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Após ataques de Israel ao Líbano, mísseis do Irã atingem território israelense

Dezenas de mísseis foram disparados e vários atingiram regiões no centro e no sul de Israel

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Sistema antimíssil israelense Iron Dome intercepta foguetes em Ashkelon, Israel, nesta terça (1º). Foto: Amir Cohen/Reuters

A violência no Oriente Médio escalou novamente nesta terça-feira (1º), depois que o Irã disparou dezenas de mísseis no território israelense, em retaliação contra os ataques de Israel no Líbano, que já duram dez dias e deixaram mais de mil mortos, incluindo cidadãos brasileiros e o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah.

O disparo de mísseis ocorreu depois que tropas israelenses lançaram ataques terrestres no Líbano nesta terça, na maior escalada da guerra regional desde o início dos combates em Gaza, há um ano.

Entenda abaixo a sequência de acontecimentos e os possíveis desdobramentos, segundo especialistas.

A incursão de Israel no Líbano

Nesta terça, as forças armadas israelense iniciaram incursões por terra sul do Líbano, em área de fronteira com Israel. Antes, durante a semana passada e o final de semana, bombardeios foram feitos na mesma região e em Beirute. Nos ataques, dois adolescentes brasileiros morreram.

Na mais recente rodada de guerra em quatro décadas de conflito intermitente, a luta entre Israel e o Hezbollah tem sido travada paralelamente à guerra de Israel em Gaza contra o Hamas, desde o ataque do grupo palestino apoiado pelo Irã contra Israel em 7 de outubro passado.

O objetivo declarado de Israel no Líbano é tornar as áreas do norte seguras contra disparos de foguetes do Hezbollah e permitir o retorno de milhares de residentes deslocados. Porém, seus ataques também tiveram um impacto devastador sobre os civis no Líbano.

O Ministério da Saúde do Líbano informou no domingo (29) que mais de mil libaneses foram mortos e 6 mil ficaram feridos nas últimas duas semanas, sem informar quantos eram civis. O governo disse que um milhão de pessoas — um quinto da população — fugiu de suas casas.

Além disso, 14 médicos no país foram mortos em ataques aéreos no fim de semana, disse o órgão.

Os mísseis do Irã contra Israel

Segundo a TV estatal iraniana, a elite da Guarda Revolucionária do Irã anunciou ter lançado “dezenas de mísseis” contra Israel nesta terça. De acordo com a Reuters, uma autoridade sênior iraniana disse que a ordem para o ataque partiu do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.

A autoridade também disse que o governo iraniano “está totalmente pronto para qualquer retaliação”.

Teerã também afirmou que os disparos foram uma retaliação após uma série de acontecimentos: o assassinato de Ismail Haniyeh — líder do Hamas morto no Irã em julho, a intensificação dos ataques do regime sionista ao Líbano e a Gaza, o assassinato de Nasrallah e também do comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Abbas Nilforoushan.

Do lado de Israel, militares israelenses confirmaram o lançamento dos mísseis. Segundo a Bloomberg, um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) disse que muitos mísseis foram interceptados no ar, mas vários atingiram regiões no sul e no centro do país.

Sirenes soaram em todo o país e os israelenses correram para se abrigar. Repórteres da televisão estatal se deitaram no chão durante as transmissões ao vivo.

Secretário-geral da ONU, António Guterres, em foto de 24 de setembro de 2024 na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Foto: Mike Segar/Reuters

Repercussão

Após os ataques, António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, fez um apelo por um cessar-fogo imediato no Líbano e para que a soberania e a integridade territorial do país sejam respeitadas, segundo informou o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.

“Uma guerra total deve ser evitada no Líbano a todo custo”, disse Dujarric em um comunicado, acrescentando que Guterres falou com o primeiro-ministro interino do Líbano, Najib Mikati, nesta terça, dizendo a ele que a ONU estava pronta para ajudar os necessitados.

“O secretário-geral continuará seus contatos, e seus representantes no local também continuarão seus esforços para diminuir a escalada da situação.”

Stéphane Dujarric, porta-voz da onu, em comunicado

Mais tarde, ele disse aos repórteres em uma reunião que as forças de paz da ONU no Líbano, conhecidas como Unifil, tinham visto incursões esporádicas dos militares israelenses.

Os Estados Unidos condenaram o ataque do Irã nesta terça. Em coletiva com a imprensa, o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, afirmou que Israel parece ter derrotado o ataque sem perda de vidas.

“Deixamos claro que haverá consequências, consequências graves, para esse ataque, e trabalharemos com Israel para que isso aconteça”, afirmou ele, acrescentando que o governo do presidente Joe Biden ainda estava monitorando a situação e consultando os israelenses sobre os próximos passos em termos de resposta. Ele também disse que o governo estava acompanhando a morte de um civil palestino na Cisjordânia.

À Bloomberg, Bruce Riedel, pesquisador do Centro Brooking de Política do Oriente Médio e ex-agente de inteligência do governo americano, afirmou que a região está “na beira de uma ‘guerra total’ entre Israel e o Hezbollah, o que pode ser devastador para o Líbano e muito dolorosa para Israel”.

Segundo Riedel, “se eles trouxerem os iranianos também [para a guerra], a região inteira estará sob risco”.

Brasileiros no Líbano

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou na segunda-feira (30) a repatriação de brasileiros que vivem no Líbano. Segundo a Reuters, o Ministério das Relações Exteriores disse nesta terça que a operação deve começar no final desta semana, com a retirada de cerca de 3 mil pessoas por meio de entre 10 e 15 voos.

O total depende de dois fatores: o número de brasileiros que confirmarem sua intenção de deixar o país e se o aeroporto de Beirute, capital do Líbano, permanecer aberto.

Por volta de 20 mil pessoas fazem parte da comunidade brasileira no país, mas, de acordo com o governo, 3 mil já pediram apoio para a repatriação. O número ainda deve variar para cima ou para baixo, caso o conflito avance e mais pessoas decidam sair, ou caso haja meios de as pessoas deixarem o Líbano por outras vias.

Com informações das agências Reuters e Bloomberg

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