Economia
Mercados emergentes decepcionam investidores há anos. Com Trump, isso só vai piorar
Para alguns gestores, melhor oportunidade em mercados emergentes hoje é apostar contra eles
Investidores focados em mercados emergentes tiveram pouco a comemorar no último ano. Ou até mesmo na última década. Agora, a perspectiva das tarifas e guerras comerciais de Donald Trump fez com que alguns considerassem abandonar esse segmento completamente.
De ações a moedas e títulos, 2024 foi mais um ano em que a classe de ativos não cumpriu sua promessa, ou o hype dos gestores encarregados de buscar ativos mais arriscados em mercados menores. Para alguns, como o fundo de hedge Broad Reach Investment Management, sediado em Londres, as melhores oportunidades em mercados emergentes estão em apostar contra eles.
Outros estão começando a se perguntar se vale a pena se envolver.
“Não é surpresa que os investidores queiram jogar a toalha nos mercados emergentes ou parar de tentar de vez”, disse Sarah Ponczek, consultora financeira do BV Group da UBS Private Wealth Management, que administra mais de US$ 3 bilhões. “Você pode falar sobre os benefícios eventuais da diversificação global, mas cada vez mais, tudo o que alguém quer falar é sobre Inteligência Artificial, o S&P 500 e sete ações de tecnologia de mega capitalização que estão na moda.”
Enquanto um punhado de mercados de pequeno porte, como Paquistão, Quênia e Sri Lanka, registraram reviravoltas este ano, nenhum grande mercado emergente superou o mercado de ações dos EUA em 2024. O índice de referência MSCI EM subiu menos de 5% no ano até o fechamento na sexta-feira, ficando atrás do S&P 500 pela décima primeira vez dentro de um período de doze anos. Durante esse período, as ações dos EUA entregaram aos investidores cerca de 430% em retornos totais, 10 vezes o que as ações de emergentes entregaram.
No cerne das dificuldades dos mercados emergentes está a incapacidade da maioria dos países de superar o dólar americano. O índice de moedas de mercados emergentes do JPMorgan Chase & Co. está caminhando para um sétimo ano consecutivo de perdas. Em 2024, todas as principais moedas de mercados emergentes perderam valor em relação ao dólar, exceto o rand sul-africano e o ringgit malaio. Pelo menos nove registraram quedas de 10% ou mais.
Com Trump prometendo impor tarifas contra países de mercados emergentes, da China ao México, o CEO da Broad Reach, Bradley Wickens, diz que essas perdas provavelmente estão apenas começando. Ele disse no início desta semana que está animado com as oportunidades em mercados emergentes para o próximo ano — principalmente porque ele acha que há lucros a serem obtidos em vendê-los a descoberto.
“É difícil porque se os EUA são considerados o porto seguro, não apenas da moeda, mas também da perspectiva do patrimônio, é realmente difícil tentar ir contra a maré porque as pessoas desconsideram as avaliações”, disse Dina Ting, chefe de gestão de portfólio de índice global da Franklin Templeton em San Mateo, Califórnia.
As coisas não estão melhores para os investidores de renda fixa. Desde outubro de 2023, quando os gestores globais de dinheiro começaram a se posicionar para uma eventual mudança para cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve dos EUA, muitos têm apostado em um desempenho superior em títulos de moeda local de mercados emergentes, alegando que taxas mais baixas dos EUA apoiariam cortes nas taxas em países em desenvolvimento.
Isso deu errado de duas maneiras: primeiro, muitos mercados emergentes não conseguiram iniciar ou continuar seus próprios ciclos de flexibilização devido a temores persistentes de inflação, bem como a novas ameaças, como os planos tarifários de Trump. Segundo, os títulos locais também ficaram para trás em relação aos ativos mais seguros nos mercados desenvolvidos.
O gestor de investimentos Grantham Mayo Van Otterloo & Co., ou GMO, no início deste ano apregoou a dívida de mercados emergentes em moeda local como uma oportunidade de compra “única em uma geração”. Mas os títulos soberanos de emergentes em moeda local retornaram apenas 2% este ano, de acordo com um índice da Bloomberg que os rastreia, com desempenho inferior ao de ativos alternativos de renda fixa, como os títulos corporativos de alto rendimento dos EUA, que retornaram 8%.
Luis Oganes, chefe de pesquisa macro global do JPMorgan, disse que as esperanças de que pudesse ser encerrado o período de saídas de fundos dedicados a emergentes, que já dura três aos, foram despertadas quando o Fed começou a cortar o juro em setembro. Mas elas terminaram com a eleição de Trump em novembro. Até agora neste ano, os fundos de títulos dedicados a emergentes registraram US$ 23 bilhões em saídas, de acordo com o Bank of America, citando dados da EPFR Global.
“Esperávamos que 2025 fosse o retorno dos fluxos de capital para mercados emergentes, mas dada essa incerteza, mesmo que o Fed comece a cortar, é improvável que isso aconteça”, disse Oganes. Agora, “estamos esperando saídas de fundos dedicados a emergentes” e “os cortes do Fed não serão suficientes” para trazê-los de volta.
Tudo isso está levando a algumas conversas cada vez mais estranhas em Wall Street e outros centros de finanças globais.
“A melhor maneira de encerrar uma conversa com alocadores de ativos e investidores é começar a falar sobre mercados emergentes”, disse Xavier Hovasse, chefe de ações emergentes da Carmignac, uma empresa de US$ 34 bilhões, sediada em Paris. “Muitas pessoas jogaram a toalha após anos de desempenho inferior.”
Alguns especialistas em mercados emergentes estão encontrando maneiras criativas de contornar a decepção perene no desempenho desses mercados, como ganhar exposição ao crescimento dos mercados emergentes não por meio de ações de mercados emergentes, mas por meio de multinacionais dos EUA. Essa é a estratégia implantada por Lewis Kaufman, cujo Artisan Developing World Fund foi tecnicamente o fundo de ações de mercados emergentes com melhor desempenho do mundo durante grande parte deste ano, depois que ele investiu em ações dos EUA como Coca-Cola, Apple e Nvidia.
“Se você é um investidor dos EUA, o sinal que você tem recebido por longos períodos de tempo é não diversificar fora dos EUA”, disse Barry Gill, chefe de investimentos da UBS Investment Management Americas em Nova York. “E se você é um investidor internacional, o único sinal que você tem recebido da perspectiva do mercado de ações é que se você vai diversificar, a única coisa que será realmente valiosa para você é a diversificação para os EUA.”
Nem sempre foi assim.
Entre 2000 e 2010, uma economia chinesa em expansão e a globalização das cadeias de suprimentos impulsionaram os mercados emergentes e aumentaram os retornos para os investidores, ganhando 359% em comparação com 59% para ações de mercados desenvolvidos e 31% para ações dos EUA.
Ting, da Franklin Templeton, está entre aqueles que apostam que esses dias estão fadados a retornar.
“Se você olhar para o tamanho dos EUA em comparação com todo o resto, quero dizer, não é garantido que seja assim”, disse ela. “Investidores racionais podem não querer colocar todos os ovos na mesma cesta.”
Wim-Hein Pals, diretor administrativo e chefe de mercados emergentes da Robeco Institutional Asset Management, que tem € 204 bilhões (US$ 212 bilhões) sob gestão, concorda.
A ameaça de Trump em torno de novas guerras comerciais já está introduzindo incerteza nos mercados desenvolvidos também, disse Pals, como evidenciado pelas indicações do Fed esta semana de que provavelmente buscará uma política monetária mais restritiva do que a prevista anteriormente no ano que vem.
“As ações dos EUA e algumas dessas outras classes de ativos estão muito supervalorizadas”, disse Pals. “Não coloque todos os seus ovos em 2025 na cesta dos EUA.”
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