Economia

China emite alerta: mundo está em desaceleração; será que a Vale escapa?

Dados da balança comercial e da inflação chinesa reforçam demores sobre fraqueza da economia.

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Vem da China o sinal de alerta para a Vale (VALE3): o mundo está em desaceleração. Os dados de julho da balança comercial chinesa, divulgados na manhã de terça-feira (8), mostraram a maior queda anual (-14,5%) das exportações desde o início de 2020, durante a pandemia da covid-19, lançando luz sobre um cenário sombrio da economia global. 

Navio porta-contêineres no Porto de Águas Profundas de Yangshan, em Xangai 24/04/2022 cnsphoto via REUTERS

Mas não foi só a demanda externa por produtos chineses que desabou. As importações da China recuaram para o nível mais baixo desde janeiro deste ano, em 12,4% em base anual, indicando que o consumo doméstico também está fraco. Essa tendência foi reforçada pelos dados de inflação, conhecidos na noite do mesmo dia 8. 

Enquanto o índice de preços ao consumidor chinês (CPI) seguiu estável em julho, a deflação na porta das fábricas (PPI) se aprofundou. Essa sequência de dados ruins vindos da segunda maior economia do mundo reforça sinais crescentes de perda de tração da atividade econômica – e não apenas na China. 

Demanda menor

“Há evidências mais amplas de que a demanda global por bens está caindo à medida que as distorções da pandemia [sobre a base de comparação] se dissipam e o aperto monetário [no Ocidente] pesa sobre os gastos do consumidor”, afirmam os economistas para China da Capital Economics, Julian Evans-Pritchard e Zichun Huang, em relatório.

Para eles, outros indicadores econômicos chineses, como os pedidos de exportação, apontam para um declínio muito maior na demanda externa do que o até agora refletido nos dados alfandegários. “E a perspectiva para as economias desenvolvidas seguem desafiadoras, com muitas em risco de recessão ainda neste ano, embora brandas.”

Preços baixos

Ao mesmo tempo, Pritchard e Huang observam que o consumo chinês também diminuiu. No entanto, as medidas de apoio devem reverter parte dessa fraqueza nos próximos meses. “Governos locais estão sendo estimulados a financiar gastos com infraestrutura, o que deve impulsionar a importação de commodities no curto prazo”, avaliam. 

Para Xu Tianchen, economista sênior da Economist Intelligence Unit, parece haver uma interpretação equivocada sobre os fatores que influenciam a demanda por matérias-primas, que domina a pauta de importações da China. Isso porque as quedas recentes refletem principalmente preços mais baixos do que volumes menores.

Tanques de armazenamento de petróleo bruto são vistos em uma fotografia aérea no centro de petróleo de Cushing em Cushing, Oklahoma, EUA. 21/04/2020 REUTERS/Drone Base/Foto de arquivo

“Por exemplo, a China está importando mais petróleo, porém a preços mais baixos do barril no mercado, como resultado, o volume importado de petróleo bruto acelerou em julho, mas o valor importado desacelerou. Lógica semelhante vale para grãos e minério”, explica Xu, acrescentando que os volumes ainda estão bem acima da tendência pré-pandemia.

Tanto que a China registrou superávit comercial de US$ 80,6 bilhões em julho, acima do saldo positivo de US$ 70,6 bilhões de junho. O resultado também superou o consenso (US$ 70,3 bilhões), apesar de números piores que a previsão para exportações (-12,5%) e importações (-5,1%). Por isso, investidor, não se engane pelas aparências dos números.

Vale desponta

A expectativa para o desempenho dos preços do minério de ferro e outros metais, como níquel e cobre, combinada com a perspectiva de retomada na produção chinesa de aço, tendem a impulsionar a Vale. As ações de siderúrgicas devem pegar carona nesse movimento, enviando uma mensagem subliminar para a renda variável brasileira

“O preço do minério tem caído, mas ainda se mantém acima da média histórica, de US$ 75 a tonelada. A expectativa é de manutenção neste patamar atual, o que assegura um preço ainda muito bom para a Vale”

Igor Glioche, analista da Órama Investimentos

Glioche lembra que a Vale é a maior produtora mundial de minério de ferro, com vendas acima dos 300 milhões de toneladas anuais. Além disso, a alta qualidade do minério, aliada às economias de escala em meio ao grande volume produzido, tornam a produção da mineradora competitiva internacionalmente.

Alerta global

No entanto, é preciso estar atento ao aviso vindo de fora. “A resiliência da economia dos Estados Unidos e o compromisso do Federal Reserve em conter as pressões inflacionárias em meio a sinais de que a Europa e a China não estão em boa forma introduzem muita incerteza no mercado”, enumera um diretor da tesouraria de um banco estrangeiro. 

Ele chama a atenção principalmente para o dólar e uma eventual rápida valorização do real. Isso em um momento em que o Brasil iniciou o ciclo de queda dos juros, com o Comitê de Política Monetária (Copom) indicando mais cortes de 0,50 ponto porcentual (pp). “Ou seja, a volatilidade está de volta ao Brasil”, conclui o profissional citado acima.

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