Economia

É provável haver calotes no mercado imobiliário dos EUA, diz Howard Marks

Para gestor, crise financeira recente no país leva a um maior aperto de crédito e riscos adicionais em uma série de setores.

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Em meio às preocupações de quais poderiam ser os impactos de recentes falências de alguns bancos nos Estados Unidos, Howard Marks, gestor da Oaktree Capital, considera que o mercado imobiliário comercial dos Estados Unidos pode passar por calotes.

Em carta para investidores, o gestor afirma que a falência recente dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank traz menos perspectivas de quebras de mais bancos e mais ampliação de cautela entre investidores e credores. Esse cenário, acredita o gestor, leva a um maior aperto de crédito e riscos adicionais em uma série de setores.

Ainda de acordo com Marks, ninguém sabe se os bancos sofrerão perdas em seus empréstimos imobiliários comerciais ou qual será a magnitude.

Mas é muito provável que vejamos inadimplência de hipotecas e, no mínimo, isso pode assustar os credores, jogar areia nas engrenagens dos processos de financiamento e refinanciamento e contribuir ainda mais para uma sensação de risco elevado.

Howard Marks,  gestor da Oaktree Capital.

Marks complementou ainda que “acontecimentos nesse sentido, certamente, têm o potencial de aumentar qualquer sofrimento adicional que se materialize nos próximos meses”.

O gestor pontua, no entanto, que “a inadimplência de hipotecas, geralmente, não sinaliza o fim da história, mas, sim, o início das negociações entre credores e proprietários”. Segundo ele, em muitos casos, o resultado, provavelmente, será a extensão do empréstimo em outros termos.

Comparativo com a crise de 2008

Imóvel nos EUA com placa de “vendido”. Crédito: Trista / Pixabay

Na avaliação do gestor, a situação atual não é altamente comparável à crise financeira de 2008,  gerada pelo setor imobiliário.

“Há coisas aqui ou ali que foram exageradas e certamente não são mantidas nos balanços das principais instituições financeiras dos Estados Unidos em valores suficientes para colocar em risco nosso sistema financeiro. Na verdade, acho que é seguro dizer que os excessos do mercado foram corrigidos em 2022 e não estão pairando sobre nós agora”, aponta o gestor.

Preocupações com bancos

Embora Marks disse não estimar um contágio generalizado decorrente apenas das recentes falências dos dois bancos norte-americanos, ele destaca pontos de atenção que instituições financeiras enfrentam atualmente, como:

  • Cerca de 40%  dos empréstimos envolvendo o mercado imobiliário comercial dos Estados Unidos precisarão ser refinanciadas até o final de 2025 e, no caso de empréstimos a taxas fixas, presumivelmente a taxas mais altas;
  • Taxas de juros mais altas exigem taxas de capitalização mais altas, o que fará com que a maioria dos preços dos imóveis caia;
  • Possibilidade de uma recessão é um mau presságio para as taxas de aluguel e ocupação e, portanto, para a renda dos proprietários;
  • O conceito de pessoas ocupando mesas em prédios de escritórios cinco dias por semana está em questão, ameaçando o modelo de negócios subjacente dos proprietários. No futuro, ninguém sabe quais níveis de ocupação os credores assumirão em seus cálculos de refinanciamento.

Marks destacou ainda que os bancos norte-americanos são os maiores credores do mercado imobiliário comercial do país. Segundo o gestor, em estudo, o Bank of America (BofA) apontou que um banco grande tem, em média,  50% do seu capital de risco em empréstimos que são destinados ao mercado imobiliário comercial americano, enquanto que para bancos menores, esse percentual pode chegar a 167%.

Risco minimizado

Para Marks, os motivos que levaram à falências do SBV e do Signature Bank foram fatores peculiares à instituições financeiras e que, portanto, não sugerem que sejam generalizados no sistema bancário dos Estados Unidos.

Finalmente, deve-se ter em mente que, embora os grandes bancos parecessem estar em perigo em 2008, o Fed e outros formuladores de políticas econômicas conseguiram apresentar planos de resgate (para as instituições e para a economia) e funcionaram”, disse Marks.

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