Um café da manhã tipicamente americano precisa ter panqueca, ovos com bacon e OJ, as iniciais de orange juice – suco de laranja. O consumo é de 9 litros por pessoa por ano; contra 0,4 no Brasil.
E de cada dez copos consumidos por lá, 5,3 vêm de laranjas plantadas em Minas Gerais e São Paulo, transformadas em suco nas fábricas daqui. Não importa a marca gringa: Tropicana, Minute Maid, Simply Orange… Todas são clientes do suco do Sudeste brasileiro.
E agora ele entrou no fogo cruzado da guerra tarifária.

Por enquanto, o cenário é aquele: produtos da China pagam 145% para entrar nos EUA; os do resto do resto do mundo, até segunda ordem, 10%. Todo o resto do mundo? Não.
Não. Canadá e México, de um lado, pagam 25%. De outro, 0%. Puro suco de Trump. Expliquemos brevemente, então, essa esquizofrenia tributária.
A tarifa zero vale para a lista de produtos que fazem parte do USMCA, nome atual do velho acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá. A de 25% é a tal “tarifa para o combate ao tráfico de fentanil” (sobre a qual não vamos falar aqui, para manter este texto suportável).
O que importa: a imensa maioria dos produtos canadenses e mexicanos faz parte do USMCA. No caso do alimentos, mais de 90%.
E isso nos traz de volta às laranjas. A produção americana, que rola principalmente na Flórida, só dá conta de 18% da demanda local. E o maior fornecedor de fora, vimos, é o Brasil. Em termos de valor: de US$ 1,75 bilhão que os EUA importaram, o Brasil respondeu por 64,7%. E nosso rival nesse mercado é o México, que ficou com 29,6% (outros 45 países foram responsáveis por um chorinho de 5,7%). Veja aqui:
Agora, com o Brasil pagando 10% de tarifa e o México, zero, eles ficam com as portas do mercado americano escancaradas.
Para o Brasil, a perda potencial é grande: 80% de todas as laranjas colhidas nas lavouras brasileiras são destinadas à produção de suco para o exterior. Respondemos por três quartos da exportação global, de acordo com a CitrusBr, a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos.
Entre abril de 2024 e março de 2025, dados do governo federal analisados pelo InvestNews mostram que 82 países compraram suco de laranja brasileiro. A receita chegou a US$ 3,5 bilhões.
Só que grossos 35,4% do nosso faturamento com exportação vem dos EUA. Seja qual for o impacto da tarifa no total de exportações, então, ele tende a ser relevante.
Uma saída possível: os exportadores brasileiros de suco pegarem uma carona nas regras do USMC. Para cada litro de suco que um produtor mexicano vende para os EUA, até 60% do blend ali dentro pode ter liquido vindo de outros países. Caso isso aconteça, a origem do suco extra provavelmente será o Brasil, simplesmente por conta do volume que produzimos.
A ver o que o futuro reserva. Já que, em se tratando das tarifas de Trump, tudo pode acontecer.
Agradecimento: Ibiapaba Netto, diretor executivo da CitrusBr