Economia
Como o mercado de trabalho vai ajudar a definir o rumo dos juros, aqui e nos EUA
Menor desemprego em 10 anos ajuda a explicar alta da inflação de serviços – e preocupa o Banco Central
O mercado de trabalho no Brasil está aquecido. Já nos Estados Unidos, os sinais são de enfraquecimento do emprego. Entre as muitas diferenças entre as duas economias, esse contraste ajuda a explicar porque as taxas de juros nos dois países caminham em direções opostas: tanto lá como cá, é o emprego e a renda que, no fim das contas, vai determinar o futuro da inflação – e, com ele, o caminho dos juros nos próximos meses.
A taxa de desemprego no Brasil caiu de 7,9% para 6,9% no trimestre encerrado em junho, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE. Isso significa que o desemprego está no menor nível desde junho de 2014, ou seja, em dez anos.
Como consequência, a renda da população – que, no fim das contas, é o que vai mostrar capacidade de consumo – está em R$ 292,95 bilhões, o que é um recorde. A renda média cresceu 1,7%, para R$ 2.982, o maior nível desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2021.
O emprego aquecido está diretamente ligado à inflação de serviços. É aquela história: quando as pessoas têm mais renda elas vão mais ao cabeleireiro, viajam, usam aplicativos de transporte… enfim, gastam com o que não é tão essencial assim. Isso está acontecendo e o Banco Central percebeu isso faz algum tempo.
E por que a inflação de serviços é mais preocupante? Porque alimentos sobem e descem de preço; produtos também podem flutuar. Mas os aumentos nos serviços tendem a ser mais resilientes. Em suma, ela dá mais trabalho para o Banco Central.
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No comunicado que explicou a decisão do Copom de manter a Selic em 10,50%, a inflação de serviços é citada como um dos três principais riscos a serem monitorados. Essa inflação, explicou o BC, está mais alta por causa do que se chama, tecnicamente, de hiato do produto – o que pode ser entendido como o espaço para que a economia cresça sem gerar gargalos.
Forma-se um paradoxo: é bom e desejável que a população tenha melhores condições de renda, mas isso não pode gerar inflação. E se a renda da população cresce mais rápido do que a oferta de novos bens e serviços, os preços sobem. “Hiato do produto”.
Já nos Estados Unidos, a situação vai por outro caminho. Antes de falar dos dados de lá, de qualquer forma, é importante destacar um detalhe: diferentemente do BC do Brasil, o Fed tem uma longa tradição de “duplo mandato”: conter a inflação e também contribuir para que haja pleno emprego.
Aos dados. Por lá, o ritmo do emprego está diminuindo. Em junho, foram criados 122.000 postos de trabalho no setor privado em julho, segundo o Relatório Nacional de Emprego da ADP. O número foi menor do que o de junho, de 155.000.
Ao mesmo tempo, tem mais gente pedindo auxílio-desemprego nos Estados Unidos – o que mostra que tem mais gente sem trabalho. O número de pedidos ficou em 249 mil na semana encerrada no dia 27 de julho, 14 mil a mais do que se viu na semana anterior, segundo os dados divulgados nesta quinta-feira (1) pelo Departamento do Trabalho. O Payroll, relatório mais importante sobre o mercado de trabalho americano, já tinha vindo no início de julho mostrando uma alta no desemprego: de 4,0% em maio para 4,1% em junho.
Esses números mostram uma desaceleração econômica suave nos Estados Unidos, o que os especialistas chamam de “soft landing”. E isso ajuda a abrir o caminho para um corte de juros por lá, possivelmente em setembro.
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