O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, em Montevidéu. Líder popular da esquerda latino-americana, Mujica foi guerrilheiro, preso político, senador e presidente, mas ficou conhecido principalmente pelo estilo de vida simples e falas diretas.
Mujica comandou o Uruguai entre 2010 e 2015, período marcado por reformas consideradas pioneiras na América Latina. Durante seu mandato, legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, regulamentou o aborto e sancionou a venda estatal de maconha — uma política inédita no mundo à época.
“É com profundo pesar que anunciamos a morte de nosso camarada Pepe Mujica”, escreveu o atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, nas redes sociais. “Obrigado por tudo o que você nos deu e por seu amor ao povo.”
Apesar do cargo, recusou-se a viver no palácio presidencial. Morava com a esposa, a ex-senadora Lucía Topolansky, em uma chácara simples nos arredores de Montevidéu, onde cultivava flores e vegetais. Preferia dirigir seu Fusca velho ou o trator da propriedade, com o qual dizia “ter tempo para pensar”.
Da guerrilha à presidência
Nos anos 1960 e 70, Mujica foi um dos principais nomes dos Tupamaros, grupo guerrilheiro marxista que enfrentava o regime conservador do Uruguai por meio de sequestros e atentados. Preso em 1972, passou quase 15 anos na prisão, parte deles em solitária. Foi libertado em 1985 com o retorno da democracia no país.
A partir dali, reergueu sua trajetória política até se tornar ministro da Agricultura no governo de Tabaré Vázquez e, mais tarde, presidente.
Eleito com 52% dos votos, Mujica conquistou o eleitorado com sua autenticidade. Costumava dizer que o mundo era governado por pessoas que “esqueceram como eram quando jovens” — e defendia o diálogo até com adversários. “Temos que concordar com o que existe, não apenas com o que gostamos”, dizia.
Uma figura única
Crítico das guerras às drogas, defendia a descriminalização sob controle estatal. “Não sou a favor das drogas, mas a proibição criou um segundo problema: o narcotráfico, que é ainda pior”, dizia.
Ao se afastar da política ativa por conta de um câncer, deixou um recado que resume seu legado:
“A vida é linda, mas ela se desgasta. A questão é recomeçar toda vez que você cair. E, se houver raiva, transformá-la em esperança.”