Economia
Quem é o que pensa Scott Bessent, secretário do Tesouro anunciado por Trump
Bessent já criticou presidente do Fed e defendeu aumento de tarifas
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, disse nesta sexta-feira (22) que escolheu o proeminente investidor Scott Bessent como secretário do Tesouro, um cargo-chave do gabinete com grande influência sobre assuntos econômicos, regulatórios e internacionais.
“Estou muito satisfeito em nomear Scott Bessent para servir como o 79º Secretário do Tesouro dos Estados Unidos”, disse Trump em uma declaração divulgada no Truth Social. “Scott é amplamente respeitado como um dos principais investidores internacionais e estrategistas geopolíticos e econômicos do mundo.”
Wall Street tem observado atentamente quem Trump escolheria, especialmente devido aos seus planos de reformular o comércio global por meio de tarifas e estender e potencialmente expandir a série de cortes de impostos promulgados durante o primeiro mandato de Trump.
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Scott Bessent, veterano gestor de fundos hedge e escolhido por Donald Trump para ser o próximo secretário do Tesouro, defende tarifas, um “presidente sombra” para o Federal Reserve e, talvez, um dólar mais fraco.
Se for confirmado pelo Senado, Bessent terá um vasto campo de atuação: supervisionar o financiamento público, sanções econômicas e o IRS (a Receita Federal dos EUA); engajar-se na diplomacia econômica internacional; e ajudar a garantir o funcionamento adequado dos mercados financeiros. Atualmente à frente do fundo macroeconômico Key Square Group LP, Bessent será peça-chave na implementação da agenda do presidente eleito, que inclui renovar parte dos cortes de impostos de 2017 que expiram no próximo ano e afrouxar regulações financeiras.
Confira abaixo um resumo das posições de Bessent ao longo do último ano sobre políticas que podem moldar a economia dos EUA.
Federal Reserve
Trump já declarou que o presidente deveria ter alguma influência sobre as taxas de juros e a política monetária, uma posição que enfraqueceria a independência tradicional do banco central em relação ao Executivo. Bessent parece concordar, tendo inclusive criticado o Federal Reserve em setembro após um grande corte na taxa de juros.
“Se você estivesse preocupado com a integridade da instituição, não teria feito isso. Especialmente, não teria feito um corte tão agressivo. Em termos de reputação, tudo é questão de imagem… me diga, em que planeta é concebível que esperar dois meses faria diferença, em comparação com a integridade da instituição”, disse ele à Bloomberg News em 11 de outubro.
Bessent também terá um papel importante na escolha de um substituto para o presidente do Fed, Jerome Powell, cujo mandato termina em maio de 2026, além de ao menos três outras nomeações para o conselho nos próximos quatro anos. Trump já cogitou demitir Powell, mas Bessent apresentou uma ideia nova.
Em entrevista à Barron’s, Bessent disse que a nomeação do substituto de Powell poderia ser feita “mais cedo, criando um ‘presidente sombra'”. “E, com base no conceito de ‘orientação futura’, ninguém mais se importaria com o que Jerome Powell tem a dizer”.
“Se você acredita que orientação futura é algo positivo, por que não dar orientação futura sobre quem será o presidente do Fed? Você poderia fazer uma das duas coisas: o atual presidente do Fed poderia ser reconduzido, criando um caminho de continuidade, ou o novo nomeado poderia oferecer orientação além do prazo de validade do atual presidente.” — Bloomberg Radio, 11 de outubro.
Tarifas
Trump prometeu impor novas tarifas massivas, com taxas de 10% a 20% sobre todos os produtos estrangeiros e de 60% ou mais sobre produtos da China. Durante a campanha, ele também ameaçou aplicar tarifas ainda maiores a países e produtos específicos.
Embora Bessent tenha sugerido, em alguns momentos, que Trump adota uma abordagem maximalista como tática de negociação, ele demonstrou forte apoio às tarifas em um artigo de opinião para a Fox News, publicado em 15 de novembro.
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“Por muito tempo, a sabedoria convencional rejeitou o uso de tarifas como ferramenta tanto econômica quanto de política externa. No entanto, assim como Alexander Hamilton, não deveríamos ter medo de usar o poder das tarifas para melhorar a vida das famílias e empresas americanas.”
“As tarifas também são uma ferramenta útil para alcançar os objetivos de política externa do presidente. Seja para fazer com que aliados gastem mais com sua própria defesa, abrir mercados estrangeiros para exportações americanas, garantir cooperação no combate à imigração ilegal e ao tráfico de fentanil, ou deter agressões militares, as tarifas podem desempenhar um papel central.”
Mercados
Secretários do Tesouro tradicionalmente evitam atribuir ganhos de mercado às ações de seus superiores, já que isso implicaria em assumir a culpa em momentos de queda. No entanto, Trump gosta de alardear quando os mercados sobem. Em um artigo de opinião no Wall Street Journal, em 11 de novembro, Bessent desempenhou esse papel para Trump.
“Os preços de ativos são voláteis, e o desempenho econômico de longo prazo é a verdadeira medida. Mas os últimos dias provaram o apoio inequívoco dos mercados à visão econômica do Trump 2.0. Os mercados estão sinalizando expectativas de maior crescimento, menor volatilidade e inflação, além de uma economia revitalizada para todos os americanos.”
“A alta nos mercados acionários foi particularmente incomum, dado que as taxas de juros também subiram. A combinação da curva de juros mais inclinada, expectativas de inflação estáveis e a alta nas ações indica que os mercados esperam que a agenda de Trump promova um crescimento não inflacionário que impulsione o investimento privado.”
Política Cambial
Trump aprecia o papel do dólar como moeda de reserva global e o poder econômico e geopolítico associado a isso. Contudo, ele também quer uma taxa de câmbio fraca o suficiente para beneficiar o setor manufatureiro dos EUA. Esse equilíbrio pode se tornar um pilar de sua agenda econômica, e como secretário do Tesouro, Bessent supervisionará a política cambial dos EUA.
“A moeda de reserva pode subir e descer de acordo com o mercado. Eu acredito que, se você tem boas políticas econômicas, naturalmente terá um dólar forte.” — Financial Times, 13 de outubro.
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“É uma reação de mercado, e ele [Trump] entende que tarifas causam um dólar mais forte, então um dólar mais fraco com tarifas é uma anomalia econômica. O que podemos ver é o chamado sorriso do dólar. O que temos agora são juros altos, um déficit elevado e inflação acima da meta. Se a inflação cair… as taxas de juros podem diminuir, e você teria uma desvalorização do dólar baseada no mercado. Mas uma política deliberada de dólar muito fraco, eu não esperaria.” — Bloomberg TV, 5 de novembro.
“A eleição de Trump gerou o maior aumento diário do dólar em mais de dois anos, e o terceiro maior da última década. Isso é um voto de confiança na liderança dos EUA no cenário internacional e no dólar como moeda de reserva global.” — Wall Street Journal, 11 de novembro.
Dívida e Impostos
Bessent também será responsável pela gestão da dívida pública dos EUA, que chega a quase US$ 29 trilhões. Ele afirmou que Trump buscará reduzir os déficits orçamentários federais para 3% do PIB, frente aos cerca de 6,2% no final do último ano fiscal.
“Acho que vamos fazer isso por meio da desregulamentação, da dominância energética e da reprivatização da economia… Acho que uma prioridade será desligar o [Ato de Redução da Inflação]… Não acho que ninguém terá problema em desacelerar ou cortar esse IRA.” — CNBC, 6 de novembro.
Sobre a emissão de títulos de prazo ultra longo, Bessent afirmou em entrevista à Bloomberg, em 7 de junho: “Quando as taxas estão muito baixas, você deve alongar a duração. Acho muito infeliz o que a secretária Yellen está fazendo. Ela está financiando no curto prazo, fazendo uma aposta em operações de carry trade, o que não é uma boa gestão de risco.”
Bessent também terá um papel fundamental na renovação dos cortes de impostos de 2017, uma das marcas do governo Trump, muitos dos quais expiram em 2025.
“Já conversei com muitos republicanos que presidirão esses comitês, e posso dizer que no Congresso republicano, especialmente na Câmara, há um grande apetite por contrapartidas. Será uma negociação.” — CNBC, 6 de novembro.
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