O Pix na mira de Trump: entenda a verdadeira posição do Brasil no ranking mundial de pagamentos instantâneos

Os EUA abriram uma investigação contra o Brasil por supostas práticas desleais no comércio internacional, e colocou o Pix na mira. Segundo o governo americano, o sistema brasileiro de pagamentos instantâneos seria um exemplo de política estatal que prejudica empresas estrangeiras de serviços financeiros – como Apple Pay, Paypal etc.

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Trump assume que a motivação de suas sanções contra o Brasil é política. Faz pouco sentido, então, debater o sentido econômico da medida.

Mas vale lembrar que o Pix basicamente aposentou o dinheiro de papel. Os saques de notas representaram só 0,9% dos meios de pagamento no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o Banco Central. O Pix ficou com 51% – com o débito e o crédito pegando a maior parte do restante. Em cinco anos, então, ele já é tão parte da cultura local quanto a caipirinha, a feijoada e o WhatsApp.

Também vale considerar que os EUA também têm seu Pix. É o FedNow. A diferença é que poucos bancos por lá aderiram (no Brasil é obrigatório).

O que os americanos realmente usam como Pix são serviços privados. Os mais usados são dois, que não operam por aqui: Zelle e Venmo.

Veja no mapa aqui embaixo outros “Pixes” em voga no planeta:

Brasil é 2º em número de transações — com ampla distância para a Índia

Desde que foi lançado em 2020, o Pix cresceu em ritmo acelerado e se tornou o principal meio de pagamento no Brasil. Somos o segundo maior do mundo em pagamentos instantâneos, levando em conta o número de transações.

Mas o primeiro lugar está muito à frente. A Índia, com seu sistema UPI (Unified Payments Interface), registrou 129,3 bilhões de pagamentos em tempo real no mesmo ano. Isso representa 49% de todas as transações do tipo no planeta — mais que o triplo do volume brasileiro, que respondeu por 14% do total global.

Volume de dinheiro movimentado: Brasil só é o 7º

O principal argumento contra a tese americana, no entanto, está no volume financeiro das operações. Ao todo, o Pix movimentou US$ 1,3 trilhão desde sua criação — o que coloca o Brasil na sétima posição global.

Países como China, Japão, Coreia do Sul, México e Reino Unido aparecem à frente. A China lidera com larga vantagem: foram US$ 14,4 trilhões em transações no período.

Em valor per capita, o Brasil despenca para 18º

Na métrica de valor médio por habitante, o Brasil cai ainda mais no ranking. Em 2023, foram cerca de US$ 6 mil transferidos por pessoa via Pix. Já na Coreia do Sul, esse valor passou de US$ 26 mil.

A razão é simples: no Brasil, o Pix é usado principalmente para pequenas transferências do dia a dia. Nos países asiáticos, que cobram tarifa por operação, os pagamentos instantâneos são reservados para valores mais altos — e o débito ainda domina as compras cotidianas.

Índia: o verdadeiro gigante dos pagamentos em tempo real

Líder absoluta em transações instantâneas, a Índia é também um caso de inclusão digital em massa. O sistema UPI é mantido por uma parceria entre o Banco Central indiano e a associação de bancos do país, com integração entre apps, bancos e o governo.

O detalhe mais impressionante: mesmo quem não tem smartphone pode usar o sistema com uma ligação telefônica. Com isso, a Índia consegue atingir regiões rurais e populações historicamente excluídas do sistema financeiro.

A infraestrutura pública indiana é, na prática, bem mais complexa e intervencionista que o Pix — e mesmo assim não foi alvo da atual investigação dos EUA. O que reforça a ideia de que a crítica ao Brasil tem mais a ver com política do que com distorções reais de mercado.

China: o poder está nas carteiras digitais

Na China, o modelo de pagamentos foi dominado por duas gigantes privadas: Alibaba e Tencent. As carteiras digitais Alipay e WeChat Pay concentram mais de 90% das transações, integrando crédito, débito, contas bancárias e até serviços de transporte e redes sociais em um só aplicativo.

O sistema oficial chinês de pagamentos instantâneos, o IBPS, lançado em 2010, representa hoje apenas 3,1% das transações. Ainda assim, a China lidera em volume financeiro total, com US$ 14,4 trilhões movimentados.

Nesse contexto, o Pix aparece como exceção: um sistema gratuito e público que conquistou protagonismo mesmo diante da concorrência privada. Mas ainda distante do impacto das big techs asiáticas.

Europa obriga bancos a aderirem — e já padronizou pagamentos

Enquanto os EUA criticam a obrigatoriedade de adesão dos bancos ao Pix, a União Europeia seguiu caminho semelhante. Desde janeiro de 2025, todos os bancos dos países da zona do euro são obrigados a oferecer o sistema SCT Inst (SEPA Instant Credit Transfer), que realiza transferências em até dez segundos.

Destaque para os Países Baixos, onde o pagamento instantâneo virou padrão no e-commerce. Na Europa, Dinamarca e Suécia também têm sistemas próprios — todos com exigência de interoperabilidade e padrões técnicos rigorosos.

O Brasil antecipou essa movimentação ao exigir a entrada de todas as instituições com mais de 500 mil clientes desde o lançamento do Pix. E o fez sem cobrar tarifas, algo ainda raro globalmente.

Tailândia já faz Pix entre países

Outro exemplo que enfraquece o argumento dos EUA é a Tailândia. Lançado também em 2016, o PromptPay demorou a decolar, mas hoje já permite transações internacionais em tempo real.

Desde dezembro de 2023, tailandeses podem transferir e receber dinheiro diretamente de países como Japão, Camboja, Vietnã, Malásia, Indonésia, Singapura e Hong Kong. É uma integração regional que ainda está longe de se tornar realidade no Brasil — o Pix brasileiro não permite transações internacionais nem offline.

Ou seja: mesmo entre os sistemas públicos, o Pix ainda tem espaço para evoluir.

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