Economia

Brics não desafiará dólar se China e Índia não o levarem a sério, diz criador da sigla

Jim O’Neill, que cunhou o termo “Brics” em 2011, afirmou em entrevista à Reuters que grupo avançou pouco

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Presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, e primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, durante reunião de cúpula do Brics, na cidade russa de Kazan. Foto: Sputnik/Alexander Kazakov/Reuters

A ideia de o grupo Brics desafiar o dólar norte-americano é conversa para boi dormir, enquanto China e Índia permanecerem tão divididas e se recusarem a cooperar em comércio, disse Jim O’Neill, o ex-economista do Goldman Sachs que criou a sigla Bric, à Reuters.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está usando a cúpula dos líderes do Brics para mostrar que as tentativas ocidentais de isolar a Rússia por causa da guerra na Ucrânia falharam e que a Rússia está criando laços com as potências emergentes da Ásia.

O’Neill introduziu o termo Bric em 2001 quando trabalhava no Goldman Sachs, em um trabalho de pesquisa que destacava o enorme potencial de crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China — e a necessidade de reformar a governança global para incluí-los.

“A ideia de que o Brics possa ser um clube econômico global genuíno é, obviamente, um pouco equivalente às fadas, da mesma forma que o G7, e é muito preocupante que eles se vejam como uma espécie de alternativa global, porque é obviamente inviável.”

Jim O’Neill, em entrevista à reuters

“Parece-me ser basicamente um encontro anual simbólico em que países emergentes importantes, especialmente os barulhentos como a Rússia, mas também a China, possam se reunir e destacar como é bom fazer parte de algo que não envolva os EUA e que a governança global não é boa o suficiente.”

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Desafio ao dólar

A Rússia está tentando convencer os países do Brics a criar uma plataforma alternativa para pagamentos internacionais que seria imune às sanções ocidentais.

O’Neill, de 67 anos, disse que pessoas falam sobre alternativas ao dólar desde que ele começou a trabalhar com finanças, mas que nenhum dos países com potencial para desafiar o dólar havia feito nada para consegui-lo seriamente.

Segundo ele, qualquer moeda do Brics seria altamente dependente da China, enquanto Rússia e Brasil não seriam partes significativas da moeda, disse.

“Se eles quisessem levar realmente a sério as questões econômicas, por que não buscam genuinamente um comércio menos tarifário entre si?” Disse O’Neill.

“Levarei o grupo Brics a sério quando vir sinais de que os dois países que realmente importam — China e Índia — estão realmente tentando chegar a um acordo, em vez de tentar efetivamente se confrontar o tempo todo.”

Jim O’Neill

A Índia tem tentado restringir investimentos chineses no país desde que uma disputa de fronteira de décadas se transformou em um confronto entre guardas de fronteira em 2020. Os dois países se comprometeram a aumentar a cooperação nesta quarta-feira em suas primeiras conversas formais em cinco anos.

Pouco avanço

O’Neill, que admitiu que terá o nome “Sr. Brics estampado na testa para sempre”, disse que o grupo alcançou muito pouco nos últimos 15 anos.

Ele acrescentou que não é possível resolver questões verdadeiramente globais sem os Estados Unidos e a Europa, assim como não é possível para o Ocidente resolver questões verdadeiramente globais sem China, Índia e, em menor escala, Rússia e Brasil.

O grupo Brics surgiu a partir de reuniões entre Rússia, Índia e China, que depois começaram a se reunir mais formalmente, eventualmente acrescentando Brasil, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos. A Arábia Saudita ainda não aderiu formalmente.

O grupo agora representa 45% da população mundial e 35% da economia global, com base na paridade do poder de compra, embora a China seja responsável por mais da metade de seu poder econômico.

Putin abriu a cúpula nesta quarta-feira (23) dizendo que mais de 30 países manifestaram interesse em participar do grupo, mas que era importante encontrar um equilíbrio em qualquer expansão.

Trazer mais membros para o Brics dificultaria ainda mais a realização de qualquer coisa, disse O’Neill.

(Por Guy Faulconbridge)

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