Economia
PIB brasileiro surpreende mais uma vez, mas o que conta é a direção
Desaceleração é esperada, mas 3ª taxa positiva seguida mostra resiliência da economia, dizem especialistas.
A economia brasileira surpreendeu mais uma vez. Depois de contrariar as expectativas no primeiro e no segundo trimestres deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil manteve o script e cresceu 0,1% entre julho e setembro em relação ao período anterior – indo novamente na contramão das previsões, que eram de queda de 0,2%, conforme consenso do mercado.
Além disso, a revisão do resultado trimestral do trimestre passado, de alta de 0,9% para 1%, fortalece ainda mais a surpresa desta terça-feira (5). Mas, apesar de errarem nos números, os economistas acertaram em uma coisa: a atividade econômica desacelerou. E essa perda de tração deve, em algum momento, interromper a sequência de três taxas positivas consecutivas do PIB.
“O PIB do Brasil teve um desempenho melhor que o esperado no terceiro trimestre, mas o panorama geral é que o forte crescimento observado no primeiro semestre do ano chegou ao fim”
William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, em relatório
Portanto, há um consenso de que o sentido da economia brasileira é o mesmo e aponta para baixo. A dúvida, porém, é se isso irá acontecer já neste quarto trimestre ou se ainda dá para “salvar” a economia antes do fim do ano.
Para Jackson, da Capital Economics, é difícil prever o que acontecerá no quarto trimestre deste ano, dada a volatilidade da produção no setor agrícola. Aliás, o PIB do agro caiu 3,3% no trimestre passado no confronto com o período anterior, mostrando um desempenho ainda expressivo da agropecuária, apesar do fim dos efeitos da supersafra.
O que surpreendeu?
De um modo geral, os números do PIB do terceiro trimestre mostram a resiliência da economia brasileira em 2023, na avaliação de especialistas. Enquanto, do lado da oferta, os setores industrial e de serviços compensaram o recuo da agropecuária; do lado da demanda, o consumo das famílias teve impacto positivo.
Para o economista e sócio da Matriz Capital, Vinicius Moura, os dados do PIB brasileiro no terceiro trimestre refletem uma dinâmica variada da economia, com alguns setores com crescimento robusto enquanto outros enfrentam obstáculos. “A economia parece ter alguns pontos fortes, mas também tem desafios”, resume.
Além disso, o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, destaca que os setores que tiveram desempenho mais favorável estão entre aqueles que especialistas têm mais dificuldade de acompanhar, a exemplo do agro, conforme citado acima. “Mas olhando os dados de oferta e também pela ótica da demanda, os dados são mais condizentes com um cenário de PIB fraco”, emenda.
Desaceleração anunciada
Com isso, o desempenho surpreendente entre julho e setembro deve levar a uma nova rodada de revisões para cima do crescimento do PIB no acumulado de 2023. Aliás, esse movimento já havia sido visto após o crescimento acima do esperado entre abril e junho.
O BTG Pactual, por exemplo, já avisou em relatório que irá enviar em breve as novas projeções para o PIB de 2023, após a divulgação dos dados nesta terça. Até então, a previsão do banco era de expansão de 2,7%, que deve então ser revista para cima.
Para Moura, da Matriz Capital, essas revisões podem ter um impacto significativo nas projeções para o PIB do ano, especialmente se mostrarem mudanças substanciais nos números, ao invés de serem ligeiras diferenças nas casas decimais.
O economista André Perfeito, por exemplo, revisou em leve alta a estimativa para o PIB em 2023, passando de 3% para 3,1%. Para os últimos três meses deste ano, a expectativa da consultoria que ele representa é de alta de 0,3%, no confronto trimestral.
Segundo Perfeito, a melhora na previsão deve-se ao setor externo mais forte que o inicialmente esperado. Além disso, a massa salarial real em alta e os efeitos defasados da queda dos juros contribuem para um cenário mais positivo nesta reta final de 2023.
“A alta reiterada da massa salarial reforça a perspectiva de crescimento e aponta para uma melhor irrigação do tecido econômico, que irá se beneficiar também da queda continuada da Selic nos próximos meses”
André Perfeito, economista, em comentário
Já para 2024, o economista manteve a projeção de crescimento de 2%. Isso significa que a economia brasileira está entrando em uma fase de crescimento mais fraco.
Para Jackson, da Capital Economics, a previsão de crescimento para 2024, de 0,8%, deve ser revisada para cima. “Mas o crescimento deve se estabilizar em taxas mais semelhantes às registradas nos anos anteriores à pandemia, entre 1% e 1,5%”, completa o economista de mercados emergentes da consultoria norte-americana.
Ou seja, por mais que tragam certo otimismo, os números do PIB ainda não denotam um crescimento estruturalmente robusto da economia, conforme avalia a Ativa Investimentos. Ainda mais para 2024, observam os economistas Guilherme Sousa e Étore Sanchez, que revisaram a alta deste ano de 2,5% para 2,9%, e também a perspectiva do PIB em 2024, de 1,3% para 1,5%.
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