Economia

IPCA-15 sobe 0,28% em agosto, acima das projeções, segundo analistas

Com o resultado agora anunciado, o IPCA-15 acumulou um aumento de 3,38% no ano.

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A prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) registrou alta de 0,28% em agosto, após ter recuado 0,07% em julho, informou na manhã desta sexta-feira (25), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado veio acima da mediana das projeções de mercado, que eram entre 0,16% e 0,17%. A pressão dos custos da energia elétrica impactou o indicador.

Com o resultado agora anunciado, o IPCA-15 acumulou um aumento de 3,38% no ano. A taxa em 12 meses ficou em 4,24%, também no topo do intervalo das projeções, que iam de avanço de 3,98% a 4,24%, com mediana de 4,12%.

O resultado, assim, volta a superar os 4% pela primeira vez desde maio e fica acima do centro da meta para a inflação este ano, que é de 3,25% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. O dado indica que a inflação já atingiu seu ponto mais baixo do ano, como era esperado.

De acordo com o IBGE, os números de agosto apontam que os preços de sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em agosto.

Análises

Segundo o economista Andre Perfeito, “as boas notícias” do campo inflacionário estão chegando ao fim e o mercado deve agora revisar suas expectativas para cima na inflação de 2023 e 2024, “nada muito forte, mas vão, e assim parte da ancoragem das expectativas será comprometida no curto prazo”.

“A questão na mesa é muito simples: se antes a ‘notícia boa era que estava ruim’, agora a ‘notícia ruim é que está bom’, ou seja: melhoras na margem serão cada vez mais difíceis.

andre perfeito

Perfeito aponta ainda que, no médio e longo prazo, a agenda de reformas do governo deverá ser mais “penosa” no campo fiscal, deixando evidente que não haverá tantos avanços como desejados pela equipe econômica. “Neste sentido as expectativas de mais longo prazo para a inflação tenderão a estacionar ou piorar um pouco na margem”, disse em nota.

Já segundo Rafael Costa, analista e integrante do time de estratégia macro da BGC Liquidez, apesar da surpresa altista do indicador, o número foi favorável. “Tanto a inflação de serviços quanto a de serviços subjacentes registraram variações historicamente baixas para o período, mostrando que a desinflação está sendo consistente”, diz.

“A surpresa altista foi devido a forte inflação em automóvel novo, item o qual está sob efeito do programa de descontos para carros populares do governo federal”, acrescenta Costa, apontando que esse efeito é temporário e não deve persistir. Logo, a expectativa do BGC Liquidez é que a inflação encerre o ano em torno de 4,90%.

Para Hugo Queiroz, Sócio da L4 Capital, o IPCA-15 divulgado nesta sexta surpreendeu, merecendo atenção já que “pode criar um certo ruído em relação à condução da política monetária”.

“Esse aumento nos preços pode levantar questões sobre como o Banco Central do Brasil vai lidar com a situação. Essa incerteza pode ser vista como especulativa, pois ainda é cedo para determinar como essa inflação pode impactar as decisões de política monetária”.

Hugo Queiroz, Sócio da L4 Capital

O analista faz coro com Rafael Costa ao apontar que existem fatores específicos e não recorrentes que explicam esse comportamento altista no indicador. “Setores como energia elétrica e combustíveis contribuíram significativamente para esse aumento. O fim do bônus Itaipu e os reajustes da Petrobras são elementos que influenciaram diretamente esses setores”.

Expectativas para a Selic

Já sobre a Selic, o economista acredita na próxima reunião do Comitê de Politica Monetária (Copom) será feito um corte de 0,5 ponto percentual, apesar de apontar que a taxa de juros até poderia cair mais.

“Mas sabemos bem que falar de juros nunca é o que você acha, mas o que você acha que o outro acha e neste caso tanto o mercado quanto o BCB têm uma função de reação muito clara”, observa.

Inflação por grupos

O grupo Habitação subiu 1,08%, com o maior impacto vindo da alta de 4,59% da energia elétrica residencial, influenciada pelo fim da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês anterior.

O segundo maior impacto veio do avanço de 0,81% de Saúde e cuidados pessoais, uma vez que os itens de higiene pessoal passaram de queda de 0,71% em julho para alta de 1,59% em agosto.

Supermercado, itens de higiene pessoal (Foto: Marco Pomella por Pixabay)

Também se destacou a alta em agosto de 0,71% de Educação, com os cursos regulares subindo 0,74%. Enquanto isso, Transportes avançou 0,23%, em resultado puxado pela alta de 2,94% nos preços do automóvel novo.

Somente dois grupos apresentaram recuo de preços no mês de agosto – Alimentação e bebidas, de 0,65%; e Vestuário, de 0,03%.

A alimentação no domicílio caiu 0,99% em agosto, com quedas nos preços da batata-inglesa (-12,68%), do tomate (-5,60%), do frango em pedaços (-3,66%), do leite longa vida (-2,40%) e das carnes (-1,44%).

Combustíveis

Os combustíveis, por sua vez, subiram 0,46%, com altas nos preços de gasolina (0,90%) e gás veicular (1,88%) e quedas no óleo diesel (-0,81%) e etanol (-2,55%).

A Petrobras anunciou em meados de agosto um reajuste grande de combustíveis – aumento de 16,3% nos preços médios da gasolina e de 25,8% nos do diesel vendidos a distribuidoras — que deve impactar com força o resultado do IPCA cheio do mês.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já alertou que a autoridade monetária deve revisar suas projeções para o comportamento dos preços a partir desse novo dado, calculando uma elevação de 0,40 ponto percentual no IPCA entre agosto e setembro.

O reajuste dos combustíveis anunciado pela Petrobras (PETR4) ocorre no momento em que o BC iniciou um ciclo de corte de juros, reduzindo a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25%, e prevendo novas reduções na mesma magnitude. A próxima decisão será em 19 e 20 de setembro.

A pesquisa Focus mais recente realizada pelo Banco Central junto ao mercado mostra que a expectativa é de que o IPCA encerre este ano com alta acumulada de 4,90%, indo a 3,86% em 2024.

*Com Agência Estado e Reuters

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