O impacto da ameaça de tarifa de 50% especificamente sobre a economia parece ser uma questão secundária entre os agentes do mercado financeiro no Brasil. O que realmente preocupa os gestores de alguns dos principais fundos de investimento do país são as consequências políticas — a tempestade mais ampla desencadeada pelo presidente dos EUA.
Desde que Trump ameaçou impor tarifas em nível elevado ao Brasil, em retaliação ao que descreveu como uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva melhorou.
Ao encampar o discurso de defesa da soberania nacional, o petista ganhou terreno nas pesquisas recentes. Ao mesmo tempo, a disputa política minou o voo presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o preferido do mercado.
É aí, dizem os gestores, que está o verdadeiro fator que direciona os ativos brasileiros.
“O impacto macroeconômico é pequeno e os riscos microeconômicos já estão no preço. O risco de tarifas é político”, disse Ruy Alves, sócio e gestor da Kinea Investimentos, em entrevista.
Os investidores veem a possibilidade da vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2026 como um sinal negativo para a situação fiscal do país, pois enxergam o governo do petista mais inclinado ao gasto.
“O impacto político das tarifas pode ser grande. E o que pode impactar? O câmbio”, disse Rodrigo Azevedo, co-CIO da Ibiúna Investimentos, em um painel na Expert XP, em São Paulo.
Até o momento, o real tem o terceiro pior desempenho entre as principais moedas emergentes desde o anúncio da tarifa, ainda que a Selic elevada, em 15%, impeça uma queda mais acentuada — pela atratividade das operações de carry trade.
Nesta sexta-feira, a informação de que a equipe de Trump está preparando uma nova base legal para impor tarifas ao Brasil fez o dólar disparar quase 1%.
Na prática, o Brasil, uma economia conhecida por ser protecionista, sentiria pouco o impacto econômico, afirmam grandes bancos. A XP, por exemplo, estima que uma alíquota de 50% reduziria o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em não mais que 0,5 ponto percentual em 2026.
Do ponto de vista microeconômico, algumas empresas brasileiras podem ser afetadas de forma significativa – o que já está amplamente precificado, segundo Alves, da Kinea. O caso mais proeminente é o da Embraer, cujas ações despencaram desde a ameaça tarifária.
“O que me deixa acordado? O perigo é que isso resvale em alguma coisa financeira. Quando você olha para os EUA, ele é o maior detentor de investimento direto no Brasil. Se isso aqui virar uma coisa que bata nesse investimento direto, muda de patamar”, disse Gabriel Hartung, da SPX.
(Por Barbara Nascimento e Giovanna Bellotti Azevedo)