Economia
China emite alerta: mundo está em desaceleração; será que a Vale escapa?
Dados da balança comercial e da inflação chinesa reforçam demores sobre fraqueza da economia.
Vem da China o sinal de alerta para a Vale (VALE3): o mundo está em desaceleração. Os dados de julho da balança comercial chinesa, divulgados na manhã de terça-feira (8), mostraram a maior queda anual (-14,5%) das exportações desde o início de 2020, durante a pandemia da covid-19, lançando luz sobre um cenário sombrio da economia global.
Mas não foi só a demanda externa por produtos chineses que desabou. As importações da China recuaram para o nível mais baixo desde janeiro deste ano, em 12,4% em base anual, indicando que o consumo doméstico também está fraco. Essa tendência foi reforçada pelos dados de inflação, conhecidos na noite do mesmo dia 8.
Enquanto o índice de preços ao consumidor chinês (CPI) seguiu estável em julho, a deflação na porta das fábricas (PPI) se aprofundou. Essa sequência de dados ruins vindos da segunda maior economia do mundo reforça sinais crescentes de perda de tração da atividade econômica – e não apenas na China.
Demanda menor
“Há evidências mais amplas de que a demanda global por bens está caindo à medida que as distorções da pandemia [sobre a base de comparação] se dissipam e o aperto monetário [no Ocidente] pesa sobre os gastos do consumidor”, afirmam os economistas para China da Capital Economics, Julian Evans-Pritchard e Zichun Huang, em relatório.
Para eles, outros indicadores econômicos chineses, como os pedidos de exportação, apontam para um declínio muito maior na demanda externa do que o até agora refletido nos dados alfandegários. “E a perspectiva para as economias desenvolvidas seguem desafiadoras, com muitas em risco de recessão ainda neste ano, embora brandas.”
Preços baixos
Ao mesmo tempo, Pritchard e Huang observam que o consumo chinês também diminuiu. No entanto, as medidas de apoio devem reverter parte dessa fraqueza nos próximos meses. “Governos locais estão sendo estimulados a financiar gastos com infraestrutura, o que deve impulsionar a importação de commodities no curto prazo”, avaliam.
Para Xu Tianchen, economista sênior da Economist Intelligence Unit, parece haver uma interpretação equivocada sobre os fatores que influenciam a demanda por matérias-primas, que domina a pauta de importações da China. Isso porque as quedas recentes refletem principalmente preços mais baixos do que volumes menores.
“Por exemplo, a China está importando mais petróleo, porém a preços mais baixos do barril no mercado, como resultado, o volume importado de petróleo bruto acelerou em julho, mas o valor importado desacelerou. Lógica semelhante vale para grãos e minério”, explica Xu, acrescentando que os volumes ainda estão bem acima da tendência pré-pandemia.
Tanto que a China registrou superávit comercial de US$ 80,6 bilhões em julho, acima do saldo positivo de US$ 70,6 bilhões de junho. O resultado também superou o consenso (US$ 70,3 bilhões), apesar de números piores que a previsão para exportações (-12,5%) e importações (-5,1%). Por isso, investidor, não se engane pelas aparências dos números.
Vale desponta
A expectativa para o desempenho dos preços do minério de ferro e outros metais, como níquel e cobre, combinada com a perspectiva de retomada na produção chinesa de aço, tendem a impulsionar a Vale. As ações de siderúrgicas devem pegar carona nesse movimento, enviando uma mensagem subliminar para a renda variável brasileira.
“O preço do minério tem caído, mas ainda se mantém acima da média histórica, de US$ 75 a tonelada. A expectativa é de manutenção neste patamar atual, o que assegura um preço ainda muito bom para a Vale”
Igor Glioche, analista da Órama Investimentos
Glioche lembra que a Vale é a maior produtora mundial de minério de ferro, com vendas acima dos 300 milhões de toneladas anuais. Além disso, a alta qualidade do minério, aliada às economias de escala em meio ao grande volume produzido, tornam a produção da mineradora competitiva internacionalmente.
Alerta global
No entanto, é preciso estar atento ao aviso vindo de fora. “A resiliência da economia dos Estados Unidos e o compromisso do Federal Reserve em conter as pressões inflacionárias em meio a sinais de que a Europa e a China não estão em boa forma introduzem muita incerteza no mercado”, enumera um diretor da tesouraria de um banco estrangeiro.
Ele chama a atenção principalmente para o dólar e uma eventual rápida valorização do real. Isso em um momento em que o Brasil iniciou o ciclo de queda dos juros, com o Comitê de Política Monetária (Copom) indicando mais cortes de 0,50 ponto porcentual (pp). “Ou seja, a volatilidade está de volta ao Brasil”, conclui o profissional citado acima.
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