Economia
Lula não quer derrubar ninguém, só os juros, diz Padilha
Governo jamais discutiu mudar a lei que concedeu autonomia ao BC, diz ministro.
O que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer com a pressão sobre o Banco Central é reduzir as taxas de juros, não trocar o comando da instituição, afirmou o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Lula, que tem criticado o BC por manter os juros em 13,75%, quer discutir abertamente a política monetária, que vê como um obstáculo ao crescimento econômico e ao investimento.
“O presidente Lula não quer derrubar ninguém, ele quer derrubar os juros,” disse ele em entrevista à Bloomberg quinta-feira fim da tarde, em seu gabinete no Palácio do Planalto.
O governo jamais discutiu mudar a lei que concedeu autonomia ao Banco Central ou demitir seu chefe Roberto Campos Neto, afirmou Padilha.
Segundo o ministro, embora Lula defenda publicamente o aumento da meta de inflação – um debate em andamento tanto em países emergentes quanto em países desenvolvidos, incluindo os EUA – ele não pediu isso ao Conselho Monetário Nacional.
O conselho, formado pelo presidente do Banco Central e pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, reuniu-se na quinta-feira. As reuniões do CMN não são públicas, mas o comunicado divulgado a respeito não fez referência a metas de inflação.
Lula não interfere diretamente sobre o trabalho da área econômica, seguindo a mesma diretriz de seus dois mandatos anteriores, afirmou Padilha.
No entanto, o debate é válido. “O mundo inteiro está discutindo a inflação e as metas de inflação”, disse ele. “Isso não pode ser um tabu.”
Nova regra fiscal
A prioridade do governo este ano é avançar no Congresso com o novo plano fiscal que substituirá o teto de gastos e com a reforma tributária. Câmara e Senado estão alinhadas com a agenda econômica do governo Lula, segundo Padilha.
“Há um bom ambiente no Congresso, entre todos os partidos, para aprovar a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal”, afirmou, incluindo parte da oposição que era base aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Padilha, o ideal para o governo é aprovar as novas regras fiscais até julho, antes do Orçamento de 2024 ser encaminhado ao Congresso, em agosto.
Haddad já prometeu enviar o novo plano fiscal aos congressistas em março.
A falta de clareza sobre as despesas públicas depois que Lula foi autorizado pelo Congresso a aumentar os gastos com programas sociais em dezembro passado pesou nos mercados brasileiros este ano. As duras críticas ao Banco Central, questionando a necessidade de sua autonomia e criticando Campos Neto por manter as taxas no nível mais alto em seis anos, aumentaram o nervosismo dos investidores.
Dias depois de Campos Neto dar uma rara entrevista na TV prometendo trabalhar com o governo, Lula atenuou suas críticas ao chefe do BC quinta-feira, ao mesmo tempo em que criticou o setor financeiro do país por reagir exageradamente às ações de seu governo.
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