para a inflação, particularmente a inflação de serviços”, escreveram.
Os membros do Conselho também permanecerão vigilantes quanto ao repasse cambial para a inflação, após um período de maior volatilidade cambial.
As tarifas de Trump sobre as exportações brasileiras foram adiadas para 6 de agosto após negociações com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Embora os EUA tenham criado exceções para centenas de produtos, as negociações estão em andamento e o impacto na política monetária doméstica ainda é difícil de quantificar.