Economia
Mesmo ainda altos, núcleos de inflação trazem alívio após desaceleração
Ainda assim, presidente do BC diz que é preciso seguir com ‘calma e serenidade’ nas decisões de política monetária.
A desaceleração dos núcleos de inflação tem deixado analistas do mercado mais otimistas quanto ao arrefecimento dos preços dos produtos e serviços, mesmo sabendo que isso deve acontecer a passos lentos. Com a mais recente divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), a média dos núcleos de inflação caiu de e 0,45% em abril para 0,42% em maio, de acordo com dados do Banco Central (BC).
No caso do IPCA, a média dos núcleos vem caindo consecutivamente desde junho de 2022 até abril de 2023, de 10,5% para 7,32% (dados acumulados mais recentes).
Futuro da inflação
Para Christopher Galvão, analista da Nord Research, os dados do IPCA-15 e de seus núcleos divulgados na quinta-feira trouxeram otimismo para o processo de desinflação, ainda que lento. “O IPCA-15 foi um número bom e trouxe boas notícias nesse processo de arrefecimento da inflação”, diz.
Na mesma linha, André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart, menciona que o IPCA-15 de maio foi uma surpresa e “aponta para uma trajetória positiva no processo de desinflação”. “Vale ressaltar que os índices de preço ao atacado e ao produtor também estão em tendência de queda, o que pode influenciar positivamente no processo de desinflação”, comenta ainda.
Rodrigo Romero, economista-chefe da Levante Investimentos, também achou positivo os dados do IPCA-15. No entanto, ele alerta que a queda do indicador está muito voltada para itens mais voláteis, enquanto os núcleos tiveram uma desaceleração menor.
“Tivemos um respiro também na média de alguns núcleos importantes, isso deve alimentar uma expectativa mais otimista por parte do mercado. De qualquer forma, vemos ainda um ambiente desafiador nesse sentido, que por mais que tenha mostrado boa evolução, ainda se encontra distante da meta e deve exigir do BC mais algum tempo de ‘observação’, prolongando a janela de juros altos por mais algum tempo. O combate à inflação é, naturalmente, um remédio amargo”, diz.
Importância dos núcleos de inflação
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, explica que os percentuais divulgados do IPCA ou IPCA-15 têm muitos “ruídos” por conta de preços muito voláteis, que elevam ou contraem os indicadores significativamente. E que, assim, trazem níveis de incerteza maiores nas análises dos conjuntos de dados.
Portanto, para obter uma análise mais confiável e observar alguma tendência, esses itens voláteis precisam ser retirados das contas, o que é exatamente o papel dos cálculos dos núcleos de inflação.
“Os núcleos são avaliados de maneira separada do número cheio porque o objetivo é exatamente excluir os itens mais voláteis da composição do indicador”, comenta, acrescentando que “é uma medida menos volátil e mais confiável sobre a trajetória da tendência inflacionária”.
Meirelles, da InvestSmart, comenta que entre os principais preços voláteis estão os alimentos e os combustíveis.
“Isso significa, na prática, que esse indicador desconsidera efeito de choques de inflação, possibilitando a análise da persistência da inflação, uma vez que choques, geralmente, são passageiros.”
André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart.
Ele comenta ainda que é por essa razão que essa medida é de suma importância para o BC tomar decisões acerca da trajetória da taxa de juros, “uma vez que o IPCA considera variações de preço que não tem relação direta com o aumento ou redução da Selic”.
Galvão, da Nord Research, pontua que “se os núcleos de inflação estão pressionados, isso significa que a parcela mais persistente da inflação [também] está mais pressionada”. Com isso, o processo de arrefecimento da inflação deve levar mais tempo.
“Os núcleos mais pressionados acabam causando maior dificuldade na economia, porque causam um menor poder de compra da população e acabam prejudicando especialmente a população de menor renda”, diz.
Posicionamento do BC
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, avaliou ainda na quinta-feira (25), em comentários gravados para o Global Emerging Markets Summit 2023, que o processo de desinflação no Brasil ainda não acabou e que é preciso convergir a inflação para a meta.
“Estamos comunicando que precisamos seguir adiante com paciência e serenidade, e achamos que o processo de desinflação ainda não acabou e precisamos garantir que faremos a inflação convergir para a meta”, afirmou.
Na segunda-feira (22), durante seminário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), ele disse que tem observado uma desaceleração grande na inflação brasileira, mas que o núcleo dos preços ainda segue muito alto e as expectativas dos preços também permanecem elevadas.
O Boletim Focus divulgado mais recentemente apontou para queda do IPCA neste ano para 5,8% ante 6,03% na semana anterior.
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