Economia

Por que o gasto de US$ 17 bi em reservas cambiais parece fazer o dólar a subir ainda mais

“É como enxugar gelo”, dizem economistas sobre intervenções do BC no câmbio

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O Banco Central já gastou US$ 17 bilhões de suas reservas internacionais em pouco mais de uma semana fazendo leilões de dólar. Isso equivale a cerca de 10% do total das reservas líquidas – a diferença entre o total de reservas, o estoque de swaps cambiais e a dívida pública atrelada ao dólar. Mas, mesmo com esse esforço todo, a cotação não para de subir: nesta segunda-feira (23), chegou perto dos R$ 6,20.

Essa reação, ou a falta dela, trouxe uma discussão importante à pauta: faz sentido o Banco Central tentar suavizar o movimento de desvalorização do câmbio? E, para especialistas, a resposta é não. Embora o país tenha um volume alto de reservas, de cerca de US$ 360 bilhões, não faz sentido vender esses dólares para tentar conter a cotação. Fazer isso é como enxugar gelo, ou construir uma ponte de 5 quilômetros de extensão sobre o oceano. Não leva a nada.

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Esse diagnóstico de economistas tem a ver com a natureza do movimento do câmbio. O dólar está subindo porque houve uma grande mudança no que se chama de fundamentos econômicos. E não porque existe uma “saída atípica” de recursos do país, como o Banco Central chegou a afirmar.

Reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para sabatinar o economista Gabriel Galípolo, indicado pelo governo para a presidência do Banco Central (BC). Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O InvestNews consultou fontes da tesouraria de dois grandes bancos estrangeiros. Segundo elas, existe, sim um fluxo de remessas de recursos para o exterior, especialmente por parte de empresas multinacionais. Mas esse movimento está totalmente dentro do padrão sazonal: no fim do ano, essas grandes companhias enviam seus lucros e dividendos para suas matrizes. Tanto é que, nessa época, o BC tradicionalmente realiza leilões de linha – operações em que ele vende do dólar mas recompra a moeda algum tempo depois, com o objetivo de evitar uma pressão pontual sobre a cotação.

O que está acontecendo agora é o que o mercado chama de “reprecificação de ativos”. É que a tentativa de corte de gastos do governo não deve ter o resultado necessário para conter o aumento da dívida pública. Isso vai fazer a inflação e os juros subirem. Ao mesmo tempo, o valor do real em relação ao dólar cai. É o efeito esperado para um regime de câmbio flutuante.

Tentar controlar esse ajuste de preços a força, dizem economistas, chega a ser uma “irresponsabilidade”. Isso porque as reservas internacionais são hoje uma das armas mais importantes que o governo tem para fazer frente à instabilidade dos mercados. Essa é, inclusive, uma das principais diferenças do país neste momento quando se compara com o que se viu em 2002, momento em que a mudança de governo gerou forte nervosismo entre investidores.

Vender dólares e gastar reservas agora, na visão de especialistas ouvidos pelo InvestNews, agrava ainda mais o problema fiscal e, portanto, torna o ambiente econômico mais frágil. Então, não é exagero dizer que as intervenções podem, inclusive, ajudar o dólar a subir, em vez de trazer alívio.

E não é só isso. Embora a nova diretoria do Banco Central não tenha assumido, é possível dizer que já existe uma transição efetiva nas funções. Isso ficou claro na última reunião do Copom, em que o peso da posição do futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, já foi maior do que o do atual presidente Roberto Campos – e foi o próprio Campos quem disse isso.

Economistas entendem, portanto, que a estratégia para o câmbio também já estão sob nova direção. A julgar pelo resultado recente, esse é um fator adicional para o clima geral de incertezas.

(Colaborou Sérgio Tauhata)

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