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Economia

País volta a ter deflação em maio. É bom ou ruim para a economia?

IPCA recuou 0,38% no mês passado, com a fraca demanda provocada pela pandemia. Entenda os efeitos da deflação em 3 pontos.

Inflação

O fantasma da inflação não assombra mais os brasileiros. O que se vê agora é algo bem diferente: em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve deflação de 0,38%, maior baixa em 22 anos. É o segundo mês de preços em queda, após um recuo de 0,31% em abril. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

MAIS: IPCA tem deflação de 0,31% em abril, menor índice em 22 anos

No acumulado de 2020, o IPCA recua 0,16%. Já nos últimos 12 meses terminados em maio, acumula alta de 1,88%. É a inflação mais baixa desde janeiro de 1999 (1,65%). O resultado reflete a menor demanda do consumidor por produtos e serviços durante a pandemia da Covid-19. Em maio, o preço dos combustíveis recuou 4,56% e voltou a puxar a queda dentro do grupo transportes (1,9%).

5 dos 9 grupos pesquisados pelo IBGE tiveram deflação em maio, entre eles vestuário (-0,58%) e habitação (-0,25%). Já o grupo alimentação e bebidas continuou em alta, com evolução de 0,24% em maio. Mas a alta dos preços desacelerou em relação a abril, quando houve uma inflação de 1,79%.

A queda nos preços é relativamente nova quando se olha para o passado recente do país. Ainda está fresca na memória do brasileiro a remarcação dos preços nos supermercados, quando a inflação fugiu do controle e saltou 1620% em 1990. A luta contra este mal que corroeu os ganhos da poupança e o poder de compra da população deixou marcas sentidas até hoje. Mas a crise trazida pela Covid-19 vem derrubando as projeções para a inflação para patamares nunca vistos.

O último boletim Focus do Banco Central, divulgado na segunda-feira (8), projeta que o IPCA vai acumular 1,53% no final de 2020. Olhando os 12 meses anteriores a maio, a inflação está em 1,88%, abaixo do piso da meta estipulada pelo governo. Quando saiu a deflação de abril, o professor de economia da USP, Simão Silber, afirmou que não havia risco de uma deflação mais prolongada no país neste momento. “Nos próximos meses podemos ter uma inflação muito baixa, mas como as coisas mudam muito rapidamente, é difícil fazer projeções com a curva de juros”, afirma.

O lado perverso da queda nos preços

Segundo economistas, pode ser mais difícil combater a deflação do que a inflação. A deflação nunca foi um vilão para o Brasil como em outros países. Duas das piores crises deflacionárias aconteceram nos Estados Unidos, após o “crash” da bolsa de Nova York em 1929 e, no Japão da década de 1980. Os governos destes países precisaram intervir para combater um ciclo gerado por preços cada vez mais baixos.

Na década de 1930, dados sobre o custo de vida no Rio de Janeiro disponibilizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que os preços caíram 8,9% em um ano no Brasil, após a crise econômica mundial. O governo de Getúlio Vargas precisou intervir comprando e queimando milhões de sacas de café, o principal produto exportado pelo Brasil na época. Assim, reduzia a oferta e forçava um aumento nos preços. É uma forma de elevar os gastos para salvar a economia.

Na história mais recente do Brasil, houve deflação IPCA por no máximo três meses, entre julho e setembro de 1998, num período marcado por crises financeiras na Ásia e pela desvalorização no preço das commodities.

Veja abaixo algumas questões sobre o conceito de deflação e seus efeitos para a economia, na hipótese de ela acontecer:

1 – O que é deflação?

A deflação acontece quando os preços de produtos e serviços que circulam na economia caem em determinado período. É um movimento contrário ao da inflação, quando os preços sobem. A deflação é diferente da chamada desinflação – neste caso, os preços sobem, mas em ritmo mais lento, como aconteceu recentemente no Brasil. Ela pode ser pontual, como aconteceu em abril, ou crônica, como ocorre com o Japão há muitos anos. Como um termômetro que mede a temperatura do corpo, a deflação pode sinalizar que algo não vai bem na economia e que é preciso fazer um diagnóstico. Não existe um consenso técnico sobre por quanto tempo os preços devem cair para caracterizar um ciclo de deflação. Mas é preciso acontecer de forma persistente, mês após mês. Para alguns economistas, o tempo mínimo de 1 ano já caracteriza um processo deflacionário.

2 – Deflação é pior ou melhor que inflação?

Pode parecer positivo ver os produtos que consumimos ficarem mais baratos. Mas quando os preços caem demais, é um sinal de que as pessoas deixaram de consumir, causando um desequilíbrio entre a demanda e a oferta. Na deflação, as pessoas tendem a guardar mais dinheiro e gastar menos, acreditando que o dinheiro valerá mais no futuro. Esse comportamento, aparentemente inofensivo, alimenta uma nova queda de preços, o que pode levar a uma deflação mais prolongada.

Se for um episódio isolado, a deflação pode ser uma mera correção de preços relativos – como um aumento muito forte no passado que será corrigido por uma queda de intensidade parecida. Quando ela é persistente, vem acompanhada da deterioração da economia, como o aumento de desemprego e prejuízo das empresas, levando a consequências mais duradouras que podem comprometer a capacidade de investimento e de recuperação do país.

Não há vencedores na deflação, mas os devedores (quem contraiu dívidas) estão entre os mais prejudicados, especialmente os que possuem financiamentos no longo prazo, como o imobiliário. Se os preços caem muito, quem financiou um imóvel por 20 anos terá que pagar mais por um bem que perder valor. Com menos gente disposta a contrair empréstimos na expectativa de que os preços continuem recuando, os bancos passam a emprestar menos. Pela lógica, é melhor guardar o dinheiro para pagar um valor menor no futuro.

3 – O que causa a deflação?

No caso da deflação pontual (aquela que acontece em um mês isolado), o motivo pode ser um evento isolado, como a quarentena imposta para combater a Covid-19, que fechou o comércio e reduziu o consumo. Neste caso, sobrou oferta e faltou demanda. A deflação também pode vir pelo aumento da oferta, quando há um excedente de mercadorias sem pessoas dispostas a comprá-las. Quando há menos moeda em circulação (pelo aumento da poupança, por exemplo), os preços também tendem a cair.

O desaquecimento da economia ou uma recessão podem levar à recessão prolongada, como acontece em muitos países desenvolvidos. Isso acontece porque os consumidores compram menos e acabam forçando as empresas a reduzir os preços, para não “morrer” com o produto na mão. Preços mais baixos retroalimentam essa tendência, como uma “bola de neve”. O motivo é simples: quando os preços caem demais, as pessoas deixam de consumir e passam a poupar, acreditando que o dinheiro valerá mais no futuro. Isso alimenta uma nova queda de preços, puxando a economia para baixo.

Para combater a deflação, os governos costumam emitir moeda (compra de títulos e aumento da dívida) para colocar mais dinheiro em circulação, o que estimula alguma inflação nos próximos meses. Outra saída seria jogar a taxa de juros lá embaixo, para reanimar o consumo.

Veja também:

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  • CDI ou poupança: quanto rende R$ 1.000 em 1 mês, 1 ano e 5 anos

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