O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciaram na noite deste sábado (1º) que vão aplicar tarifas sobre produtos importados dos Estados Unidos.
Segundo Trudeau, “o Canadá responderá à ação dos EUA com uma tarifa de 25% sobre 155 bilhões de dólares canadense em produtos americanos”. O valor equivale a US$ 106 bilhões em importações do Canadá. Uma pequena parte dos produtos, que respondem por cerca de um quinto do total, entrarão em vigor na terça-feira (4). Os demais produtos, disse ele, durante comunicado por volta das 23h deste sábado (horário de Brasília), “terão tarifas aplicadas daqui a 21 dias, para permitir que as empresas canadenses tenham tempo de encontrar alternativas”.
Mais cedo, a presidente do México também anunciou medidas, inclusive tarifárias. “Instruo o secretário de Economia para que implemente o Plano B no qual temos trabalhado, que inclui medidas tarifárias e não tarifárias em defesa dos interesses do México. Nada pela força; tudo pela razão e pelo direito”, anunciou Claudia Sheinbaum em uma publicação na rede social X (antigo Twitter).
As medidas são uma reação ao anúncio de que o presidente americano, Donald Trump, assinou três ordens executivas determinando uma tarifa de 25% sobre a maioria das importações do Canadá e do México, além de 10% adicionais para produtos da China. No caso do Canadá, foi aberta uma exceção penas produtos do setor de energia, como petróleo, gás e energia hidrelétrica, que terão uma tarifa de 10%.
As principais medidas nas três ordens, que entram em vigor na madrugada de terça-feira (4), incluem uma cláusula de retaliação, prevendo mais tarifas caso os três países decidam impor suas próprias taxas como reação, e a revogação de uma regra conhecida como “exceção de tarifas de minimis”, uma lei bipartidária que isentava de tarifas qualquer envio para os Estados Unidos com produtos no valor de até US$ 800 por pessoa e por dia.
A exceção para importações no setor de energia do Canadá foi aberta porque o vizinho do norte é o maior fornecedor estrangeiro de energia para os EUA, e os dois países desenvolveram uma rede de oleodutos e instalações de processamento fortemente integrada nas últimas décadas.
Controle de fronteiras
Trump decidiu impor as tarifas por meio de ordens executivas, que são documentos emitidos pelo presidente dos EUA para orientar a atuação do governo federal.
Dessa forma, ele não precisou de aprovação do Congresso americano para tirar as medidas do papel. Para isso, ele lançou mão de legislações americanas que permitem essa via de atuação apenas em caso de emergência nacional e internacional. Ele justificou a decisão alegando que seus vizinhos não agem com vigor suficiente para controlar o tráfico de drogas (especificamente, do opioide fentanil) na fronteira entre os dois países.
A presidente do México divulgou números mostrando como atua no combate ao tráfico e alfinetou Trump. “Nosso governo assegurou, em quatro meses, mais de 40 toneladas de drogas, incluindo 20 milhões de doses de fentanil. Também deteve mais de dez mil pessoas vinculadas a esses grupos”, disse ela. “Se o governo dos Estados Unidos e suas agências quisessem abordar o grave consumo de fentanil em seu país, poderiam, por exemplo, combater a venda de entorpecentes nas ruas de suas principais cidades, o que não fazem.”
Do lado do Canadá, ministros do governo se deslocaram até Washington para conversar com republicanos e chegaram a mostrar vídeos da atuação canadense na fronteira para coibir o tráfico de drogas.
Já o premiê de Alberta, província no oeste do Canadá, convidou uma equipe da Fox News para filmar policiais que monitoram a parte da fronteira que a província compartilha com Montana.
No pronunciamento na noite deste sábado, Trudeau ressaltou que o Canadá responde por apenas 1% do fentanil que entra nos Estados Unidos, além de 1% das imigrações sem documentação.
“Para ser claro, essa não é a nossa vontade, é uma decisão dos americanos”, afirmou o primeiro-ministro canadense.