Economia

Entre emergentes, real segue como moeda mais valorizada no acumulado do ano

Juros ainda são um dos principais fatores que puxam a alta, segundo especialistas; veja ranking.

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Entre as principais moedas de países emergentes, o real tem mostrado a maior valorização sobre o dólar no ano, com alta de mais de 10% até esta quinta-feira (22), tendo como pano de fundo expectativas mais otimistas dos mercados para a economia brasileira e uma taxa básica de juros ainda considerada elevada – o que, geralmente, atrai mais investidores para o país –, segundo especialistas. 

Observando os países que compõem o Brics, mecanismo internacional de cooperação econômica e desenvolvimento formado por economias emergentes, e outros que mostraram interesse em participar do órgão neste ano, pode-se ver que, no ranking de valorização das moedas emergentes sobre o dólar, depois do real ainda aparecem: a rupia indonésia, com alta de mais de 4%; a rupia indiana, com valorização de 1%; e o rial saudita, com alta discreta de 0,06%.

Cada um desses países têm suas particularidades econômicas que refletem nas variações cambiais, mas é possível destacar que algo que eles têm em comum são taxas de juros consideradas em patamares mais atrativos para investidores. Hoje, a taxa básica de juros do Brasil está em 13,75% ao ano, enquanto que a da Índia está em 6,5% e da Indonésia e da Arábia Saudita em 5,75%, segundo dados do Trading Economics. 

O que fortaleceu o real?

Elcio Cardozo, especialista em investimentos e sócio da Matriz Capital, comenta que as projeções de muitos indicadores econômicos no Brasil melhoraram neste 1º semestre de 2023. “Apenas a título exemplificativo, a última projeção do Produto Interno Bruto (PIB) para 2023 quase triplicou se comparado às projeções do início do ano. Isto se deve muito pelas expectativas, que eram extremamente negativas, em relação ao novo governo”, diz.

No primeiro Boletim Focus, relatório de mercado do Banco Central (BC), deste ano, a expectativa para o PIB em 2023 era de alta de 0,8%. Agora, espera-se que o indicador encerre com elevação de 2,14%, segundo o último relatório divulgado.

Notas de real e dólar 10/09/2015 REUTERS/Ricardo Moraes

Já no caso do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a estimativa no início do ano era de alta de 5,31%, e agora é de 5,12%. A Selic começou o ano com previsão de 12,25% ao fim de 2023, chegou a subir a 12,5% e nesta semana a estimativa retornou ao patamar anterior. No caso do câmbio, o relatório do BC apontava em janeiro que US$ 1 corresponderia a R$ 5,27, enquanto que agora prevê que seja R$ 5.

Cardozo comenta que outro fator importante para a valorização do real frente ao dólar é o juro real no país – ou seja, a taxa de juros nominal descontada pela inflação do país.

“Dentre as maiores economias do mundo, o Brasil possui a maior taxa de juro real e isso proporciona grande interesse de investidores estrangeiros, fato que aumenta o fluxo de dólar no país”, diz.

Já Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, menciona que, após a aprovação de um plano fiscal – o que proporciona uma maior previsibilidade nas contas –, gerando uma maior confiança no governo, o país ainda deve atrair mais dinheiro estrangeiro. 

Decisões do Fed devem mexer com moedas emergentes

Outro fator que ainda tem beneficiado o real e outras moedas emergentes é a expectativa de fim do ciclo de juros pelo Federal Reserve (Fed) nos Estados Unidos da América (EUA), ainda dizem especialistas do mercado. Para as próximas reuniões do banco central norte-americano, a maioria do mercado ainda prevê elevação das taxas, conforme apontam dados do CME Group. No entanto, é esperado que as elevações sejam terminadas ainda neste ano.

“O momento está bastante interessante para as moedas emergentes em relação ao dólar. As sinalizações recentes do Fed de forma menos agressiva enfraquecem o dólar americano e a paridade com as moedas emergentes beneficiam estas últimas.”

Elcio Cardozo, especialista em investimentos e sócio da Matriz Capital.

Do mesmo modo, Luiz Felippo, sócio e analista de fundos da Nord Research, aponta que o mercado já começa vislumbrar de alguma forma que o Fed vai ter que parar de subir os juros. “Isso acaba desvalorizando o dólar e apreciando algumas moedas de alguns países emergentes”, comenta.  

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