Os indivíduos que têm protestado contra os resultados das eleições presidenciais do Brasil são “destemperados” e não representam o povo brasileiro, disse o presidente do Bradesco (BBDC4), segundo maior banco da América Latina, Octavio de Lazari Junior, em entrevista no escritório da Bloomberg em Nova York.
“A democracia no Brasil é muito jovem, mas prevaleceu, e o Judiciário tem sido forte e eficaz em defendê-la”, disse Lazari Junior. “Você pode ter uma pequena reclamação aqui, outra ali, mas a eleição está resolvida. Vamos em frente”.
Os apoiadores mais ferrenhos do presidente Jair Bolsonaro se recusam há mais de duas semanas a aceitar a derrota na votação do mês passado. Eles protestaram contra a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, apoiando alegações não comprovadas de fraude. Bolsonaro ainda não fez declaração pública explícita de que reconhece os resultados das eleições, embora membros de seu governo tenham dito que ele está cedendo o poder.
Lazari disse que não há risco de a eleição ser invalidada porque o povo brasileiro, que é “calmo e amigável”, não permitiria. O foco agora deve estar no próximo governo e em sua tarefa mais importante: manter a disciplina fiscal para ajudar o Banco Central a controlar a inflação e, eventualmente, reduzir os juros básicos, hoje em 13,75%.
Democracias em todo o mundo têm lidado com questionamentos do resultados de eleições nos últimos anos. Mas no Brasil as autoridades se tornaram especialmente agressivas na moderação de extremistas depois que Bolsonaro, que se inspira no ex-presidente dos EUA, Donald Trump, colocou em dúvida o sistema de votação eletrônica do país.
Desempenho do Bradesco
As ações do Bradesco caíram 17% em 9 de novembro, a maior queda desde 1998, depois de o banco divulgar lucro mais fraco do que o previsto e inadimplência maior do que a esperada em sua carteira, provocando uma série de rebaixamentos de analistas.
O lucro líquido recorrente do banco totalizou R$ 5,2 bilhões no terceiro trimestre, queda de 23% em relação ao ano anterior e abaixo da estimativa média dos analistas de R$ 6,7 bilhões. O Bradesco, um dos mais expostos a pessoas físicas de baixa renda no Brasil, mais que dobrou despesas com provisões para empréstimos com pagamento em atraso.
O retorno sobre o capital, uma medida de lucratividade, diminuiu de 18,5% no segundo trimestre para 13,4%, seu nível mais baixo desde o segundo trimestre de 2020, no início da pandemia de Covid.
Lazari disse que está se preparando para mais inadimplência nos próximos trimestres, já que inflação, altas taxas de juros, salários corroídos e baixa renda disponível estão tornando mais difícil para os indivíduos pagarem suas obrigações.
“O governo precisará ajudar as famílias mais pobres no próximo ano”, disse Lazari. “Não temos como escapar disso, e podemos viver com gastos extras para este fim desde que a dívida pública não aumente, desde que o governo corte outras despesas ou aumente a receita.”
Os empréstimos com pagamento em atraso por mais de 90 dias atingiram 5,1% do total da carteira de pessoas físicas do Bradesco, o maior percentual desde março de 2018. Para as pequenas e médias empresas, a inadimplência atingiu 4,5%, um aumento de 60 pontos-base em relação ao trimestre anterior.
As famílias têm sido forçadas a alocar parcela maior da renda para pagar as dívidas mais caras, como cartões de crédito e empréstimos não garantidos, disse o Banco Central em relatório.
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