Desde que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA prometendo tarifas amplas tanto para aliados quanto para rivais geopolíticos, Wall Street tem se perguntado: "Ele vai ou não vai?". Enquanto a reação inicial do mercado foi de cautela, o sentimento está mudando à medida que as políticas do governo se tornam cada vez mais confusas, com atrasos e isenções misturando-se ao discurso agressivo da administração.
O que os investidores estão fazendo? Ignorando o ruído e comprando ações.
Embora o risco de uma guerra comercial global continue alto após Trump anunciar tarifas de 25% sobre aço e alumínio a partir de março e sanções recíprocas esperadas para abril, os índices de ações continuam subindo. O S&P 500 encerrou a semana passada perto de seu recorde histórico. No Brasil, idem: o Ibovespa fechou em alta de 2,89%.
A grande questão é se os investidores estão avaliando corretamente as próximas ações de Trump ou se estão ignorando riscos perigosamente.
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"À medida que os investidores percebem que as tarifas provavelmente não serão tão punitivas quanto o esperado, isso acaba sendo uma boa notícia", disse Andrew Slimmon, gestor da Morgan Stanley.
No entanto, Slimmon ressalta que o sentimento do mercado ainda reflete medo. Ele também aponta que uma parte considerável do recente fluxo para ações vem de investidores mais frágeis, mais sensíveis a choques, tornando o mercado cada vez mais reativo a manchetes. Um índice de incerteza comercial atingiu o maior nível desde 2019, quando outra guerra comercial estava em andamento.
Sinais de volatilidade
Apesar da possibilidade de maior volatilidade, os investidores ainda não estão se preparando para isso. Dados da Commodity Futures Trading Commission (CFTC) mostram que fundos hedge e outros grandes especuladores mantêm posições vendidas no índice de volatilidade VIX há 16 semanas consecutivas. O volume dessas apostas atingiu 59 mil contratos, um nível semelhante ao da crise de julho do ano passado, que precedeu uma forte queda no mercado.
"Quando incerteza e volatilidade estão altas, o mercado normalmente não continua renovando recordes", disse Adam Turnquist, estrategista da LPL Financial.
Wall Street começa a demonstrar preocupação. O Goldman Sachs alertou que as tarifas representam risco significativo para o mercado em 2025. O Bank of America apontou que a fragilidade das ações dentro do S&P 500 atingiu o nível mais alto em 30 anos. Já a Evercore ISI indicou que a falta de clareza nas políticas começa a pesar sobre o sentimento dos investidores.
Enquanto isso, grandes empresas também estão cautelosas. A Ford Motor Co. declarou na semana passada que as tarifas de 25% sobre importações do México e Canadá, adiadas para 4 de março, podem prejudicar severamente a indústria automotiva dos EUA. Além disso, Trump anunciou que deve revelar novas tarifas para automóveis em 2 de abril.
Bolsa resiliente ou vulnerável?
Apesar do rali das ações, há sinais de fragilidade. O S&P 500 subiu 1% após Trump anunciar tarifas recíprocas, mas 40% do avanço veio apenas de três ações: Nvidia, Apple e Tesla. Isso reflete um fenômeno crescente: as grandes empresas de tecnologia estão impulsionando os ganhos do mercado, enquanto o restante das ações tem desempenho desigual.
"O mercado parece estar ignorando parte do risco tarifário", disse Eric Lascelles, economista-chefe da RBC Global Asset Management. "Acho que ninguém está precificando tarifas universais de 25%, mas um cenário de tarifas mais altas já está no radar."
(Esha Dey)