Economia
Economistas mostram preocupação fiscal em reunião com BC
Lula negocia com o Congresso uma licença para ampliar os gastos previstos no Orçamento de 2023, o que aumenta incertezas sobre perspectivas fiscais.
Economistas levaram preocupação com a inflação para as reuniões com os diretores do Banco Central, em meio à crescente incerteza sobre as perspectivas fiscais do país sob o próximo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Os alertas ocorreram durante encontros na quinta-feira (10), com os dirigentes do BC e que antecedem a preparação do Relatório Trimestral de Inflação, de acordo com quatro participantes que descreveram o clima geral da reunião como muito pessimista.
A diretora de assuntos internacionais, Fernanda Guardado, e o diretor de política econômica, Diogo Guillen, conduziram duas sessões com economistas, mas se abstiveram de fazer comentários, disseram os participantes, pedindo anonimato, já que as reuniões não são públicas.
As preocupações fiscais atingiram duramente os mercados locais nesta quinta-feira, em meio à declarações de Lula sobre a prevalência do social sobre o teto de gastos. A equipe de transição avalia ainda remover programas como o Bolsa Família do limite de despesas. Em reação, o dólar chegou a disparar mais de 4% na máxima, acima de R$ 5,41, enquanto o Ibovespa afundou mais de 3%, mesmo com dia de forte risk-on global.
Lula negocia com o Congresso uma licença para ampliar os gastos previstos no Orçamento de 2023, como forma de financiar as promessas de campanha, incluindo auxílio de R$ 600 e o aumento real do salário mínimo. Entre as opções está uma proposta de emenda constitucional que elevaria as despesas entre R$ 160 bilhões e R$ 200 bilhões no próximo ano.
A maioria dos economistas ainda espera os detalhes do plano para terminar de revisar suas estimativas. À medida que as perspectivas fiscais se deterioram, as expectativas de que a Selic permanecerá alta por mais tempo também estão em alta. Um dos participantes da reunião disse que a ideia que prevalece entre muitos deles é a de que o Banco Central parece cada vez mais o último adulto na sala.
Outro afirmou que, com a atividade desacelerando no próximo ano e as principais economias do mundo correndo o risco de entrar em recessão, as autoridades brasileiras não têm margem para erro. Muitos citaram ainda como um alerta a recente reação negativa dos mercados de títulos e da libra ao pacote apresentado pela ex-primeira ministra do Reino Unido, Liz Truss.
O Banco Central brasileiro interrompeu o ciclo de aperto monetário em setembro, deixando a taxa básica em 13,75%. O IBGE divulgou o IPCA de outubro, que teve alta acima do esperado e rompeu uma série de três meses de deflação, embora em termos anuais o índice de preços tenha desacelerado para 6,47%.
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