Economia
Ranking mostra as cidades mais caras para comprar ou alugar imóvel
Entre as brasileiras, Salvador é onde o aluguel consome mais renda; Rio é onde a compra é mais custosa.
Em Salvador, as famílias que moram de aluguel gastam, em média, quase 56% de sua renda com essa despesa. Já entre as que buscam comprar um imóvel, o Rio de Janeiro é o local onde isso será mais custoso no Brasil: serão necessários recursos equivalentes a mais de 10 anos de renda familiar para a aquisição do bem.
Os dados fazem parte “O mercado residencial na América Latina”, feito pelo QuintoAndar com dados de 12 das cidades mais populosas da região. A pesquisa considerou a renda média das famílias nessas cidades e o valor dos imóveis para medir onde é mais custoso comprar ou alugar um apartamento.
O resultado é que, para o aluguel, a Cidade do México ficou com a pior colocação, com quase 98% da renda familiar comprometida. Entre as brasileiras, o índice mais alto foi o de Salvador, enquanto Belo Horizonte figurou com o custo mais baixo da lista, de 24% da renda familiar destinada ao aluguel. Veja abaixo:
O percentual de 30% da renda familiar é o que a maioria dos especialistas apontam como ideal para ser destinado para as despesas com moradia. Tendo em vista que esse número deve incluir todos os gastos (ou seja, impostos, condomínio e outras despesas além do aluguel), é possível constatar que nenhuma das cidades mais populosas da América Latina apresenta média considerada adequada.
Ainda assim, com exceção de Salvador, as cidades brasileiras monitoradas pela pesquisa mostraram resultados mais baixos que as demais. “A gente está ‘menos pior’ do que o resto da América Latina”, diz Vinicius Oike, economista do QuintoAndar.
Para compra de imóvel, o cenário é parecido. Isso porque, considerando as cidades onde são necessários mais anos de trabalho para a aquisição do bem, o Brasil não aparece entre as primeiras colocadas.
Segundo a pesquisa, o local onde comprar um apartamento é mais custoso é em Quito, no Equador. Por lá, é necessário o equivalente a 16 anos de renda familiar, em média, para a aquisição do bem. Em seguida aparecem Lima, no Peru (13 anos), e Cidade do México (11,8 anos). Veja abaixo:
Para Oike, o modelo do mercado de trabalho nos variados países é um dos principais fatores por trás da diferença entre Brasil e os demais nos custos de moradia. “O que ajuda a explicar é o peso do mercado informal versus o mercado formal nesses países. Ainda que, no Brasil, o mercado informal tenha um peso relevante, ele não é tão grande quanto em certas cidades nos países que a gente analisou”, diz ele.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de informalidade no trimestre encerrado em julho foi de 39,8% da população ocupada no Brasil. O número de trabalhadores informais chegou a 39,3 milhões no período.
Ainda na análise dos custos para comprar imóveis, Oike diz que a exceção é a Cidade do Panamá. “É uma cidade com uma demanda muito forte de casas de veraneio. Pega um lado de demanda estrangeira. Então, é um mercado um pouco diferenciado. Até o fato de os imóveis já estarem em dólar atrai ainda mais a demanda de norte-americanos.”
Outros dados da pesquisa
Além dos custos de moradia, o estudo do QuintoAndar também levantou outros dados sobre as diferenças em diversas cidades. Entre os mais curiosos estão os critérios buscados por consumidores à procura de um lar, que revelam as diferenças culturais entre cada local.
Nos filtros de busca utilizados no momento da procura, em Curitiba e Porto Alegre, por exemplo, o mais utilizado é “churrasqueira”, enquanto em São Paulo e no Rio de Janeiro é “próximo ao metrô”.
Veja abaixo os três filtros mais buscado em cada cidade brasileira monitorada pela pesquisa:
Cidade | Filtro #1 | Filtro #2 | Filtro #3 |
Belo Horizonte | Elevador | Portaria 24h | Churrasqueira |
Brasília | Elevador | Próximo ao metrô | Acesso para deficientes |
Curitiba | Churrasqueira | Portaria 24h | Área verde |
Porto Alegre | Churrasqueira | Portaria 24h | Elevador |
Rio de Janeiro | Próximo ao metrô | Churrasqueira | Campo de futebol |
Salvador | Portaria 24h | Churrasqueira | Próximo ao metrô |
São Paulo | Próximo ao metrô | Quadra de tênis | Área verde |
Preços dos imóveis: de volta a 2010
O estudo observou ainda a variação dos preços dos imóveis nos últimos anos e, no Brasil, destacou que eles retornaram ao nível de 2010. Oike credita esse movimento, entre outros fatores, à redução da demanda em algum momento.
“Talvez não tanto pelo lado dos juros, mas pelo lado da inflação, a gente observa um aumento do custo de vida, que está atrelado a uma redução do poder de poupança e comprometimento de renda das famílias. O que reduz a demanda imobiliária”, afirma o economista.
Ele avalia os preços medidos pelo Índice de Valor de Garantias Reais (IVG-R), que estima a tendência de preço de longo prazo dos valores de imóveis residenciais no Brasil utilizando informações do Sistema de Informações de Crédito (SCR) do Banco Central.
Diante dos números, Oike aponta outras causas possíveis para o comportamento dos preços dos imóveis nos últimos anos. “Em grande parte, isso foi um movimento de desaceleração dos preços começando em 2014, 2015, em que a gente vê mesmo os preços nominais caindo bastante. Esse é um período em que, também, a inflação acelera. Em 2015 e 2016 tivemos bastante inflação.”
“Mesmo depois, quando os preços começam a voltar em 2017 e 2018, a taxa Selic começa a cair um pouco mais, a gente começa a ver o princípio do boom imobiliário que a gente vai ter alguns anos depois. Os preços aumentam bastante, mas não compensa toda a queda anterior”, continua ele.
“Alguns economistas até argumentam que uma boa parte do aumento e preços que a gente viu nos imóveis seria um pouco a correção de mercado, porque os preços estavam muito defasados, muito represados em relação ao que eles poderiam ser”, resume o economista do QuintoAndar.
Veja também:
- Ranking das 227 cidades mais caras do mundo tem 5 brasileiras