Economia
Brasil está no caminho para recuperar grau de investimento, dizem especialistas
Após S&P elevar perspectiva, Fitch subiu rating do Brasil; mercado já precificava melhora, dizem analistas.
A melhora da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch ainda não devolveu ao país o grau de investimento, mas indica que o mercado local está no caminho para que isso aconteça. Ainda assim, a notícia não foi suficiente para movimentar com mais força o mercado financeiro nesta quarta-feira (26), o que se explica, em parte, pela melhora da perspectiva de outra agência, a S&P, semanas antes.
É o que disseram especialistas ouvidos pelo InvestNews, que destacam as justificativas da Fitch ao subir a nota do Brasil para “BB”, contra “BB-” antes. A agência citou desempenho macroeconômico e fiscal melhor que o esperado, e a avaliação dos especialistas é de que essas percepções já estavam no radar do mercado.
“O rating é o resultado de uma precificação que o mercado interno já processou e está vivenciando hoje”.
Michelle Veronesi, analista especializada em investimentos no exterior
De maneira semelhante, Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, comenta que “boa parte da situação atual já está no preço”, e cita que, quando houve a melhora na perspectiva pela S&P, “teve uma movimentação mais forte”.
“Hoje o mercado já está acompanhando o fluxo, que está sendo mais favorável ao longo dos últimos dias, mas ainda num compasso de espera. Isso porque, apesar dessa notícia ser positiva e, marginalmente, ajudar a continuar trazendo fluxo para cá, ela corrobora essa tese. Então muita coisa já está no preço”, diz ele.
À espera do grau de investimento
Os especialistas apontam que a perspectiva é de que essa tendência de melhora nas avaliações do Brasil comece a se refletir em mais investimentos estrangeiros no mercado local. No entanto, para que isso se concretize, é necessário que as agências elevem a nota do Brasil e passem a classificar o país com grau de investimento, não mais especulativo.
As notas de crédito ou ratings são classificações indicam se o país tem condições de pagar suas dívidas aos credores. O rating do Brasil havia sido rebaixado em 2018, com a crise nas contas públicas e demora na aprovação da reforma da Previdência durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Cunha, da iHUB, diz que apesar do Brasil ainda não ter recuperado o grau de investimento, está caminhando nessa direção.
“O investment grade estaria num andar acima, mas o Brasil segue rumo a essa conquista”
Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos
Pedro Wilson Domingues, sócio da Nexgen Capital, diz que, apesar de o país ainda seguir classificado como grau especulativo, “já sintetiza um pouco da melhora que a gente tem em relação ao compromisso do Brasil frente suas contas”.
Veronesi ressalta que o upgrade na nota do Brasil com relação ao crédito é resultado (e não causa) de uma economia crescente. Ela acredita que, de maneira geral, o país segue para a melhora da capacidade e pagamento.
“O ponto positivo desta classificação é o reflexo deste movimento para o mercado internacional e para investidores estrangeiros, aumentando assim, possivelmente, a entrada de investidores de fora no país”, diz Veronesi.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu nesta quarta que “um país do tamanho do Brasil, não tem sentido não ter grau de investimento”, e afirmou que a harmonia entre Poderes é a saída para que isso aconteça.
“A Fitch é a primeira das grandes agências que muda a nota (do Brasil). Eu sempre disse, continuo acreditando, que a harmonia entre os Poderes é a saída para que nós voltemos a obter grau de investimento”, afirmou Haddad em coletiva de imprensa.
O que diz a Fitch
De acordo com relatório da Fitch, a elevação reflete desempenho macroeconômico e fiscal melhor que o esperado em meio a choques sucessivos nos últimos anos, políticas proativas e reformas. Além disso, a agência apontou a expectativa de que o novo governo trabalhará para melhorias adicionais.
Segundo a agência, apesar das persistentes tensões políticas desde o rebaixamento de 2018, o Brasil alcançou progresso em importantes reformas para enfrentar os desafios econômicos e fiscais.
“A nota do Brasil se justifica por sua grande e diversificada economia, alta renda per capita e profundos mercados domésticos e um grande colchão de caixa que sustentam a flexibilidade de financiamento do rating e sua alta parcela da dívida em moeda local. O rating também se sustenta pela capacidade de absorção de choques, por uma taxa de câmbio flexível, reservas internacionais robustas e uma posição soberana líquida de credores externos”.
Fitch ratings
A agência disse ainda esperar que as novas regras fiscais e medidas tributárias no Brasil ancorem uma consolidação fiscal gradual. Para conseguir aprovar as reformas, o governo federal precisa de apoio do Congresso. A Fitch ainda projeta que a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) aumente, mas em um ritmo mais lento e a partir de um ponto de partida muito melhor do que o previsto anteriormente.
O relatório destaca que as principais reformas fiscais ainda estão pendentes de aprovação final, mas registraram progressos importantes, incluindo uma nova estrutura fiscal, uma importante reforma do imposto sobre o consumo, entre outros projetos de lei menores. Já outras iniciativas têm enfrentado maior resistência no Congresso, inclusive as relacionadas à regulamentação ambiental.
Crescimento resiliente
A Fitch projeta um crescimento real do PIB de 2,3% em 2023, ante 0,7% anteriormente, uma moderação para 1,3% em 2024 à medida que a produção agrícola se normaliza e convergência para um ritmo de tendência de 2,0%.
As autoridades projetam um crescimento de médio prazo mais alto de 2,6%, embora ainda não esteja claro se eles podem avançar uma agenda econômica forte o suficiente para conseguir isso, isso pode oferecer alguma vantagem.
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