Economia

Fed: mercado espera alta de 0,25 pp dos juros e se divide sobre próximos passos

Investidores aguardam sinais de quando o ciclo de aumentos deve ser encerrado.

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O Federal Reserve (Fed) inicia nesta terça-feira (25) sua reunião de política monetária, com o mercado esperando que o banco central dos Estados Unidos eleve a taxa de juros no país em 0,25 ponto percentual. A expectativa maior, no entanto, é pelas possíveis indicações que o comunicado pode dar sobre os próximos passos, com investidores em busca especialmente de pistas sobre quando os juros devem parar de subir.

Segundo dados da ferramenta CME FedWatch, o mercado enxerga 98% de probabilidade de Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) anunciar uma elevação de 0,25 ponto percentual, levando os juros básicos nos EUA da atual faixa de 5% a 5,25% ao ano para 5,25% a 5,5%. Para a reunião seguinte, a maior parte do mercado espera uma manutenção, com 83% das expectativas, contra 16% de probabilidade de uma nova elevação de 0,25 p.p.

“O importante para a gente acompanhar são as alterações que podem vir no statement da reunião, no comunicado. Então, o que pode acontecer é aquela lógica de mudar alguns termos para ficar um pouco menos ‘duro’ o comentário, especialmente na parte de inflação. Isso poderia ser suavizado um pouco”, comenta Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

A decisão a ser anunciada nesta semana vem num cenário de inflação mais amena que os picos vistos meses atrás, embora ainda siga distante da meta do Fed. De acordo com os dados mais recentes do Departamento do Trabalho, o índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE) – a métrica de inflação mais acompanhada pelo Fed – subiu 0,1% em maio, após alta de 0,4% em abril. Nos 12 meses até maio, o índice avançou 3,8%, após alta de 4,3% em abril.

Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o chamado núcleo do PCE ganhou 0,3%, após alta de 0,4% no mês anterior. Na comparação anual o núcleo aumentou 4,6% em maio, após avançar 4,7% em abril. O Fed acompanha o índice de preços PCE para sua meta de inflação de 2%.

Costa acredita que esses dados mais recentes, combinados com o cenário do mercado de trabalho, dão margem para que o Fed possa interromper o ciclo de aperto de juros nos próximos meses. “A reversão da tendência da inflação, começando a indicar que vai poder se aproximar mais das projeções para este ano e o ano que vem, dá esse conforto para o Fed poder parar agora”, afirma o economista.

Supermercado em Los Angeles, EUA 13/06/2022. REUTERS/Lucy Nicholson/File Photo

Marcos Moreira, sócio da Nexgen Capital, acrescenta que outros dados sobre a economia norte-americana devem pesar sobre a decisão. Entre os mais recentes, ele cita o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) que mostrou nesta segunda-feira (24) que a atividade empresarial nos Estados Unidos desacelerou para uma mínima em cinco meses em julho.

“De maneira geral, a leitura que nós temos é de que a atividade econômica vem mostrando sinais de desaceleração, dadas as políticas mais restritivas, contracionistas, que vêm sendo adotadas pelo Fed”, diz Moreira. 

Expectativas para a inflação

Enquanto alguns indicadores mostram que a economia dos EUA parece estar desacelerando, números mostram que a expectativa de inflação futura tem diminuído. Pesquisa feita pela Bloomberg neste mês indica que os especialistas acreditam que o PCE deve subir 2,2% no último trimestre de 2024. No mês passado, economistas esperavam 2,3%.

Excluindo alimentos e energia, o chamado núcleo do PCE provavelmente vai se desacelerar no primeiro semestre do próximo ano mais do que o previsto no mês passado, ainda de acordo com o levantamento. Economistas também veem o índice de preços ao consumidor esfriar mais rapidamente até o final do ano que vem.

A pesquisa com 73 economistas, realizada de 14 a 19 de julho, foi conduzida logo após o último relatório do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) mostrar que a inflação dos EUA atingiu em junho uma mínima em mais de dois anos. O número levou muitos traders a apostar que o aumento esperado da taxa básica pelo Fed nesta semana semana será o último deste ciclo.

Casa à venda em Washington 07/07/2022. REUTERS/Sarah Silbiger/File Photo

De qualquer forma, ainda há sinais de alerta, como pontua Rodrigo Correa, estrategista chefe e sócio da Nomos. “O processo de desaceleração da inflação nas categorias de serviços, moradia, seguros e saúde, que são mais persistentes, pode levar mais tempo, e os funcionários do Fed provavelmente ainda não estão satisfeitos com os atuais aumentos de preços básicos. O Fed provavelmente desejará manter suas opções em aberto.”

Nesse cenário, Correa acredita que o Fed “poderá elevar as taxas mais uma ou duas vezes, além dessa esperada para essa semana”. 

Quando os juros começam a cair?

Enquanto o mercado se divide sobre quando o Fed vai cessar o aumento das taxas de juros, também seguem as dúvidas sobre o momento de início dos cortes. Para Costa, esse movimento ainda está distante. O especialista estima que, após parar de subir os juros, o Fed mantenha as taxas inalteradas por 2 ou 3 trimestres. 

“O Fed vem de um processo de desinflação bem resistente, então vai querer ter bastante convicção de que a inflação está caindo para poder começar o ciclo (de cortes). Então, não acho que o Fed não tem nenhuma propensão a cortar rápido, a não ser que a economia surpreenda negativamente.”

Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

Já para Moreira, “a orientação de como vai ser a condução da política monetária pelo Fed para os próximos meses ainda não está muito clara”, já que o BC norte-americano “precisa de mais informações para saber exatamente o quão resistente está sendo a inflação para, de fato, mostrar sinais mais claros de reversão à meta”. 

“O mercado de trabalho ainda vem mostrando ser bem resiliente, principalmente quando analisamos a inflação de salários, com destaque para o setor de serviços”, exemplifica ele, acrescentando que, quando esses indicadores passarem a mostrar sinais mais evidentes de queda, o Fed poderá “ser um pouco mais direcional no seu discurso para o mercado ter minimamente uma previsibilidade de quando os juros vão parar de subir e mostrar um início de ciclo de cortes”.

(* com informações de Reuters e Bloomberg)

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