Economia

Fed mantém juros nos EUA inalterados, conforme esperado pelo mercado

A taxa norte-americana segue na faixa entre 5,25 e 5,5% ao ano.

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A taxa de juros nos Estados Unidos foi mantida na faixa entre 5,25 e 5,5% ao ano, segundo anunciou nesta quarta-feira (20) o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed). A decisão vem em linha com o esperado pelo mercado

No comunicado, o Fed destacou sua avaliação de que “indicadores recentes sugerem que a actividade econômica tem se expandido um ritmo sólido”. “Os ganhos de emprego abrandaram nos últimos meses, mas permanecem fortes, e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação continua elevada”, apontou.

O mercado tem vivido dias de incerteza sobre a extensão do aperto monetário nos Estados Unidos e a dimensão de suas consequências sobre a economia, com temores inclusive sobre a possibilidade de o país entrar em recessão em meio aos esforços do Fed para esfriar a atividade até controlar a inflação.

Nesse cenário, o Fomc disse no comunicado desta quarta que “condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas poderão pesar sobre a actividade econômica, as contratações e a inflação”, mas acrescentou que “a extensão destes efeitos permanece incerta”.

Indicações

Sobre os próximos passos, o comitê apontou no comunicado que continuará acompanhando as informações sobre a atividade para determinar “a extensão da firmeza adicional da política que pode ser apropriada para fazer a inflação regressar a 2% ao longo do tempo” – ou seja, indicando que mais aumentos de juros podem ser esperados.

O Fed disse ainda que levará em conta “o aperto cumulativo da política monetária, os desfasamentos com que a política monetária afeta a actividade econômica e a inflação, e os factores econômicos e financeiros”.

“O Comitê estaria preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir a consecução dos objectivos do Comitê”.

Os últimos dados

O Fed segue tentando levar a inflação nos Estados Unidos para a meta de 2% em 12 meses. No último dia 13, o Departamento do Trabalho informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) aumentou 0,6% em agosto, no maior ganho desde junho de 2022, depois de duas altas mensais consecutivas de 0,2%. Em 12 meses até agosto, os preços subiram 3,7%.

O banco central norte-americano também continua atento aos sinais sobre a força da economia e do mercado de trabalho. No último dia 1º, um relatório do Departamento do Trabalho conhecido como payroll mostrou que a economia dos Estados Unidos criou mais empregos do que o esperado em agosto, a taxa de desemprego aumentou de 3,5% para 3,8%. O crescimento dos salários também perdeu força. Nos 12 meses até agosto, os salários avançaram 4,3%, após um aumento de 4,4% em julho.

Discuso de Powell

O chefe do Fed, Jerome Powell, disse nesta quarta, embora algumas coisas estejam fora do controle do banco central dos Estados Unidos, há uma boa chance de que os aumentos agressivos da taxa básica do Fed não levem a economia norte-americana a uma desaceleração.

“Sempre achei que o pouso suave era uma perspectiva plausível”, afirmou Powell em coletiva de imprensa..

Nas previsões atualizadas, os formuladores de política monetária ​​da Fed apontaram para um crescimento melhor e uma taxa de desemprego mais baixa, o que indica confiança de que a economia dos EUA resistirá aos aumentos dos juros sem sofrer demais.

Chair do Fed, Jerome Powell, dá entrevista coletiva 26/07/2023 REUTERS/Elizabeth Frantz

Powell alertou nesta quarta-feira que as novas previsões do banco central dos Estados Unidos que mostram que a política monetária permanecerá restritiva por mais tempo não são um plano de ação.

No que diz respeito às novas previsões de juros, ele disse: “não gostaria de dizer que se trata realmente de um plano”, mas em vez disso, as perspectivas refletem a visão das autoridades de que a economia norte-americana terá um desempenho melhor do que esperavam há alguns meses.

Powell disse que as autoridades continuarão a tomar decisões “reunião a reunião” sobre os juros. “Estamos preparados para aumentá-los ainda mais, se apropriado”.

Repercussão

Após a decisão do Fed, Marcos Moreira, sócio da Nexgen Capital, avaliou que o tom da decisão do banco central norte-americano foi mais duro (hawkish) e que o Fomc continuará com a visão de dependência de dados essenciais da atividade para ditar com mais precisão o rumo das próximas decisões de juros.

Moreira destaca alguns pontos de consideração que fundamentam o tom da decisão:

  • Atividade econômica vem surpreendendo e está em níveis mais fortes do que o previsto;
  • Últimos dados de inflação indicam que o processo de desinflação ainda esta longe do fim;
  • Preocupações sobre a divida do governo dos EUA.

“Diante do alto nível de incertezas, acreditamos que os juros tendem a ficar em níveis mais restritivos por mais tempo, e teria espaço para cortes apenas a partir do segundo semestre de 2024”, estima o sócio da Nexgen Capital.

Sede do Fed em Washington, EUA 26/01/2022. REUTERS/Joshua Roberts

Axel Christensen, estrategista-chefe de Investimento da BlackRock para a América Latina, destacou em análise que as expectativas de que o Fed chegasse ao fim do ciclo de subida dos juros foram interrompidas, uma vez que a “porta” foi deixada aberta para um último aumento de juros este ano, caso o fluxo de dados econômicos justificasse a necessidade de controlar a inflação em direção à meta.

Além disso, segundo Christensen, as projecções das taxas para 2024 solidificaram um cenário “mais elevado durante mais tempo”, contrariando as expectativas do mercado de mais cortes.

“O lado positivo veio dos ajustes para cima no crescimento do PIB dos EUA para 2023 e 2024, embora as reações do mercado tenham se mostrado menos entusiasmadas”, disse o estrategista.

André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, destacou que, pelos dados da Chicago Mercantile Exchange (CME), percebeu-se nesta quarta-feira (20) um aumento nas apostas para alta de 0,25 ponto percentual na taxa de juros do país na próxima reunião em novembro para 33% de probabilidade.

“Acredito que caso venha uma nova alta de juros nos Estados Unidos, isso deve ocorrer na ultima reunião do ano, a depender dos dados de inflação em novembro. Caso a economia ainda permaneça aquecida, o Fed deve dar uma “última cartada” para tentar baixar a inflação por lá, ficando em terreno ainda mais restritivo na economia americana”, estima Fernandes.

(*com informações da Reuters)

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