Bessent contra parede: Promessa de socorro à Argentina é posta à prova com ataque ao peso

Investidores questionam apoio do governo Trump à Argentina

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O histórico do Secretário do Tesouro, Scott Bessent, como um poderoso pacificador de mercados indisciplinados está sendo posto à prova na Argentina. Os investidores estão questionando o valor de sua promessa de apoio ao presidente Javier Milei, feito na semana passada.

Mais de uma semana após a valorização dos ativos argentinos, com a promessa de Bessent de fornecer “todas as opções para a estabilização”, os operadores de mercado derrubaram o peso em mais de 6% em relação ao dólar, forçando o governo de Milei a intervir e conter a queda. Mas o peso voltou a cair, o que levou o governo vender dólares novamente.

A capacidade de Buenos Aires de manter tais esforços por conta própria é limitada por suas escassas reservas cambiais, colocando em evidência o que Washington está preparado para fazer.

“Há um sentimento de que as coisas não podem se manter nesse ritmo”, disse Hans Humes, presidente da Greylock Capital Management, que tem mais de três décadas de experiência em mercados emergentes. “A venda é liderada por investidores locais. Corretores e investidores dos EUA não vão atrapalhar”, disse Humes, de Nova York.

Bessent reiterou nesta quinta-feira (2) que o Tesouro dos EUA está “preparado para fazer o que for necessário” em relação à Argentina. Ele também afirmou em uma publicação no X que conversou com o ministro da Economia, Luis Caputo.

Caputo deve ir para Washington nos próximos dias para avançar nas discussões sobre as opções para a entrega de apoio financeiro prometido por Trump.

Bessent espera que o partido de Milei se saia bem nas eleições de meio de mandato na Argentina, em 26 de outubro, e saudou as políticas econômicas do libertário como um “farol” na América Latina.

“Estamos dando a eles uma linha de swap, não estamos investindo na Argentina”, disse Bessent em entrevista à CNBC. “América Primeiro não significa América Só.”

Títulos da Argentina

Os títulos argentinos com vencimento em 2035 saltaram para as máximas, logo depois da publicação de Bessent no X. Mas ganhos foram revertidos logo depois, em meio à ausência de mais detalhes, estendendo as perdas pelo quarto dia consecutivo.

O peso recuou ainda mais nas negociações de quarta-feira, e acumula queda de cerca de 7% na semana.

A crise de confiança decorre do fraco desempenho do partido de Milei em uma importante eleição local no mês passado.

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Os investidores estão prevendo uma grande mudança na política cambial após essas eleições, mas a questão agora é se a estrutura atual conseguirá chegar tão longe.

O próprio Milei afirmou que a demonstração de apoio dos EUA é geopolítica. Mas o que agrava o desafio para Bessent é que Washington dificilmente está unido em apoio ao esforço.

A culpa é da soja

Por qual motivo? A soja é um dos principais motivos. Os produtores de soja americanos foram impedidos de acessar seu maior mercado de exportação — a China — devido às tensões comerciais. Seus concorrentes argentinos têm se aproveitado disso, o que deixou alguns legisladores preocupados com a ajuda a Buenos Aires.

O senador Chuck Grassley, um republicano veterano de Iowa, questionou por que os EUA “ajudariam a socorrer a Argentina, enquanto eles tomam o maior mercado dos produtores de soja americanos”. O senador John Hoeven, republicano de Dakota do Norte, disse na quarta-feira que a ajuda à Argentina faz parte de um “relacionamento maior” que o governo está desenvolvendo com a Argentina, e destacou as promessas de ajuda aos agricultores americanos feitas por Trump, que o presidente reiterou em uma publicação no Truth Social mais tarde naquele dia.

O próprio Bessent foi fotografado na semana passada olhando para o que parecia ser uma mensagem de texto da Secretária da Agricultura, Brooke Rollins, expressando preocupação com o apoio à Argentina, informou a CNN, sobre uma foto publicada pela Associated Press.

Anúncio pode ser mais forte que o fato

A história moderna dos resgates financeiros mostra que, às vezes, o efeito do anúncio por si só pode ser suficiente para estabilizar um mercado turbulento. O então Secretário do Tesouro, Henry Paulson, explicou em julho de 2008, durante a crise financeira: “Se você tem uma bazuca e as pessoas sabem que você a tem, talvez não precise usá-la”.

Foi o caso de um programa do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) durante a crise da Covid em 2020. O suporte a títulos corporativos com um limite de meio trilhão de dólares nunca foi utilizado, já que a confiança nos mercados de crédito dos EUA se recuperou rapidamente.

Mas as coisas não estão caminhando para esse lado com a Argentina — onde três governos diferentes, desde 2018, acumularam US$ 55 bilhões em dívidas. Houve, então, vários acordos com o Fundo Monetário Internacional que não conseguiram estabilizar a economia.

Uma questão em aberto é quanto será necessário para estabilizar a situação e se os elementos descritos por Bessent serão suficientes. O Tesouro não respondeu as nossos pedidos de entrevista.

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“Precisamos de maior clareza sobre o pacote de apoio dos EUA, particularmente em relação aos seus termos, condicionalidade e duração”, disse Pedro Quintanilla-Dieck, estrategista sênior de mercados emergentes do UBS. “Mais detalhes sobre esses aspectos podem desbloquear o potencial de alta tática para os títulos argentinos em relação aos atuais níveis deprimidos.”

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