Com a iminente aplicação de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras — o índice mais alto previsto pelo atual governo americano em sua série de renegociações tarifárias —, o Brasil corre o risco de sofrer perdas expressivas em setores importantes, como agronegócio e indústria.
Apesar dos esforços diplomáticos liderados pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, o país permanece à margem de uma série de acordos celebrados para outras grandes economias e, até o momento, não obteve nem adiamento da medida nem condições diferenciadas para suas exportações.
No domingo (27), a União Europeia chegou a um acordo com Trump, que fará o bloco pagar tarifas de 15% sobre a maior parte de suas exportações, inclusive automóveis.
Veja, a seguir, lista de países e blocos que já fecharam acordos de redução de tarifas com os EUA:
- União Europeia: A tarifa sobre exportações para os EUA caiu de 30% para 15%. Em troca, o bloco europeu se comprometeu com grandes investimentos (US$ 600 bilhões nos EUA e US$ 750 bilhões em compras de energia).
- Reino Unido: Redução de 10% na tarifa para os seus produtos, com autorização para o setor aeroespacial e cotas definidas. Tarifa média para produtos americanos baixa de 5,1% para 1,8%.
- Japão: As tarifas para exportações japonesas diminuíram de 25% para 15%. Compromisso de US$ 550 bilhões em investimentos nos EUA e abertura do mercado japonês para produtos agrícolas e automotivos americanos. Tarifa sobre aço e alumínio foi mantida em 25%.
- China: Tarifas reduzidas temporariamente para 30% sobre exportações chinesas para os EUA (antes era 145%), e 10% para produtos americanos na China. Validade de 90 dias enquanto seguem as negociações.
- Vietnã: Redução de tarifas para produtos vietnamitas de 46% para 20%. Produtos de terceiros países (reexportados pelo Vietnã), a tarifa é de 40%. O Vietnã abriu completamente seu mercado aos produtos americanos.
- Filipinas As tarifas para produtos filipinos caíram para 19%, e produtos americanos passam a ter autorização total no país. O acordo também prevê ampliação da cooperação militar.
- Indonésia: Redução de tarifas para produtos indonésios de 32% para 19%, e eliminação de 99% das tarifas locais para produtos americanos. País asiático assumiu o compromisso de US$ 15 bilhões em compras de produtos dos EUA nos próximos dois anos.
Índia, Coreia do Sul, Argentina, Malásia, Taiwan e Bangladesh ainda negociam acordos com os EUA e buscam evitar sobretaxas e obter condições equivalentes.
Trump afirmou em entrevista à imprensa que está “olhando acordos com três ou quatro outros países”, mas que, “na maior parte”, nações com economias menores ou relações comerciais menos significativas receberão cartas simplesmente estabelecendo as alíquotas.
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Entenda
O “tarifaço” imposto por Donald Trump consiste na aplicação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, medida prevista para 1º de agosto. Essa alíquota é mais que o dobro do que foi negociado com outros grandes parceiros comerciais dos EUA.
O impacto deve ser profundo para o Brasil: os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações nacionais, respondendo por cerca de 12% das vendas externas do país em 2024 (aproximadamente US$ 40 bilhões).
Com uma tarifa de 50%, produtos brasileiros — de aviões a eletroeletrônicos, passando por produtos agrícolas — tendem a perder competitividade, levando as empresas a cortar a produção e a buscar mercados alternativos, ainda com dificuldades para redirecionar o volume exportado no curto prazo.
Trump justificou, em comunicado publicado pela Casa Branca, que o Brasil impõe barreiras injustas e que isso teria causado um “déficit comercial insustentável” para os EUA que, agora, será compensado com o tarifaço.
Mas as tarifas contra o Brasil também têm sido lidas como uma retaliação à atuação da Justiça brasileira em processos que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump e atualmente submetido a uma série de medidas cautelares em razão de investigações relativas à articulação de um suposto complô golpista após a eleição de 2022.
As apurações também sugerem indícios de coação, obstrução de Justiça e possíveis atentados à soberania nacional, inclusive por meio de articulações internacionais para pressionar o STF e autoridades brasileiras.