Economia
Petrobras reduz risco de desabastecimento, mas política de preços é dúvida
Reajuste na gasolina e no diesel reduz defasagem, mas ruído com política de preços permanece.
Acabou o rumor. A Petrobras anunciou nesta terça-feira (15) um reajuste dos combustíveis. Desde o fim de semana, havia a expectativa de aumento nos preços da gasolina e do diesel, em meio à defasagem em relação ao mercado internacional, o que estava elevando os riscos de desabastecimento por aqui. Nos últimos dias, foram registrados relatos de falta de diesel nos postos de alguns estados.
A definição dos preços pela Petrobras (PETR3 e PETR4) está diretamente ligada ao risco de desabastecimento. Isso porque cerca de 25% do diesel consumido no Brasil é importado. Diante da defasagem de quase 30% no valor do óleo vendido pela Petrobras no mercado interno na comparação com o praticado no exterior, as empresas estavam reduzindo as importações do produto devido aos preços baixos.
No entanto, o aumento de 25,8% no litro do combustível tende a dirimir essas perdas. Afinal, o reajuste anunciado nesta terça pela Petrobras veio acima das expectativas. A partir desta quarta-feira (16), o litro da gasolina terá uma alta de R$ 0,41 nas distribuidoras, chegando a R$ 2,93, enquanto o do diesel vai subir R$ 0,78, passando a R$ 3,80.
“Isso fez com que a defasagem reduzisse bastante”, avalia o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Cálculos dele mostram que a defasagem da gasolina que estava em 32,52% cairá a 21,61%. “E o do diesel ainda mais”, emenda o especialista, passando de 27,67% para 9,2%.
“Em valores, era R$ 1,17 e agora está em R$ 0,39”, ressalta Pires. Além disso, ele afirma que o preço do barril de petróleo no exterior também ajuda o cenário doméstico. O barril do tipo Brent vem acumulando ganhos há sete semanas consecutivas, mas nesta terça o contrato futuro mais ativo da commodity ainda está cotado em torno de US$ 85.
Inflação e BC
Apesar do alívio dos receios sobre desabastecimento do mercado, há também um impacto indireto do reajuste do diesel na inflação. “O aumento tende a elevar sobremaneira o custo de transportes na economia e tornar o processo desinflacionário menos intenso”, observa o economista da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Segundo ele, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao final deste ano sobe de 4,8% para 5,1%. Além disso, o economista lembra que um aumento relevante no litro do diesel eleva o risco de eventuais manifestações de caminhoneiros.
A Petrobras destacou, em nota, que “o valor efetivamente cobrado ao consumidor final no posto é afetado por outros fatores”, como impostos, margens de lucro e mistura de combustíveis.
Nesse cenário, a defasagem dos combustíveis “é um elefante na sala que não precisava estar lá”, avalia o economista André Perfeito. Para ele, a incerteza em relação à nova política de preços da Petrobras criou ruídos desnecessários e pode gerar dúvidas em relação à condução da política monetária pelo Banco Central.
“O BC tem sinal verde do mercado para continuar cortando a Selic, mas a questão na mesa são as expectativas de inflação em horizontes mais longos”, observa Perfeito, lembrando que as previsões para o IPCA em 2025 estacionaram em 3,5%, ainda acima do centro da meta de 3%. Com isso, o espaço para o juro básico cair para abaixo de dois dígitos diminui.
Política de preços segue incerta
Portanto, o reajuste nos combustíveis anunciado nesta terça-feira retira apenas parte do ruído. “É preciso ver como fica daqui para frente”, ressalta Pires, do CBIE. Para ele, a nova política de preços da Petrobras “parece ser uma caixa preta”.
“Ninguém sabe o dia que vai aumentar nem o percentual de aumento, nem a lógica disso”
Adriano Pires, diretor do CBIE
Nesse sentido, o especialista chama a atenção para a possibilidade de o preço do barril de petróleo voltar a subir. “Se isso acontecer, essa defasagem vai voltar a subir e a Petrobras vai ter de elevar os preços novamente”, pondera.
Ou seja, essa ausência de uma comunicação considerada mais direta sobre a política de preços da estatal petrolífera cria uma “conta erro”, na avaliação de Perfeito, com a “linha vermelha” parecendo ser uma diferença de 25% entre os preços domésticos e externos. “E isso se traduz em aumento do prêmio de risco”, explica o economista.
Não se trata de retornar ao regime antigo de paridade internacional, que, segundo ele, criou muita volatilidade no mercado, porém seria importante deixar claro os parâmetros utilizados pela Petrobras para recalibrar os preços. “Logo, toda vez que a paridade for violada de maneira significativa o mercado irá esperar alguma elevação de preços”, conclui.
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